Santos ouvem os pedidos?

Tem ciência deles?

Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)

Quinta 31 Março de 2005 às 10:34:04

Uma das questões mais prementes sobre a intercessão dos santos apresentada pelos refratários à divina Fé Católica é o "argumento" de que os santificados do céu não podem ouvir os nossos pedidos (ou ter ciência deles) porque só Deus é que onisciente.

1) A primeira observação a ser feita é perguntar: o que é onisciência? ... Permita-me defini-la de um modo bem vulgar, mas que pode ser extremamente elucidativo: 'Onisciência é saber tudo sobre tudo'. (Deus é onisciente porque sabe tudo a respeito de todas as coisas.)

Se partirmos deste conceito, então, um santo do céu ainda que tivesse ciência de milhões de pedidos que seus devotos lhes fazem, eles jamais seriam oniscientes. Porquanto, tal santo só saberia dos pedidos e não das outras infinidades de assuntos. Por exemplo, ele não saberia a quantidade de formigas que há sobre a terra, ou quantos átomos tem no universo. Nem saberia todas as palavras que foram ditas durante o último milênio ou as que ainda serão ditas até o fim dos tempos. Nem saberia tudo sobre matemática, ou química, ou física, etc. Deus, por ser onisciente, ele sabe todos os pedidos de orações, mas também sabe todas essas coisas que eu citei (e muitíssimas mais!). Por saber tudo isso é que ele é onisciente. Se Deus soubesse, tão-somente, todos os pedidos que as pessoas fazem, mas não soubesse um desses tópicos que mencionei anteriormente, ele não seria onisciente. Seria? Respondam-me!

Saber todas as orações que são feitas na terra é apenas uma gotinha no oceano infinito do saber Divino.

Agora, responda-me: 'Se eu (Wagner) soubesse dos milhões e milhões de pedidos que todos os seres humanos fazem - mas não soubesse tudo sobre matemática, física, química, etc; nem soubesse tudo sobre as coisas presentes, passadas e futuras; nem soubesse como criar os seres do nada - seria onisciente?'

2) Mais: mesmo que alguém, ERRONEAMENTE, definisse onisciência como saber todas as orações; ainda assim, um santo não poderia ser tido como onisciente. Porquanto, quem disse que os santos tomam ciência de todas as orações? De 'todas'as orações, eles não têm conhecimento (ou, pelo menos, não precisariam tomar ciência)... Explico: imaginemos que 10 mil pessoas pedissem a intercessão de São Paulo e 5 mil a de São Francisco, além das milhões de outras que pediriam a outros milhares de santos; ora, S. Francisco não teria a obrigação de saber (nem saberia) dos pedidos que se fazem aos outros santos, ele só saberia dos 5 mil que lhe foram dirigidas. Já Deus, que é infinitamente superior a eles todos, além de saber dos 5 mil que foram dirigidos a São Francisco, ainda saberia dos 10 mil a São Paulo; afora, é claro, de Ele saber as tantas outras milhões de orações dirigidas aos demais santos. Veja, Deus sabe de tudo; na totalidade, por isso é que Ele é onisciente.

Resumidamente, Deus para ser Deus precisa saber a totalidade de pedidos dirigidos a todos os santos (e não simplesmente a quantidade de pedidos feitos a 'um' santo). Muito embora, creio eu, que o Altíssimo possa conceder a uma criatura santa a graça de conhecer todos os pedidos que são direcionados a todos os santos; porquanto, como comentei anteriormente, saber todas as orações, dirigidas a todos os santos, não é o mesmo que ser onisciente. Saber a totalidade dos pedidos de intercessão é uma ínfima parte, se comparada com a inteireza da sapiência divina.

3) Permitam-me continuar especulando. Agora, entrarei noutra linha de raciocínio... Quem disse que os santos para serem nossos intercessores teriam que, obrigatoriamente, ter ciência dos nossos pedidos?

Vou dar como exemplo um fato público, já que é transmitido pela televisão. A Fundação João Paulo II, que tem a TV Canção Nova, costuma mensalmente apresentar, em missa ou em programa de oração, as centenas de milhares de sócios e intercede pelas necessidades destes. Ora, é óbvio que, quando os membros da Canção Nova oram por tais milhares de sócios, eles não sabem quais são individualmente as necessidades dessas pessoas. Eles oram de forma 'generalizada'; tipo: "Senhor, ti pedimos por nossos sócios (sem especificar nomes ou pedidos)..."

Semelhantemente, nos céus, também os santos poderiam estar atendendo os seus devotos generalizadamente. São Judas Tadeu poderia estar, perante nosso Senhor Jesus Cristo, com a seguinte oração: 'Senhor Jesus, peço por todos os que, agora, na terra, solicitam o auxílio de minhas orações, atendei-os!'. [Se eu fosse um desses que estaria, na terra, pedindo que S. Judas Tadeu rogasse por mim; então, o Senhor Deus atenderia o meu pedido em consideração ao santo intercessor celestial. Sem o santo precisar saber quais são os meus pedidos ou de qualquer outro seu devoto.]

Em suma, por essa hipótese supracitada, bem se compreende que os santos poderiam ser solicitados como intercessores, mesmo que eles não tivessem ciência dos nossos pedidos... Veja, porém, que tal afirmação é apenas uma conjectura, uma especulação. Não estou afirmando (longe de mim!) que os santos não têm conhecimento de nossas solicitações. Pois acredito, piamente, que eles têm ciência sim! Quis, simplesmente, ampliar o leque de possibilidades argumentativas.

Certo estou, ainda, que há outras "explicações" possíveis de serem aventadas que justificariam, igualmente, a tomada de conhecimento que os santos têm dos pedidos que fazemos; contudo fico por aqui...

PS.: Tudo que escrevi está, e sempre estará, sujeito a um maior e melhor juízo, que é o da Santa Madre Igreja Católica. A qual tem o poder de corrigir, refutar, completar e tudo mais que for necessário para manter a integridade da Sã Doutrina.

Se, de tudo que escrevi, algo for proveitoso à defesa da Santa Fé Católica, louvado seja Deus! Entretanto, se elas (as especulações que levantei) forem apenas infundadas reflexões, desde já, peço-lhes que me escusem por essa minha grandiosa incompetência em tratar de temas tão importantes.

Fiquem com Deus!

Bibliografia

- BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.