NOTA DE REPÚDIO

Já há alguns anos não tenho tempo nem paciência para acompanhar as telenovelas, no entanto, resolvi fazer um esforço para assistir à nova novela da Globo, Babilônia, ou pelo menos, programar minha tv para ficar ligada nesse período. São tantos discursos agressivos, desrespeitosos, preconceituosos. A última foi uma nota de repúdio do seu João Campos (líder da bancada evangélica no Congresso) ao beijo dado por duas atrizes de 85 anos e a solicitação de um boicote à novela e aos produtos propagados nesse horário.

O grande discurso é de que o objetivo dessa e outras novelas é afrontar o Cristianismo ou a família natural com a ideia de “outras formas de amar”. Alegam que essas imagens irão influenciar as crianças e os jovens a serem gays.

Se não fosse tão trágico, agressivo, seria cômico, imaginemos: vivemos numa sociedade heterocêntrica, onde até antes de nascermos, estamos algemados a valores machistas que nos rotulam, prendem-nos a cores (rosa/azul), brinquedos (boneca/carro), roupas (vestido/calça), comportamentos (pernas cruzadas/pernas abertas), sentimentos (fragilidade/coragem). Não lembro de um conto de fadas com dois príncipes que se casaram e foram felizes para sempre, tampouco, princesas. Nas novelas da rede globo, enquanto aparece apenas um singelo beijo de duas senhoras que se amam; os casais herossexuais praticamente transam em rede nacional. Eu questiono: quantos casais aparecem nessa novela? Desses, quantos são gays? Quantos beijos apeceram nessa novela? Desses, quantos são gays? Não precisa nem assistir BabilÔnia para saber o resultado dessas perguntas.

Aí pensemos: se o referencial massiço é heterossexual e apenas um casal gay tiver força para desviar toda a educação heterocêntrica e homofóbica que injetamos em nossos jovens, então das duas uma: ou a educação dada é muito frágil, ou a sociedade parece-me ser gay e forçadamente hétero (como se vivêssemos num imenso armário e essas poucas cenas fossem capazes que nos libertar, nos tirar todos da sociedade do armário). Sei que não é assim, mas as pessoas agem como se fosse! É um receio irracional! Não vejo lógica nesse medo absurdo de gays corromperem, de influenciar a sexualidade dos “héteros”.

As pessoas esquecem de que os gays, em sua maioria, nascem e são criados por casais herossexuais, boa parte destes são até homofóbicos, mas isto não impede de os filhos terem sua sexualidade orientada para desejos homossexuais. Ainda que muitos sofram absurdamente, reprimam-se, cometam suicídios... mas a homossexualidade existirá independente de influências. Sempre existiu.

Quanto mais seguros de si nós somos, menos preconceitos e medos temos do outro e suas diferenças. Tornamo-nos abertos a respeitar todas as formas de amar, de viver, de ser feliz.

As pessoas devem aprender a buscar suas felicidades e respeitar o direito dos outros de serem felizes... é tão simples... é tão belo.

Essa é minha nota de repúdio a todo esse preconceito, à toda essa hipocrisia.

E parabéns às maravilhosas Fernanda Montenegro e Nathália Timberg.