O CURRÍCULO E A DIMENSÃO CRIATIVA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação dialogado eu-tu libertadora, sinergética e construtora de aliança perene de paz e de amorização.

Leonardo Boff.

Na sua dimensão criativa, o currículo escolar e as práticas de sala de aula são produzidas mais pelas circunstâncias, pelas formas peculiares de cada docente e discente reagirem diante do inesperado do que pelo plano elaborado a priori. Além do mais, é essa dimensão do currículo que mais poderá interferir no sistema social em que está contextualizado e/ou inserido, rompendo com conhecimentos, valores e formas de agir, e, por isso, podemos atribuir-lhe um lugar especial para a mudança e para a inovação, aceitando o novo.

Se, de um lado, algumas dimensões do currículo atuam como elementos de regulação e conservação como instâncias unificadoras das ações de ensino, apoiadas na regulamentação oficial, nos conteúdos dos livros-texto e materiais didáticos e dirigidas pelas avaliações externas, quer dos sistemas avaliativos oficiais, quer do mercado de outro lado, estão os docentes e discentes a conviver e interagir em vários ambientes que se entrelaçam em suas vidas, dentre os quais está o ambiente escolar, onde atua o currículo na sua dimensão em ação. Nesse espaço, onde o currículo é traduzido em atividades que configuram as práticas educativas, o docente insere o novo, o específico, o diferente, modificando as determinações de saberes curriculares e planos que vêm de fora: “ [...] é que não se planeja esta prática ex-novo, desde o nada, já que se desenvolve historicamente em circunstâncias determinadas; o professor não cria as condições de ensino, muitas vezes vêm dadas” (SACRISTÁN, 1998b, p. 206).

Os problemas, as inovações e as transformações que acontecem, quer nos costumes, nas tecnologias, nos recursos e/ou nas decisões políticas e/ou econômicas de uma sociedade, atingem as práticas educativas da sala de aula antes de atingir as outras dimensões do currículo, pois é nelas que interagem os docentes e os discentes com os outros ambientes e/ou instâncias sociais das quais participam. Por isso, o primeiro lugar onde atuam as mudanças é na prática, e na sala de aula, muitas delas unem-se e/ou defrontam-se com mudanças propostas pelos docentes, e/ou questionamentos e inovações trazidas pelos discentes a partir de sua própria cultura.

Também é na sala de aula que constatamos a presença de determinações sociais, quer inovadoras, quer conservadoras, dando significado às práticas pedagógicas. Convivem, portanto, as várias dimensões do currículo na sala de aula, mesclando-se ora com predominâncias prescritivas, ora avaliativas, envolvendo conhecimentos, crenças e valores a serem conservados e/ou transgredidos.

Além disso, enquanto ação, a sala de aula apresenta-se impregnada de desejos de transformação e busca de soluções criativas para os problemas apresentados pela sociedade.

Nesse espaço, onde atuam forças, às vezes, antagônicas, insere-se o vídeo não só como tecnologia, mas também como linguagem. Se hoje está presente na sala de aula, significa que existe uma necessidade de compreensão e adequação do currículo escolar à forma de o vídeo produzir sentido, o que exigirá da escola, dos docentes e discentes aprender como ele pode integrar-se às propostas curriculares. A sua presença na sala de aula gera tensões, que precisam ser compreendidas, avaliadas e estudadas, até para compreendermos a abrangência das transformações que ele pode impor aos outros elementos que fazem parte do processo.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 11/03/2013
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