RESILIÊNCIA SOCIAL NA MODERNIDADE BLOQUEADA

RESILIÊNCIA SOCIAL NA MODERNIDADE BLOQUEADA

Elizabete Ribeiro da Silva Oaski

Tutora: Adriana Paula

Universidade Federal do Espírito Santo

Especialização em Psicologia e Psicanálise

elizabete.r.oaski@hotmail.com

adrianinhapaula@hotmail.com

RESUMO

Esse artigo trata da resiliência social dos indivíduos frente aos fatores geradores de tensões e exploração dos menos favorecidos na sociedade pós-moderna em que se encontram inseridos. Aponta a capacidade humana de superar crises e adversidades relacionadas à tolerância da corrupção, da negação dos direitos constituídos, dentre outros. Aborda o conceito de resiliência associando-o à Psicologia, focando o indivíduo e suas relações em contexto familiar e social. A partir daí, traça um paralelo entre essas ideias e a Teoria da Modernidade Bloqueada, com ênfase no desamparo do indivíduo, buscando, assim, com base na visão de Freud, uma explicação para a aceitação e comodismo mediante mazelas políticas que acabam repercutindo, invariavelmente, no social.

Palavras-Chave: Resiliência, sociedade pós-moderna, desamparo, exploração, tolerância.

INTRODUÇÃO

Nesta sociedade da informação e da comunicação em que vivemos, urge uma reflexão acerca das relações sociopolíticas do cidadão do século XXI a fim de compreendermos as tendências do mundo moderno, bem como, a atuação dos indivíduos nas esferas políticas, econômicas e sociais do país, focando a busca de emancipação e superação dos fatores geradores da desigualdade e exclusão social.

Esse artigo visa uma sucinta descrição da resiliência do indivíduo e sua relação com os conceitos de dependência e desamparo abordados por Freud na Teoria da Modernidade Bloqueada.

O tema em questão traz à tona algumas questões relevantes sobre a sociedade e seus governantes, elucidando a tolerância do cidadão frente aos descasos e explorações ocorridos no país e a aceitação dos direitos confiscados.

Essa pesquisa foi estruturada no intuito de abordar os assuntos descritos acima, suscitando melhor compreensão dessa realidade social.

1 - CONCEITOS DE RESILIÊNCIA

Para definir o significado do termo resiliência que vem sendo utilizado há muito pela Física (Silva Júnior, 1972) afirma que a resiliência corresponde à capacidade máxima do material em suportar determinada deformação, sem, no entanto, ser danificado de forma permanente. Em se tratando de materiais, é possível medir, com precisão, em laboratório, por intermédio de fórmula matemática, a resiliência dos mesmos, sendo que, esta se dá de acordo com o tipo de material, ou seja, materiais diferentes apresentam diferentes módulos de resiliência.

Há aproximadamente trinta anos, o conceito de resiliência tem sido pesquisado na área psicológica, não havendo, contudo, a mesma precisão apresentada pela Física quanto a sua definição devido à complexidade dos aspectos relacionados ao ser humano, tendo em vista a diversidade dos mesmos. Nesta área, o termo costumava ser compreendido como invencibilidade ou invulnerabilidade. Segundo Werner & Smith:

(...) o psiquiatra infantil E. J. Anthony introduziu o termo invulnerabilidade na literatura da Psicopatologia do desenvolvimento para descrever crianças que, apesar de prolongados períodos de adversidades e estresse psicológico, apresentam saúde psicológica emocional e alta competência.

(Werner & Smith, 1992, P. 04).

Atualmente, é discutível a ideia de que a criança seja completamente isenta a qualquer forma de desajuste emocional e/ou social. Na concepção de Rutter (1993), a palavra invulnerabilidade dá margens para o entendimento de resistência total ao estresse, transmitindo a ideia de que o ser humano possua capacidade ilimitada para suportar o sofrimento. Menciona, ainda, que o referido termo passa apenas a ideia, no entanto, pesquisas sobre o caso têm demonstrado que a resistência humana ou resistência ao estresse é relativa, pois o grau da mesma oscila em conformidade com as circunstâncias, ao contrário do que foi sugerido por Werner e Smith (1992), pois envolve aspectos constitucionais e ambientais.

