EDUCAR & ENSINAR

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus.

Sócrates

O que habitualmente chamamos de ato de educar em si, nada mais é que um exercício de reflexão filosófica, onde o objetivo enfoca e/ou fica evidenciado a ação e/ou atitude desenvolvida em termos de trabalho docente, desde que seja um trabalho consciente e assim sendo passa a ter relevância, axiologia de valor para as partes envolvidas, principalmente através do diálogo, de se saber o que está se fazendo e de onde, realmente se quer chegar. Deve ter necessariamente o ponto de partida e o ponto de chegada através de projetos políticos e pedagógicos, envolvendo cada procedimento e ou fase do processo em si. Nunca confundir ser professor com ser educador. Alguém já disse que a academia forma professor, daí porque, todo educador é professor, porém, nem todo professor é educador, uma vez que não existe escola, faculdade e/ou universidade na face da terra que forme educador. O educador é formado por si mesmo no batente do magistério no seu dia a dia dentro e fora da sala de aula, enquanto professores são todos terminaram um curso de formação de nível médio e de nível superior, ao nível de licenciatura nas diversas habilidades e ou faculdades oferecidas na forma da legislação de cada país. Inclusive, os professores receberam como parte integrante de seus currículos acadêmicos, o núcleo comum e o especifico de cada profissão. Daí, serem portadores de conhecimentos fundamentais de origens: sociológicas, filosóficas, psicológicas, sociais e legais.

É fato que sempre encontramos por aí colegas professores afirmando que são educadores. Ledo engano.

A palavra educar tem origem no latim e tem indiscutivelmente dois radicais, onde “educare”, quer dizer: “criar”, “amamentar”, enquanto “educere”, quer dizer: “levar para fora”, “fazer sair”, “dar a luz”, “parir”, daí porque originariamente o educador e não professore, já era consideração na Grécia antiga como sendo o parteiro do conhecimento e ou do saber, ex-vi os ensinamentos de Sócrates, assim sendo “minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá!”, segundo concluiu o filósofo ao acompanhar a sua mãe na condição de auxiliar na profissão de parteira. Diante de tamanha afirmativa o próprio Sócrates também é parteiro, uma que o verdadeiro conhecimento está e vive dentro das pessoas, uma vez que todas as pessoas são capazes direta e indiretamente de aprender por si mesmas o bem e o mal, se assim entenderem. O que vale dizer que o professor tem a missão de ajudar no nascimento do conhecimento e ou do saber das pessoas, enquanto seres pensantes e críticos de sua própria realidade. Desde então, chamamos de “maiêutica”, o método criado por Sócrates no século IV a.C., em homenagem a profissão de sua mãe, Fenerete, que era parteira. É o próprio Sócrates que esclarece isso no famoso diálogo “Teeteto” (diálogo platônico envolvendo os personagens: Sócrates, Teodoro de Cirene e Teeteto, matemático grego, onde, possivelmente a natureza do conhecimento, aparece pela primeira vez em Filosofia, enfocando, o confronto entre a verdade e o relativismo), segundo Platão (2001).

O que ensinamos aos nossos alunos todos os dias letivos necessitam de fundamentação e/ou conhecimentos filosóficos para que tenha sentido o ato de educar em si. Precisamos sempre de questionamentos a respeito de saber o que vamos ensinar e ensinar aquém? Por exemplo, toda e qualquer Pedagogia deve ter uma explicação, crítica e fundamentação teoria e prática, tendo em vista que o seu objeto é justamente a educabilidade do ser humano, o que equivale dizer que o ser humano é um ser educado, portando o ato pedagógico deve ser entendido como sendo uma atividade sistemática de interação entre os seres sociais, e/ou seja, entre duas ou mais pessoas, levando-se em consideração os níveis de caráter intrapessoal e influência do meio. O que significa dizer que existe uma ação sobre os indivíduos envolvidos e/ou sobre os grupos de indivíduos, uma espécie de motivação capaz de provocar mudanças que podem levá-los a serem autores de sua própria aprendizagem.

Acreditamos que cada profissional do magistério deve presumir que somente através do processo de educabilidade individual e coletiva, será possível interligar no ato da docência e/ou pedagógico os três componentes indissociáveis entre si: 1º) deve existir um agente, uma pessoa, um individuo, um grupo, um meio social, etc, que esteja querendo aprender algum tipo de ensinamento (isso significa está educado via a vontade de querer aprender); 2º) deve existir uma mensagem transmitida ou a ser transmitida, como por exemplo: planejamento pedagógico, composto por planos de cursos, de unidades e de aulas e/ou de ensino, onde os conteúdos, métodos e metodologias, automatismos, habilidades, procedimentos diversos, etc., serão apresentados e discutidos com os sujeitos discentes pelo docente no primeiro dia de aula de cada ano ou período letivo; 3º) deve existir pelo menos um discente, grupo de discentes, uma geração em cada nível de faixa etária, etc, que esteja interessada em adquirir saberes e conhecimentos teóricos e práticos via os professores lotados em cada escola.

Educar é justamente conduzir o discente de um estado ao outro, é em linhas gerais modificar numa certa direção o que é suscetível de educação, no dizer de Libâneo (1996, p. 97).

Que tipo de homem a escola pública e/ou privada quer formar? Como são avaliados os currículos, as técnicas, as metodologias? Como a escola avaliação os instrumentos didáticos e pedagógicos para saber se são ou não adequados e ou adaptados a cada realidade que envolva: alunos, comunidades, etc? Como acompanhamento do ato de educar e de ensinar acontece? Qual o valor que o discente, docente e comunidade atribui a escola que freqüenta, lecionar e matricula os seus filhos? Não é estória da carochinha é realidade, uma vez que “esse acompanhamento reflexivo impede que se caia no tecnicismo, um risco que existe sempre que os meios são supervalorizados”, conforme menciona Aranha (1989).

Surge justamente aí a necessidade do professor, enquanto educador ser um filósofo, pois, sabemos que é possível definir os valores e os objetivos que fundamentam e ou orientam ação do ato de educar e de ensinar, porém, jamais, os docentes, os grupos de docentes, os sistemas federais, estaduais e municipais de educação do Brasil e do mundo “pode teorizar sobre educação em si, o homem em si, o valor em si”, uma vez que somente “a partir da análise do contexto vivido, o filósofo irá indagar a respeito de que homem se quer formar, quais são os valores emergentes que se contrapõem a outros valores já decadentes” (ARANHA, 1989. p. 44).

Em síntese, o professor, enquanto se apresenta como educador, deve ter conduta de juiz, uma vez que Sócrates menciona que “quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente”, ex-vi que sala de aula não é lugar de violência moral, física e pessoal que envolva professores, diretores, pais, comunidade, gestão pública e ou privada. A escola é uma fábrica de conhecimentos e sonhos de um amanhã cheio de realizações pessoais e profissionais.

REFERENCIAS:

ÁVILA, Fernando Bastos de. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: MEC/FENAME. 1976.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola, 1996.

PLATÃO. Teeteto - Crátilo. In: Diálogos de Platão. Tradução do grego por Carlos Alberto Nunes. 3a. ed., Belém: Universidade Federal do Pará, 2001, p. 45.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 30/06/2013
Código do texto: T4365351
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