É justo desejar a algiém o descanso eterno?

É justo desejar a alguém o descanso eterno?

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

Vamos nos referir a certa prédica de raízes milenares: o “descanso eterno” que deve ser desejado para todo espírito que abandona este mundo. Formularemos, antes, três indagações em nome da sensatez e da lógica:

1º) Há alguém que num período de vida física – efêmero em relação à infinidade do tempo cósmico – tenha trabalhado tanto, a ponto de fazer-se credor de semelhante ócio?

2º) Que espírito evoluído consentiria recolher-se em si mesmo, numa perene folgança, enquanto tantas almas humanas, a quem ele poderia ajudar, sofrem no mundo?

3º) Quem pode aspirar ao descanso eterno, sabendo que seu espírito deve continuar a evolução pré-fixada pela lei?

Ficaremos muito agradecidos se nos desejarem uma eterna atividade, pois a atividade é energia, e a energia é o motor que impulsiona a existência em qualquer de suas manifestações. Descanso eterno é, pelo contrário, imobilidade, é a morte segunda, o caos, o nada. Enquanto a atividade amplia a vida, a inércia a comprime, com risco de fazê-la desaparecer.

Infere-se do exposto que, impensadamente, será um mau pensamento o que se terá para com aquele a quem se deseje "um descanso eterno". Consideramos isso, pois, uma demonstração muito evidente de como certas comunidades estão alheias à realidade que a Logosofia revela sobre a evolução consciente, conhecimento que dá a noção básica sobre a possível perpetuidade do espírito através de todos os ciclos de sua existência.

Nem na vida, nem na pós-vida um descanso prolongado convém a ninguém

Cada ser humano que se preze como tal na mais alta expressão de seu significado, deve intuir que sua criação obedece a uma finalidade superior e que, portanto, não pode limitar sua vida à rotineira e simples tarefa de viver e morrer sob o influxo de uma concepção materialista que nada lhe concede fora das prerrogativas comuns de um mero existir diário. Sua ocupação fundamental, isto é, a que leva a cabo fora de suas obrigações de ordem física ou material, deve ser concretizada em vivências altamente construtivas para sua evolução. Como? Interessando-se vivamente pela condução consciente da vida em direção a um destino que transcenda completamente o comum. Nossa ciência satisfaz com amplitude essa aspiração e leva cada indivíduo a penetrar profundamente nos mistérios da própria existência.

Deus não pode alentar vida naquelas almas que contrariam a grande lei de evolução, a qual enche de energia o Universo e é atividade permanente. Convém tomar gosto pela atividade, neste caso a atividade consciente, já que nos estamos referindo à que preferentemente interessa ao espírito. Essa atividade é a que nos faz experimentar o fluir constante da vida, pois promove seu enlace com a energia da Criação, esse alento imperceptível, fecundo, que dá estabilidade a tudo quanto existe.

Quando o espírito se sustenta com os elementos sempre ativos do eterno, faz-se invulnerável à ação do tempo, que jamais afeta o que permanece ativo, com vida, unido ao alento da vida universal.

Trechos extraídos do livro O Espírito pp. 159 a 162

Carlos Bernardo González Pecotche
Enviado por Sinval em 13/10/2013
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