PULSÕES

Freud sempre encanta com seus estudos. A pulsão de morte e vida é algo intrigante para os leigos como eu.

Sonhos são sempre reveladores, é um recado direto do Id, ou do ego, quanta gente que tem problema com a mãe, já sonhou que a matou? Depois acorda com um tremendo sentimento de culpa e ao mesmo tempo feliz?

Quantas mulheres sonharam com uma gravidez? Sonhos tão reais que dá até para sentir o movimento do filho dentro de sua barriga. Ou ainda quantas pessoas já sonharam que eram o próprio bebê?

São pulsões tão fortes que ao acordar a mente tem certas certezas, e a alma está enlutada de um morto que o consciente sabe que está vivo, mas de alguma forma foi morto naquela mente. Foi morto para dar espaço para outros sentimentos, outros amores.

É muito importante viver seu luto, respeitar esse tempo, e depois, só depois olhar de novo para o antigo sentir e perceber que algo aconteceu, que a ideia fixa em um sentir redemoinho, já não é mais circular infindável e doentio, depois dessa morte sonhada, esse sentir ainda existe, mas agora ele flui, não incomoda mais.

Que coisa incrível essas pulsões! Quando bem administradas, e bem matadas em seus sonhos, ou bem nascidas em pulsões de vida.

A perda de um filho, no sentido de perder mesmo, isso gera na mãe um dor tão aguda, que não há pulsão que dê jeito. Ouvindo a música de Ivan Lins, As Loucas de Mayo, percebo toda essa dor infinita, relembro da Praça de Mayo na Argentina, com seus lenços brancos desenhados no chão, fico a imaginar corações de mulheres carregando as fotos dos seus filhos, aquele ato da reunião silenciosa, banhado por lágrimas que teimam em cair em uma busca desesperada por um amor que foi arrancado do ventre materno e torturado até a morte ou dado para outros, como no caso das crianças que ainda estavam no ventre das presas políticas, era comum que uma família os adotassem, e essas loucas de Mayo perdiam duas vezes, seus filhos e os netos que nunca chegaram ver seus rostinhos.

Freud deveria ter inventado uma outra pulsão, que determinasse o grau desse sofrer. Mas como na música: Elas precisam estar lá

Elas não podem deixar de so-

nhar

Porque é impossível deixar

de SONHAR

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 22/01/2012
Reeditado em 24/01/2012
Código do texto: T3455524
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