PAZ A GENTE QUE FAZ

Motivado pelo crescente índice de criminalidade que vem atingindo a capital goiana e seu entorno, o Estado, instituição portadora da obrigatoriedade de garantir a segurança plena aos cidadãos tenta diminuir a criminalidade, lançando um novo plano de combate aos homicídios, a ser executado pela Policia Civil. A ideia é plausível e acentua como prova de que o governo se coloca numa aparente posição de preocupação em relação ao crescimento da violência em nossa cidade e em nosso Estado. A erudição do delegado da Policia Civil, ao relatar que para combater o homicídio antes será preciso coibir outros crimes que possivelmente levariam aos homicídios, nos deixa convencidos que é preciso, portanto investigar as origens desse mal para se obter sucesso no ato da execução do novo plano.

Essa explosão de crimes, essa gigantesca e lamentável ocorrência violenta que assusta, isola e intimida a sociedade brasileira pode ser vista no dia a dia, nas manchetes dos jornais e a olho nu. As pesquisas também vêm demonstrando crescentes casos de criminalidades em território goiano. Mas o aumento da violência não é uma característica goiana, ele tem atingido todo o nosso país e o mundo inteiro. Não é um mal que surgiu agora, afinal, não é de hoje que existe a violência, seus primeiros procedentes datam de períodos seculares. De acordo com dados bíblicos ela surgiu quando Caim matou seu irmão Abel e daí em diante só tem aumentado e, o que é pior, com um enorme estouro constrangedor de casos cada vez mais absurdos e inaceitáveis.

Cientificamente falando a violência surge no ato sexual, isto é, desde o princípio, uma vez que para estar vivo é preciso deixar milhões de irmãozinhos (espermatozóides) mortos no caminho, no ato da concepção, pois se assim não fosse não estaríamos vivos, selecionados entre milhões como o melhor e mais preparado (se é que existe preparo) para enfrentar esta vida. O que nem por isso nos tornam violentos. Mas na conquista de espaço, no fazer respeitar, a violência se opõe à diplomacia e com isso, o indivíduo que consegue controlar seus impulsos são cidadãos pacificadores, do contrário são violentos e através da repressão, seja no seio familiar, nas ruas ou em qualquer lugar são punidos violentamente, severamente.

Claro que planos com intuito de reduzir os índices de criminalidade devem ser pensados, propagados e executados, mas o que devia ser prática ou pelo menos estar em pauta era a discussão de políticas educacionais voltadas à qualificação e preparação dos indivíduos para a vida em sociedade, não se discute sequer o papel da sociedade perante a formação das crianças. Muitos filósofos, dentre eles Aristóteles já nos atiçavam para uma consciência de como conduzir nossas crianças para que futuramente estas se tornem homens de bem, mas o que estamos fazendo é tudo ao contrário: enquanto a família, base que devia contribuir com a formação consciente dos indivíduos, submete a criança e adolescente a uma espécie de violência psicológica e física a sociedade os provoca a ser o que são. Estigmatizados descobrem nas drogas e, posteriormente, na violência uma suposta solução para seus conflitos, rancores e penares.

A própria mídia, veículo capaz de informar e formar opiniões parece ignorar uma realidade desestruturadora da sociedade por aproveitar do momento desolador e esquece a razão, ou seja, está mais preocupado com a audiência em divulgar fatos trágicos do que contribuir para a redução do extermínio infantil, juvenil e adulto.

Lamentavelmente, o Estado investe muito em cadeias e parece ignorar o fato de que um país que investe mais em educação constrói escolas e derruba presídios, resultando na formação de uma sociedade mais consciente e menos violenta.

Verdade que uma polícia melhor equipada e um Poder Judiciário mais ágil e, se necessário, mais rigoroso contribui muito para a redução da criminalidade. Uma instituição de ensino precisa ter um espaço privilegiado de convívio e de formação da pessoa, precisa ter qualidade e se integrar à comunidade a sua volta. Ora, já observamos que as escolas que permanecem abertas nos finais de semana, para uso da comunidade, conseguem quase eliminar o vandalismo em suas dependências.

Temos que começar a pensar o modelo de sociedade que queremos para nós e para as gerações futuras, e queremos uma sociedade justa onde nossas crianças serão educadas no seio familiar, pois se continuar dessa forma, a violência vai aumentar cada vez mais. Cada dia que se passa o cenário vai ficar ainda mais caótico, a vida será sempre um risco e, viver ou morrer, vai depender mais da sorte do que da segurança que o Estado diz oferecer. Deve ser no seio familiar, na igreja e na escola a preparação para nossas crianças de hoje se tornarem verdadeiros adultos amanhã.

Contudo, compete a cada um de nós contribuirmos com a redução da violência e podemos dar essa contribuição, seja cobrando soluções do Poder Público, seja nos organizando em redes comunitárias de proteção e apoio, de desenvolvimento social e mesmo de questões de segurança pública. Obviamente que não se trata de querer substituir as funções do Estado, mas trabalhar em conjunto. Precisamos sim, urgentemente, começar a destruir o mal pela raiz para que nunca mais ele venha a brotar, pois do mesmo modo que geramos a violência, paz a gente que faz.

Gilson Vasco

Escritor,

Professor de Língua Portuguesa

Liderança Comunitária

Diário da Manhã,

Goiânia, 24 de novembro de 2011.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 24/11/2011
Código do texto: T3353575
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