SÁBADO, 26 DE JULHO DE 1930

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão.

Jean Paul Sartre

A História do Brasil registra um sábado em 1930, 26 de julho e a Revolução de 1930, acontecimentos históricos que mudaram os destinos do País até a presente data.

Segundo o calendário, o dia 26 de julho de 1930 foi um “Sábado de Santana”, como o povo assim chama o último sábado do mês de julho de cada ano. Justamente pelas dezessete horas daquele fatídico dia, a Confeitaria Glória, um dos principais pontos de encontro da alta sociedade recifense, estava repleta para o chá das “cinco horas da tarde daquele dia”. Assim sendo, o hábito britânico do chá das cinco era largamente seguido por quem tinha posses. É verdade, pois, homens e mulheres lá estavam, a consumir a bebida predileta, devidamente acompanhada de torradas.

O certo é que em uma das mesas, quatro homens cumpriam o ritual. Assim, de repente, por uma das portas próximas, entra no recinto um homem, armado de revolver em punho. A historiografia sobre a temática menciona que ao aproximar-se da mesa, dispara seguidamente contra um de seus ocupantes ilustres. Foi quando este soergue o corpo, as mãos cruzadas sobre o peito atingido, em seguida cai ao solo. É certo que um rapaz que estava próximo atira, por sua vez, contra o assassino, atingindo-lhe de raspão a testa e fazendo com que ele também vá ao chão.

Ato contínuo, a primeira vítima, agonizante, é levada para uma farmácia vizinha a Confeitaria Glória, sobre cujo balcão vem a morrer, a dar o último suspiro de vida. A outra vítima é conduzida por uma ambulância ao Hospital de Pronto Socorro do Recife, para tratamento do ferimento superficial e sem perigo de morte.

A história relata que o morto era João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Presidente (cargo atualmente equivalente ao de Governador) do Estado da Paraíba e que foi candidato derrotado a Vice Presidente da República, na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, nas eleições realizadas no Brasil em 1º (primeiro) de março de 1930. Por outro lado, o assassino superficialmente pelo motorista presidencial, Antonio Pontes, era o réu confesso João Duarte Dantas, paraibano de Mamanguape, nascido aos 12 de maio de 1888, filho do médico Franklin Dantas e dona Júlia Dantas,conforme termo de nascimento nº 259, folhas 147 no cartório de registro civil, do Município e Comarca de Mamanguape/PB, que o historiador Antônio Farias em artigo publicado no volume V, ano de 1922, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, página 76, chama-o de “gênio inquieto e belicoso” da família Dantas. Por outro lado, por incrível que parece o texto de Murilo Melo Filho ("Testemunho Político" - 1998 pg 101), menciona que João Duarte Dantas é paraibano e sertanejo de Teixeira, publicado no site da Academia Brasileira de Letras, visitado em 03/04/2013: < http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=464&sid=22>, que transcrevemos: “[...] Esse crime merece uma reconstituição, não só pelos seus desdobramentos e conseqüências, como também pela importância das pessoas nele envolvidas: a vítima, João Pessoa, presidente de um estado; e o assassino, João Dantas, um advogado paraibano, sertanejo da cidade de Teixeira e amigo de José Pereira, o líder de Princesa, e de João Suassuna, o líder de Catolé do Rocha [...], colocando em dúvida sua naturalidade como sendo na realidade paraibano de Mamanguape.

O historiador Cristino Pimentel, relata na obra “Pedaços de História da Paraíba, edição de 1953, página 64, que João Dantas quando era estudante participou no ataque à cidade de Patos, na Paraíba, onde houve “saques, roubos e depredações”.

É relatado em “A Verdade sobre a Revolução de Outubro – 1930”, do historiador Barbosa Lima Sobrinho, 2ª edição, 1975, página 125, que focaliza a prática de homicídio, ao afirmar que “os antecedentes pessoais de João Dantas não eram títulos angelicais. Desde que muito moço se salientara nas lutas sertanejas pelo espírito agressivo, o destemor, o ânimo sanguinário. Ao tempo do governo do Sr. Solon de Lucena, fora processado por crime de morte, ocorrido nas lutas EME que andou emprenhado na cidade de Mamanguape”.

Por outro lado, o arrombamento do Clube Cabo Branco, para empossar um presidente eleito, cuja posse era contestada e que já era objeto de uma ação judicial, segundo versão dos ex-deputados José Joffily e Silvio Porto, filho do Juiz José Domingues Porto, que funcionava no feito. Se bem que em 10 de fevereiro de 1978, José Joffily voltou a reafirmar publicamente o acontecido no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.

É importante mencionar aqui a carta que João Dantas escreveu carta a seus familiares em 7 de novembro de 1928, elogiando João Pessoa, ao afirmar de próprio punho que “o novo presidente continua, graças a Deus, a tocar o pau, sem dó nem piedade em quase todos os municípios, isto é, nos politicões desses municípios. Não tem distinguido grandes nem miúdos e tem sido uma obra benemérita. Tem demitido todos os delegados que praticam violências e prendido e expulsado da Força Pública os soldados espancadores. Está mandando os chefes políticos escolherem entre a chefia e a prefeitura. Mandou que vários juízes escolhessem entre a chefia e o juizado. Fez muita coisa boa. Além desse resumo [...] (aqui é que eu desejo ver se S. Excia., sustenta a atitude), mandou desarmar todos os vigias e capangas de Rio Tinto e [...] (só este ato vale por um título de benemerência) removeu de Mamanguape para Bananeiras o promotor Ruy Alverga que tanto tem servido aos Lundgren e tramado contra os nossos interesses”, publicada no livro: “Porque João Dantas assassinou João Pessoa. O delito do Glória e a tragédia da Penitenciária do Recife, em 1930”, do historiador Joaquim Moreira Caldas (irmão de Augusto Moreira Caldas, cunhado de João Dantas, acusado de cumplicidade na morte de João Pessoa, preso com João Dantas, logo após o homicídio premeditado na Confeitaria Glória e morto por ele, segundo a versão oficial, escreveu o livro para justificar o crime e refutar a versão oficial, sobre a morte dos dois homicídios na Casa de Detenção de Recife).

