O ASSOCIATIVISMO E A DIALÉTICA DIGITAL

E veio a era digital. Muitos que sonhávam sonhos analógicos, tiveram que aprender a sonhar em código binário...

É possível avistar cabeças rolando pelo despenhadeiro da tecnologia. Em pleno século XXI mortos vivos, muitos, diplomados, acordam, se alimentam, respiram, dormem, mas não têm acesso ao mundo, não se co-mu-ni-cam. Estão perdidos e não sabem como ou de que forma atuar num mercado cada vez mais competitivo e desigual ou como encontrar, nesse emaranhado de códigos e linhas invisíveis, a porta de entrada para seus interesses profissionais, intelectuais, comerciais, enfim, de que maneira coexistir.

O autor contemporâneo de dezenas de livros traduzidos para mais de 12 línguas e estudados por diferentes universidades em todo o mundo, Pierre Levy, é estudioso das implicações culturais e cognitivas das tecnologias digitais, com o objetivo de promover seus melhores usos sociais e estudar o fenômeno da Inteligência Coletiva. Segundo Levy, IC é um ecossistema de ideias que, num futuro não tão distante, será fonte de pesquisa e abastecimento de um algoritmo capaz de gerar simbiose entre comunidades de todo o mundo.

O autor defende, dentre outras propostas, a urgente necessidade da alfabetização digital de grande parte da sociedade mundial, visto que o percentual de pessoas que dominam essa linguagem ainda é pequeno. É notória no associativismo, mais precisamente no literário, a presença dos analfabetos digitais.

Atualmente para atingirmos um modelo coletivo ideal, seria necessário que as contemporâneas escolas filosóficas de Platão deixassem de ser depósitos de doutores escritores que atingiram o topo de suas carreiras literárias e estagnaram, para tornarem-se escolas alfabetizadoras para o novo mundo (o digital). Pois a partir do comprometimento de cada um desses intelectuais ao aprimoramento, estaríamos atuando como micro células do ecossistema de ideias que por seleção natural e independente de nossas vontades iria existir. Se assim for, as instituições associativistas literárias que tanto carecem incorporar o “L’esprit de corps”, se ajustadas à dialética digital de Levy, sofrerão esse processo naturalmente.

Só a nossa inteligência cognitiva decidirá a qual ecossistema de ideias iremos pertencer. Sem nos adaptarmos à era digital, estaremos fadados ao fim de nossas obras a partir de nós mesmos.