O aborto é inaceitável

O ABORTO É INACEITÁVEL
Miguel Carqueija


Se não vivêssemos em tempos superficiais, repletos de mentiras e meias-verdades e onde as pessoas não aprendem a fazer as relações necessárias, não se compreenderia a feroz defesa do feticídio que se vê a toda hora nos meios de comunicação.
E numa época em que fala tanto contra o machismo, é paradoxal que o aborto, bandeira e marca registrada dos machistas, tenha tanta defesa na mídia e proteção em tantas legislações.
De fato, habitualmente dizem os abortistas que aborto “é direito da mulher” e utilizam a falácia das mortes de gestantes em clínicas clandestinas, como se elas não morressem de forma terrível nas legalizadas. O filme “Bloody money” (Dinheiro de sangue), produzido nos EUA em 2012, exibido no Brasil com o título “Aborto legalizado”, revela bem isso. Uma mulher que fôra dona de abortório mas se encontrava arrependida, revela um caso escabroso ocorrido em sua clínica, quando, diante da hemorragia gravíssima de uma paciente (que acabou falecendo) levou-a até um hospital... o transporte foi efetuado no próprio carro dessa “empresária” porque, como ela explicou, não há ambulâncias em portas de abortórios, já que pega mal...
O verdadeiro motivo de sermos contra o aborto costuma ser ignorado pelos abortistas: o bebê de ventre é um ser humano, com pleno direito à vida. Aborto provocado é homicídio no sentido lato da palavra. Mas, dizem os abortistas (geralmente pessoas ligadas às esquerdas): não é um ser humano! Ainda não nasceu! Recentemente topei até com o “argumento” de que o feto (eles sempre evitam o termo “nascituro” para não dar conotação humana ao concepto) não tem cérebro e que portanto não é vida, mas “pré-vida”. Afora a agressividade com que se referem aos pró-vida, como se fôssemos grupos de fanáticos obscurantistas (imaginem, ser a favor da vida é obscurantismo), evitando o diálogo elevado, são ridículos esses argumentos. Ou é vida ou não é: pré-vida não é um conceito científico e não o encontrei em nenhum livro de Ciência. Quanto ao cérebro é o caso de perguntar: quer dizer que, ao dar-se o parto, o cérebro aparece num passe de mágica? E o que dizer dos prematuros, visto que um nascituro pode ser parido prematuramente com seis meses, sobreviver e viver até os 100 anos. Se ele não tivesse cérebro morreria, não acham? As pessoas precisam entender a porta que o feticídio abre. A cultura da morte não se limita ao nascituro. Na Inglaterra, conforme denúncia do Professor Felipe Aquino, já se pratica o aborto após o parto (sic). Esse era, aliás, o objetivo final dos médicos nazistas, como revelado no livro “Bebês para matar: a indústria do aborto na Inglaterra”, de Michael Litchfield e Susan Kentish.
Omite-se geralmente o fato óbvio de que o aborto é coisa de machistas. É o homem machista e libertino que leva a mulher a praticar ou tentar esse recurso. Sobre isso recomendo a leitura do romance “Clara dos Anjos”, clássico de Lima Barreto. De fato o homem fátuo, leviano e negligente de seus deveres gosta de procurar mulheres ocasionais para o sexo, inclusive mocinhas virgens e ingênuas que ele seduz com falsas promessas e declarações românticas, mas nem sonha em assumir responsabilidades paternas. E esse machismo repulsivo leva tantas moças e garotas a abortarem por desespero (ou serem forçadas a isso pela família). E esse é um ponto que as feministas, tão radicais na defesa do abortamento, não costumam abordar: que inúmeras mulheres são forçadas (às vezes até com espancamento, sequestro até o abortório ou ameaça de morte) a praticar o ato. Quando não é isso, são pressões psicológicas poderosas. No filme em questão uma mulher se queixa que, no seu caso, a pressão foi tão grande, que o assunto foi colocado como vital, como uma obrigação que ela tinha, um dever. Mas, quando resolveu se dirigir ao abortório, ninguém sequer a acompanhou para dar apoio moral... e lá chegando disseram-lhe: “Em 10 minutos você esquecerá tudo.” Comentário da depoente: “Dez minutos? Eu estou há vinte anos no inferno!” É outra coisa que os abortistas e aborteiros evitam comentar, mas são incontáveis os depoimentos de mulheres que passaram pela triste experiência de matar sua prole e se viram atingidas pela síndrome pós-aborto, um remorso que acompanha pelo resto da vida... e só pode de fato ser superado por uma conversão religiosa, pedir perdão sincero a Deus, mudar de vida (algumas dessas mulheres tornaram-se militantes contra o feticídio).
Do ponto de vista jurídico pode-se afirmar que o abortamento é uma completa aberração do Direito. Isso porque o direito à vida não é como o trabalhista. Este se adquire ao longo dos anos, na vivência profissional; o direito à vida é inato, congenial ao ser humano. Já somos portanto gerados com esse direito; negá-lo ao nascituro equivale, em tese, a condenar toda a humanidade à morte. Outro ponto a assinalar é que, habitualmente, os mesmos que combatem ferozmente a pena de morte manifestam-se favoráveis ao aborto, ou seja, à pena de morte para inocentes. Quer dizer, um criminoso hediondo, que sequestra, barbariza, estupra e mata uma criança de três anos não pode ser executado, sob a ridícula argumentação de que “todo o ser humano é passível de regeneração”; mas um bebê inocente pode! Existe maior inversão de valores???
Outro fato relevante é o aborto seletivo contra meninas, largamente praticado no mundo atual, especialmente na Ásia, mas também no Ocidente. Esse machismo assassino baseia-se na definição do sexo pela ultra-sonografia — uma tecnologia que, a rigor, deveria incutir maior respeito à vida nascente, por revelar em imagens a maravilha da vida intra-uterina. Paradoxalmente, tem ser vido ao aborto machista: quando a ultra revela tratar-se de menina, matam. Depois vem as feministas gritando que o aborto é um “direito da mulher”, o que me parece ser, na verdade, o direito que as mulheres têm de ser exterminadas. Pois é essa a crua verdade: graças ao aborto seletivo, a maior parte das vítimas fatais de abortamentos são do sexo feminino.
Por certo, não se trata de negar os problemas que podem advir de uma gravidez não esperada ou desejada; entretanto matar o bebê corresponde a uma solução pior do que o problema; e que homens e mulheres nós somos, que devamos “solucionar” problemas sociais ou econômicos matando crianças? Isso não existe e nos coloca, em termos de civilização, abaixo dos aztecas, que sacrificavam seres humanos a uma divindade pagã, e o sacerdote extraía o coração da vítima a frio... a civilização abortista, matando centenas de bebês por ano com os métodos horrorosos dos abortórios (sucção, morte por dilaceramento total...) faz pior que isso.
E é mentira da campanha abortista dizer que ser contra o feticídio não passe de posição religiosa. Mesmo os ateus têm a obrigação de se opor ao homicídio, ainda mais de inocentes indefesos. A questão não é de religião e nem de saúde pública: é de Justiça com J maiúsculo.

Rio de Janeiro, 20 de julho de 2016.



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