Anencefalia, palavra incômoda, literalmente significa ausência do encéfalo. O encéfalo, além do cérebro, compreende o cerebelo e o tronco cerebral. Os bebês anencéfalos, apesar de não terem cérebro, ou parte dele, têm o tronco cerebral funcionando. O tronco cerebral constituído principalmente pelo bulbo (que é um alongamento da medula espinhal), controla importantes funções como a respiração, o ritmo dos batimentos cardíacos e vários atos reflexos entre os quais a deglutição, o vômito, a tosse, o piscar dos olhos...
Anencefalia... Uma coisa diante da qual não temos o que dizer nem fazer. Quando acontece, é preciso viver a solidariedade e saber entender o sofrimento dos envolvidos recusando-nos a dizer coisas do tipo “foi a vontade de Deus” ou semelhantes. Tem graça essa mania cruel de culpar Deus de coisas que nem ele fica sabendo direito que acontecem e sofre mais com isso que todos nós. Não tem porque culpar Deus pela nossa condição humana.
A Suprema Corte do Brasil ao legislar sobre a antecipação terapêutica do parto de anencéfalos, fez o seu papel. A Suprema Corte sem ser ligada à religião, tem em seus ministros uma perspectiva de vida muito mais humana e profunda, equilibrada e até, de certa forma, espiritual, do que às vezes se percebe em setores que se dizem religiosos.
Isto posto, há, porém, uma palavra incômoda que não quer calar. O anencéfalo é vivo e humano, sua expectativa de vida, sim, é que é diminuta. Assim sendo, esse ente vivo e humano não merece receber o cuidado que recebem as outras crianças, até porque seu custo não compensa o sacrifício.
Ah, isso não! A baixa qualidade de vida pode tornar alguém descartável?
Acaso os incômodos da gravidez e as dores do parto só se justificam se o bebê trouxer alegria à gestante?
E o mundo cada vez mais ameaçado...
A esperança da Páscoa vestiu-se de luto.