TOC: conhecer para tratar melhor

Lembro-me agora, daqueles tantos momentos angustiantes. Eu, como um prisioneiro em uma cela, obedecendo a impulsos para diminuir a ansiedade. Tudo começou, segundo minha memória, por volta dos dez, onze anos, com pensamentos intrusivos que para serem evitados eram postos sobre a realização irracional, por vezes surreal-diriam certas pessoas-de atos repetitivos. Passar creme hidratante nas maçanetas das portas. No banho, tirar as roupas por ordem de preferência das pessoas que as tinham me presenteado. Assistir a todas as telenovelas da rede Globo, dançando ao redor de uma mesinha de centro da sala, mexendo na cortina por três vezes, decorando e cantando a música tema das aberturas. Não deixar que minha irmã abrisse a janela do meu quarto para sua limpeza semanal. Ir para a escola exatamente às 07 horas e 20 minutos da manhã. Ao voltar da escola, retirar os livros, cadernos, enfim, todo e qualquer material escolar, depositando-os meticulosamente em diferentes locais da escrivaninha de estudos, depois repousar os tênis alinhadamente em um canto específico do quarto, deixando o calçado correspondente ao pé direito mais à frente do que o esquerdo, depois sublinhar no calendário, a data ao dia correspondente. Somente depois almoçar. Arranjar o tapete do quarto de modo que a cor verde ficasse em primeiro plano à cor preta. Etc, etc, etc.

O que essas ações diferem do que se costuma nomear como manias? O simples, mas pesaroso fato de que se não cumpridas, algo muito ruim iria acontecer. Algo catastrófico poderia interferir no bom andamento da vida. Aos vinte anos, finalmente, saber que longe da loucura, havia uma explicação para esse sofrimento todo. Então, levar a vida matando vários, não apenas um leão por dia. Leões são esses pensamentos ruins, intrusivos e recorrentes diante de situações estressantes. Leões que vem sendo mortos desde então, mas que às vezes ressurgem como reis da floresta, rugindo forte, arranhando fundo, dilacerando-me como uma presa fácil. A esses leões todo o meu ódio! Dos dois tipos de leões (sim, eles têm nomes), livrei-me dos primeiros quase que completamente. Os outros ainda balançam suas jubas sobre o meu rosto. Os outros ainda apoderam-se de mim como um filhote indefeso. Os outros ainda me fazem caça e não caçador.

Mais um tombo, logo, mais uma queda! Os leões chegaram mais agressivos, em um bando maior. Com o entendimento e com a ajuda da família e dos amigos, a guerra contra ele foi retomada. Aos poucos, faço feridas pequenas no corpo desses leões. Feridas que, com a exposição prolongada às intempéries do tempo, tornam-se chagas, fazem adoecer aos leões, até causar às suas mortes. Tudo depende do tempo! Tudo melhora com o tempo! Mas tem momentos em que a pequena borboleta não consegue sozinha suportar a ferocidade dos leões. Ela precisa contar ao mundo sobre sua dor. Ela precisa notar o perfume da esperança na flor da família e na flor da amizade.

Expor-se sempre é um desafio, porém é um mal necessário, creio eu. Expor-se para que te compreendam. Expor-se para que saibam das dificuldades que você tem em realizar certas cotidianidades da vida. Expor-se para que te respeitem no que és. Expor-se para que tu continues tendo fé na vida apesar de...