Meu Rio São Francisco
Permitam-me chamar de “meu” rio São Francisco ao nosso rio da unidade nacional, o Velho Chico, o rio que me viu nascer.
Não posso esquecer o que disse o maior sociólogo brasileiro de todos os tempos, o saudoso Gilberto Freyre. – “A natureza parecia estar bem intencionada ao criar o rio São Francisco...” E enumerava os benefícios que ele trouxe ao nosso Nordeste. Tendo sua nascente no município de São Roque de Minas, relativamente próximo ao oceano da região Sudeste, eis que faz uma curva, a que ele chamou de “cotovelo”, e vai desembocar a mais de 2.800 quilômetros, entre os estados de Sergipe e Alagoas, depois de passar por Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, beneficiando a região mais árida do Nordeste. E o homem, graças à sua inteligência, aproveitou-o para a geração de energia elétrica e irrigação, mudando a paisagem da região, muito embora ainda em pequenos oásis.
Por já ter morado em cinco municípios banhados pelo meu “Velho Chico”, aí incluindo os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, tenho todas essas opções de visitá-lo, quando quero relembrar a minha infância. Era ele o meu “piscinão”. Aliás, muito melhor do que qualquer piscina, em razão de suas águas correntes, e sempre contando com as mais belas paisagens de um lado e do outro do rio.
No meu mais recente passeio de barco, senti uma dorzinha no peito ao vê-lo tão raquítico. Estão sangrando o meu rio. Já começo a imaginar como ele ficará depois da tão propalada “Transposição”. Dizem até que é como “tirar sangue de anêmico”.
A água que estão querendo levar para o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e parte de Pernambuco não é só “para matar a sede do nordestino”, como apregoavam. É muito mais para atender os interesses do capitalismo. Quem já tem recebe mais.
Vi uma comparação que me deixou estarrecido, quando disseram que o canal tem capacidade para levar tantos metros cúbicos de água, mas há uma promessa de que só vão levar uma décima parte de sua capacidade. E um dos mais ferrenhos opositores dessa transposição disse: “É como um pai presentear o filho com uma Ferrari e pedir para ele não exceder a velocidade de 40 km/h.
Será que ele vai obedecer?
Salvem o “meu” rio, o nosso e o vosso presente que a natureza criou, quando estava bem intencionada, no dizer do sociólogo Gilberto Freyre.