O escritor José Américo de Almeida menciona à página 28, da primeira edição do livro: “O ANO DO NÉGO”, que João Dantas esteve presente no comício de apoio a João Pessoa, logo após a resposta via telegrama ao governo Washinton Luis, declarando o “Négo” da Paraíba a candidatura oficial de Júlio Preste para Presidente do Brasil.

A nação brasileira sabe que os tiros ali disparados ainda ecoam profundamente na nossa história em pleno século XXI.

É importante mencionar que tais fatos estão ligados direta e indiretamente a História da Paraíba, tendo em vista a participação de vultos notáveis de vários homens de nossa história recente, dentre os quais João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. É evidente que tem hora que ele se apresenta como herói e/ou vilão, dependendo da ideologia do escritor enquanto historiador, pois, as correntes ideológicas: “perrepista” e “liberal”, ainda estão vivas nos pensamentos dos filhos, netos, bisnetos, tetramentos, etc de seus herdeiros diretos e indiretos das famílias envolvidas em tais episódios que teve como ponto de partida o assassinato do então Presidente da Paraíba, na Confeitaria Glória no Recife, pelo advogado João Duarte Dantes, a titulo de retaliação pelas perseguições de ordem pessoal, profissional e política a si e ao seu grupo familiar na Paraíba de então. Dentre as perseguições podemos mencionar o caso do arrombamento do Escritório de Advocacia de João Dantas, na Capital da Paraíba e a publicação no jornal oficial do Estado, “A União” de suas cartas particulares trocadas com sua namorada Anaide Beiriz, além do seqüestro sumário dos processos judiciais do interesse do Governo da Paraíba. Portanto, João Dantas responsabilizou o então Presidente como mandante de tais atrocidades e abusos de poder.

Enfocamos que a figura emblemática de João Pessoa é na realidade imortal, tendo em vista a sua capacidade de ação política e administrativa, a sua bravura e altivez, não porque está ligado a História do Brasil e bem assim a História da Paraíba.

João Pessoa com chefe do Poder Executivo da Paraíba deixou para posteridade uma obra de verdadeiro político e estadista, sempre voltado para o bem estar da população paraibana, sem deixar de defender com unhas e dentes os interesses maiores de nossa querida e amada Paraíba sem temer e ou recuar a luta contra os poderosos nacionais e locais, a exemplo do que ele fez quando rompeu seus compromissos políticos com as oligarquias sertanejas e familiares, no caso com o Grupo Pessoa de Queiroz, de Pernambuco, quando determinou a cobrança de impostos de todas as mercadorias que entravam no solo paraibano e quando sai também, principalmente pela venda de algodão, açúcar e seus derivados. A história menciona que ele governou a Paraíba de corpo inteiro, saia do Palácio da Redenção e ia passear no “Ponto de Cem Rés”, não tinha segurança pessoal, era destemido e cumprimentava o povo por onde passava. E foi assim também no dia 26 de julho de 1930, por não ter segurança pessoal, viajou para o Recife apenas com o motorista do automóvel que lhe conduziu a Capital da Veneza Brasileira, presa fácil de ser capturada por seu assassino João Duarte Dantas, na Confeitaria Glória.

Em síntese, a Revolução de 1930, segundo os relatos históricos foi o movimento armado, liderado pelos Estados da Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que teve como ponto alto o Golpe de Estado em 1930, logo após o assassinato de João Pessoa, que depôs Washington Luis, então Presidente da República, no dia 24 de outubro de 1930, impedindo a posse de Júlio Prestes, Presidente da República eleito nas eleições de 01 de março de 1930, representante perrepista, que derrotou nas urnas a Aliança Liberal, representada por Getúlio Vargas, candidato a presidente e João Pessoa, candidato a vice presidente da República. O golpe de Estado de 1930, sepultou complementa a República Velha. É importante mencionar de que 1929, os coronéis e demais lideranças de São Paulo romperam seus compromissos em termos de aliança com os mineiros, que ficou popularmente conhecida como a política do café com leite, que culminou com a indicação do paulista Júlio Prestes como candidato oficial do grupo paulista para Presidente da República. Ato contínuo, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, então Presidente de Minas Gerais, passou a dar apoio a candidatura da oposição liderada por Getúlio Vargas, para Presidente e João Pessoa, o candidato a vice. O golpe de 3 de outubro de 1930, evitou que Júlio Prestes tomasse posse como Presidente do Brasil, restando ao mesmo apenas o exílio político, tendo em vista Getúlio Vargas, em 3 de outubro de 1930, assumiu a chefia do Governo Provisório Revolucionário, dia do fim da Velha República, nascida em 15 de novembro de 1889.

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REFERÊNCIAS

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BEZERRA, José Joffily. Revolta e revolução – Cinquenta anos depois. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979.

Buarque de Holanda, Sérgio: Raízes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995

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FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história, São Paulo, Brasiliense, 1972

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MURAKAMI, Ana Maria Brandão. A Revolução de 1930 e seus antecedentes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

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VARGAS, Getúlio, A nova política do Brasil, Volume 8, José Olympio Editora, 1940.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 27/07/2013
Reeditado em 14/08/2013
Código do texto: T4407761
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