Amar é fácil - Difícil é gostar para sempre

Nada é mais fácil que amar - esta é a idéia que mais predomina a respeito do amor, apesar dos vários questionamentos e hipóteses que, isolados ou combinados, provam o contrário.

Amar é um empreendimento que fracassa com muita regularidade. Começa com relacionamentos cheios de esperanças e expectativas até atingir a falência.

Mas quais seriam as razões para tal acontecimento?

Como se dá em todas as dificuldades semânticas a resposta só pode ser arbitrária.

Caberia aqui, entretanto, uma ligeira explicação sobre o que é amar.

Amar é uma força que irrompe no homem e o une aos outros, levando-o a superar o sentimento de isolamento, permitindo-lhe encontrar a sintonia com sua cara metade.

O amor amadurecido é uma união sob a condição de preservar a integridade e individualidade própria. Por isso, o amor é uma atividade e não um afeto passivo. É uma ação que produz mudanças e que sofre ação. Sendo ativo consiste em "dar" e não em apenas "receber".

Os estudos sobre os relacionamentos avançaram muito, mas as perguntas são as mesmas de sempre:

Por que não se sente prazer continuadamente pela mesma coisa?

Por que o amor amadurece?

Por que as pessoas traem?

Há muitas respostas para todas essas indagações, mas a que nos parece ser mais razoável sobre a questão do "não sentir prazer contínuo pela mesma coisa" seria o excesso de exposição do objeto-fonte de prazer. Tomemos aqui a liberdade de um exemplo lúdico: Se você ama pizza, mas come pizza no café da manhã, no almoço e no jantar, vai acabar enjoando. Não há amor que resista à superexposição. E olha que pizza é igual a sexo - pode ser ruim como for que mesmo assim é bom.

Claro que o exemplo acima é um tanto quanto exagerado e um bom "amante" de pizzas iria contestá-lo. Montemayor, uma estudiosa do assunto, explica que quando um indivíduo se apaixona são acionadas zonas que controlam as emoções, como o tálamo, o hipotálamo, o hipocampo, e as partes do sistema límbico, e, para decepção de muitos, este estado físico-químico também acaba. Segundo a especialista, costuma-se durar no máximo quatro anos ou até que apareça outra pessoa para despertar uma nova paixão, ainda maior. A única coisa que permanece, e quando permanece, é o afeto entre os pares depois deste tempo.

Talvez isso explique o amadurecimento do amor. O amor amadurece porque o objetivo do homem é amadurecer - tanto psicológica como fisicamente, amadurecer ao longo da linha que lhe é única e que compartilha com todos os seus semelhantes, prosseguindo nesse processo por toda a vida.

Cada indivíduo evolui muito ao longo do tempo, cresce, sonha mais alto, toma novas dimensões. Nessa evolução contínua o casal se constrói a cada dia e esse fazer-se de cada dia é que transforma o amor.

Sendo o amor uma atividade e não um afeto passivo, ele passa por fases distintas. E quando as qualidades que enxergávamos no outro passam para o segundo plano e os defeitos assumem uma posição de destaque, passamos a enxergar o nosso par exatamente como ele é: um ser humano que, assim como nós, vivencia acertos e tropeços. Aqueles que ainda se encontram imaturos, insistindo em buscar no outro o ser perfeito que acreditam existir, e que irá realizar todos os seus sonhos, sentirão enorme frustração ao descobrirem que a pessoa na qual depositaram todas as suas esperanças não conseguirá realizar todos os seus desejos.

E é justamente aí que entra a infidelidade, que pode ser uma estratégia emocional regulatória. Na maioria das vezes, a traição acontece quando o relacionamento não atinge mais as expectativas. A pessoa trai porque está em busca de algo mais que a relação não está oferecendo. É nessa fase que o diálogo entre o casal quase não existe. A pessoa que trai busca uma saída, uma solução, aparentemente mais fácil. Existem muitas razões para a traição: questões culturais, a busca pelo novo, carências, insatisfação, vingança devido à sensação de estar sendo traído, ou mesmo pela sensação de poder. As relações que têm traições possuem algumas características em comum, a mais freqüente é o “tédio” do casamento ou da relação; outra seria a falta de comunicação, quando o casal mal se fala. E a principal é o desinteresse sexual. O que acontece é que os homens idealizam a mulher perfeita em todos os aspectos, e as mulheres desejam um homem que as ame, apóie e as ajude, colocando assim muita expectativa na relação o que pode gerar muita frustração e decepção, facilitando a traição.

Mas como evitar uma traição? Como gostar para sempre de alguém?

