OPOSIÇÃO, O HOMEM E A NATUREZA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

A separação homem-natureza é uma característica marcante do pensamento ocidental, que se fundamenta filosoficamente na Grécia e Roma clássicas. Na verdade, as coisas eram diferentes na chamada época “pré-socrática”, onde o conceito de natureza era bem diferente daquele que vai começar a se impor principalmente após Sócrates, Platão e Aristóteles. O filósofo BORNHEIM (1985) nos explica:

em nossos dias, a natureza se contrapõe ao psíquico, ao anímico, ao espiritual, qualquer que seja o sentido que se empreste a estas palavras. Mas para os gregos, mesmo depois do período pré-socrático, o psíquico também pertence à physis. Esta importante dimensão de physis pode ser melhor compreendida a partir de sua gênese mitológica [...] Os deuses gregos não são entidades sobrenaturais, pois são compreendidos como parte integrante da natureza [...] Esta presença (dos deuses) transparece ainda na frase que é atribuída a Tales: “Tudo está cheio de deuses! [...] Segundo Jaeger, Tales, emprega a palavra deus "em um sentido um tanto distinto daquele em que empregariam a maioria dos homens”. Os deuses de Tales não vivem em uma região longínqua, separada, pois tudo, todo o mundo que rodeia o homem e que se oferece ao seu pensamento está cheio de deuses e dos efeitos de seu poder. “Tudo está cheio de misteriosas forças vivas; a distinção entre a natureza animada e inanimada não tem fundamento algum; tudo tem uma alma”. Esta ideia de alma, de forças misteriosas que habitam a physis, transforma-a em algo inteligente, empresta-lhe certa espiritualidade, afastando-a do sem sentido anárquico e caótico.

Com Descartes, essa oposição homem-natureza acentua-se e a filosofia cartesiana marca a modernidade por dois aspectos: o caráter pragmático do conhecimento (conhecimentos que sejam úteis à vida em sentido amplo) e o antropocentrismo (o homem passa a ser visto como o centro do mundo; o sujeito em oposição ao objeto, à natureza).

O método científico permite ao homem penetrar nos mistérios da natureza e assim, à imagem e semelhança de Deus, é todo-poderoso, pode possuí-la e utilizá-la para os fins que desejar em todos os sentidos.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 27/04/2013
Reeditado em 27/04/2013
Código do texto: T4261784
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.