Marias

Marias

Uma mulher que vivia cercada de sofrimentos pensando que por Deus tinha sido esquecida, pois há tempos seu rosto não sabia o que era um sorriso.

Sempre viveu com sua mãe, uma mulher guerreira que lhe ajudava em tudo dando forças e apoiando e assim caminhando juntas na criação dos filhos, mas Deus pegou sua mãe pelos braços e a levou consigo deixando a pobre mulher sem imunidade para enfrentar a vida.Era preciso prosseguir ninguém pode questionar as leis divinas, no entanto, um mês depois, ainda fragilizada com a perda e preocupada com a filha aborrescente e rebelde que sempre ia e voltava de casa envolvida com o tráfico de drogas acabou deixando a família de vez...

La uma vez ou outra alguém dava notícia de tê-la visto em algum lugar, claro que não era o suficiente para tranquilizar uma mãe, mas só de saber que ela estava bem já deixava pelo menos trabalhar em paz. E em um dos momentos de lucidez a menina ligou para a mãe depois de saber da morte da avó e falou que queria voltar para casa e estava decidida e que desta vez seria diferente, estava disposta a mudar de vida trabalhando e ate seguindo uma religião.Ambas trocaram lágrimas e declarações. Assim que desligara o telefone com o coração apertado de dor ainda conseguiu sorrir ao imaginar a mudança repentina da filha que estará de volta no dia seguinte à noitinha assim que ela ela chegasse do trabalho. Trabalho esse que assustava muitas pessoas a maioria das mulheres não suportaria, mas era preciso, a necessidade obriga muitos a não escolher a profissão.

Esta mulher por nome de Maria tinha conhecidas formadas em pedagogia e trabalhavam de doméstica deixando na gaveta o diploma mostrando claramente que a situação estava difícil pra todo mundo.Mara trabalhava na área da limpeza em um serviço pouco visado ou desconfortável no Instituto Medico Legal, apesar do lugar de ambiente sombrio e pesado pela falta de vida conseguia trabalhar normalmente e interagia com os colegas que além de respeita - la admiravam tamanha força . Bem cedo do lado de fora do patio onde tomavam café e pegava um solzinho, todos perceberam um certo brilho no olhar que foi confirmado com a noticia da volta da filha que estará em casa assim que ela chegasse la e não via a hora. Contando os minutos não travam os olhos do relógio que convidava não só ela, mas todos para o retorno do trabalho cada um com sua função.

A cancela abriu e mais um rabecão passou...

Os rapazes reclamaram com risadas “agora que chegamos vocês saem, por acaso ainda tinha sobrado algum café”. Era de praxe se cumprimentar com um toque de mãos nos meninos e um abraço nas meninas da limpeza e desta vez Maria fora ignorada por um deles o amigo mais íntimo. Não só ela percebeu, ninguém se atreveu a perguntar, ela pensou o que teria acontecido e acabou indo perguntar o que houve, talvez fosse mais uma das fofocas que sempre apareciam no trabalho. Ele deu um sorriso seco amarelo para os outros, mas Maria ele não olhou nos olhos nem cumprimentou se desviando dela que não entendia o descaso e ainda argumentou com um vocabulário inesperado perguntando para os demais:

Oque que é gente, eu tô cagada, tô mijada ou com alguma doença contagiosa? E mais uma vez foi ignorada.

Maria sempre foi uma negra linda, esbelta e vaidosa com seus cabelos com trancinhas modernas lhe deixava ainda melhor, nem aparentava ter 36 anos, mas apesar de jovem fugia de qualquer relacionamento, não só por falta de interesse ou tempo, mas não tinha cabeça pra isso depois de se separar do marido que bebia e a maltratava isto não era motivo para um colega desviar-se dela.Maria o sacolejou pelos ombros insistindo que olhasse para ela ou falasse alguma coisa e ele finalmente olhou em seus olhos com os dele avermelhados e lacrimejados disse:

“seja forte minha amiga, sei que a vida não tem sido fácil pra você, mas...acabei de recolher o corpo da sua filha no beco da luz”. E ela não se manteve forte, desmaiou ali mesmo e foi amparada pelos colegas que chamaram o medico legista de plantão, o único para dar uma olhada e assim que se recuperou tomou folego e os acompanhou ate o gavetão onde estava à menina de apenas dezessete anos. Foi morta com mais ou menos cinco tiros, mas nenhum atingiu o rosto de um jeito que pode ser reconhecida por todos logo após o assassinato e assim puderam agilizar com os procedimentos legais .

Três dias depois...

Maria tentava levar uma vida normal após a licença do luto, ou dos lutos, já que agora já não era uma e sim duas percas e ainda não estava totalmente apta para o retorno seguida de uma depressão, havia pendencias em sua carga horaria ate então entendida e aceita por todos ja que resolveram ajudar na medida do possível.

Ela contou parte da sua triste historia mostrando os documentos como RG, CPF e carteira de trabalho da filha e ainda com olhos chorosos e molhados já estava novamente na luta.Na quase quilométrica fila do presidio da gameleira onde era esperada sua vez para entregar pertences do seu único filho de 19 anos que foi preso no escadão perto de casa juntamente com outros rapazes que certamente não estavam rezando, mas João estava sem documentos no momento e junto foram encontrados armas e drogas. Há que diga que João era inocente, estava no lugar errado e na hora errada, porem, se estivesse em casa consolando sua mãe que por tanta tristeza tinhas olhos fundos de três noites sem dormir. Claro que abraço não ia trazer sua irmã de volta, mas abraço apertado de quem amamos ameniza dores e isso é fato confirmado em pesquisas feita de boca a boca de outras mães em desabafos e relatos de uma para a outra.

A mãe de Maria também era uma Maria, e a filha de Maria também era outra Maria, porém, Clara.

Mayala Morenna