Não existe receita ou fórmula em que eu própria não esteja incluída . Temos que pensar que se amar o outro é uma virtude, nosso amor próprio também o é. O amor genuíno é uma expressão de produtividade e implica cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento. Não é um "afeto" no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo pelo crescimento e felicidade da pessoa amada, enraizado na própria capacidade de amar. Amar alguém é a atualização e a concentração da força de amar. Amar uma pessoa implica em amar o outro como tal, em jogar e seduzir continuamente. Mas como jogar e seduzir uma pessoa cujas cuecas você estende no varal diariamente?

Especialistas advertem que o ponto principal é evitar o tédio e a rotina, mantendo a chama do amor e do interesse sexual. O diálogo é muito importante, falar principalmente sobre as dificuldade e divergências, não permitindo assim o acúmulo de mágoas, ressentimentos e frustrações.

Podemos também apelar para o conceito da "construção da escassez", atribuindo valor às coisas. À primeira vista, tal conceito nos parece muito relativo, mas no entanto, bastante esclarecedor por uma razão muito simples: os recursos da natureza são limitados e as necessidades dos homens, infinitas. É a escassez que atribui a idéia de riqueza, pois um dos pressupostos do valor é a dificuldade que tal coisa ou bem pode ser adquirida. Muito raramente se dá valor a algo abundante, pois as coisas em grande quantidade saturam as necessidades circunstanciais de quem as usufrui, pouco atribuindo importância se sua necessidade está satisfeita. Ou seja: o ouro vale mais do que a prata porque tem menos ouro no mundo. Tal qual "amantes" que se mostram totalmente disponíveis não representam nenhum desafio. Marido e esposa sabem que o outro estará lá, já conquistado e disponível. Ambos pensam que não é preciso conquistar nem seduzir, se acomodando. E a acomodação pode ser a origem de todos os problemas.

Quem acomoda, deixa de agradar, decepciona o outro, que responde com uma outra ofensiva (ou omissão) e aí, começa a bola de neve, e é claro, quem vive trocando farpas e decepções pratica pouco sexo, e experimenta pouca intimidade. É um caminho triste, mas natural para a maioria dos casamentos

A solução estaria na maneira de como as pessoas enxergam o amor, antes de tudo como o de ser "amado", em lugar de "amar", da capacidade que se têm de amar alguém. Talvez seja essa a idéia que as façam pensar que nada é mais fácil que amar. Se o amor é uma atividade e não um afeto passivo, é um erguimento e não uma queda que consiste em dar e não receber. Mas não um dar com caráter mercantilista - dar só em troca de receber. Dar, não como um sacrifício ou sofrer privação. Dar aqui seria no caráter produtivo, com a mais alta expressão de vitalidade, riqueza e potência. A mais importante esfera de dar não é das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano. O que dá uma pessoa à outra? Dá de si mesma, do que se tem de mais precioso, dá de sua vida, de sua alegria, de sua compreensão, de seu interesse, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza, de seu prazer. Dar assim de sua vida implica fazer da outra pessoa também um doador, onde algo nasce e ambas as pessoas envolvidas são gratas pela vida que para ambas nasceu - O amor é uma força que produz amor.

Por isso o gostar para sempre é algo tão difícil de alcançar - se amamos sem atrair amor, nosso amor torna-se impotente. Se alguém nos diz que ama as flores e vemos que ele se esquece de regá-las, somos levados a não acreditar em seu amor pelas flores. Amor é preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos. Onde falta essa preocupação ativa não há amor.

Gostar para sempre é amar até quem não sabe nos amar. É amar sem prazo de validade, sem a angústia do final dos tempos, sem o medo do fim do mundo. Amar sem olhar as horas, sem nos preocupar se vai dar tempo, se vai dar certo, aproveitando todo o tempo que se tem para se dar.

Quem ama para sempre não perde um só tempo, já que todo o tempo é eterno e tudo que é eterno tem a tranqüilidade de não saber terminar. Quem ama para sempre não tem um amor aflito, não faz amor apressado e não agenda uma surpresa ou uma declaração. Quem ama para sempre conta os dias pelas noites dormidas juntinho, e assim, com o tempo, se esquece de saber o que é viver uma solidão.

Amar para sempre não é para se entender, é um estado de quem se sente, é uma verdade, é a nossa alma a desatar os laços que a atrofiam, até o tempo se encarregar de ser notado e nos dizer que todo o tempo tem começo, meio e fim. Mas até ai, já fui feliz para todo o sempre e isso nem o tempo poderá me tirar.

MIRAH
Enviado por MIRAH em 01/12/2011
Reeditado em 22/06/2012
Código do texto: T3366697