Assim, conforme afirmam Zimmerman e Arunkumar (1994, p. 04), resiliência consiste em “habilidade de superar adversidades, o que não significa que o indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade”. Uma das concepções de Martineau (1999, p. 73), a respeito desse assunto ilustra que o discurso experiencial pode ser interpretado a partir de vivências de adultos com vistas na forma com que cada um reage à influência dos inúmeros agentes externos, ou seja, a resiliência passa pelas diversas maneiras com que cada ser interpreta suas experiências.

A referida autora cita os estudos longitudinais de Werner e Smith (1986, 1993 e 1982, 1989, 1992, respectivamente), mencionando que tais estudos não se propunham especificamente à observação da resiliência, pois focavam, inicialmente, os efeitos cumulativos da pobreza, do estresse perinatal e o trato familiar insuficiente no desenvolvimento emocional, social e físico da criança.

Grotberg, (1995, p. 07) aponta “Resiliência é uma capacidade universal que permite que uma pessoa, grupo ou comunidade previna, minimize ou supere os efeitos nocivos das adversidades”. Estudiosos do assunto interpretam o desenvolvimento humano segundo as diferentes formas de adaptação do indivíduo desde a infância até a fase adulta, associando o ajustamento como “adaptações prévias” responsáveis pela sensação de proteção ou desamparo (...), segundo ilustram Hawley e Dehann (1996).

2 – A VISÃO DE MUNDO SEGUNDO FREUD

Segundo Comte, citado por Wladimir Safatler (2010, p. 15), “Freud compreende a vida social a partir do desenvolvimento progressivo de três grandes visões do mundo (weltanschauung): a animista, a religiosa e a científica. Cada uma equivaleria, de uma maneira muito aproximativa, a momentos de desenvolvimento subjetivo”.

Segundo o autor supracitado, tais visões:

(...) se organizam como correspondentes de um processo de maturação subjetiva que vai em direção ao narcisismo primário, com seus processos projetivos; posteriormente, à experiência do desamparo, com a internalização da Lei social através da constituição de uma instância moral de observação (o supereu) internalizada pelos sujeitos; por fim, ao esboço de realização de expectativas emancipatórias.

(WLADIMIR SAFATLER, 2010, p. 15).

Diante do exposto, pode-se compreender que a visão de mundo passa por esses três estágios, relacionando-se com o processo de maturação do indivíduo. Sendo que, o narcisismo, em consonância com as ideias apresentadas por Safatler (2010, p. 18), “é acima de tudo, modo de organização da experiência a partir da referência à imagem de si”.

Ampliando esse conceito para o foco religioso, o autor (p. 18) afirma que o sentimento de desamparo é associado por psicanalistas à angústia, “cuja fonte encontra-se nos desdobramentos do estado de prematuração do bebê ao nascer (com sua incompletude funcional e sua insuficiência motora)”. Esclarece, assim, que a necessidade de cuidados especiais inerentes ao recém nascido gera um vínculo de dependência com os pais em função de sua “situação de desamparo” (p. 19).

Neste contexto, atenta para a necessidade de uma visão holística sobre “o problema freudiano do desamparo”, apontando que, neste encontra-se “um verdadeiro diagnóstico social ligado a certo desencantamento do mundo” (Safatler, 2010, p. 19), oriunda de uma divergência do pensamento animista segundo o qual, o homem é parte integrante da natureza e as tendências ético-religiosas que rompem com tal crença, desencadeando, dessa forma, o desamparo.

Enquanto a visão de mundo embasada no animismo se relaciona à crença no potencial cognitivo, cujo poder seria capaz de grandes feitos em sua atuação na natureza, a visão religiosa, provoca uma situação de conflito com essa convicção, a partir da percepção do indivíduo de que não é totalmente ileso em suas relações, gerando o desamparo, diante do qual, refugia-se na religião, que o faz enxergar certas questões como a morte, por exemplo, despertando a sensação de impotência.

Tais circunstâncias remetem-nos tanto à formação familiar e cultural quanto à dependência de alguém que possa protegê-lo e ampará-lo. Assim, o indivíduo é capaz de anular sua posição existencial em função de um suposto líder protetor.

Esses reflexos incorporados às questões sociais influenciam na ideia de finitude e diminuição do “eu”, originando sentimentos recalcados e atitudes de submissão, comprometendo, dessa forma, o processo emancipatório. Desse modo, na concepção freudiana, ocorre o bloqueio, uma vez que, o homem moderno ao ser influenciado pelos conflitos e vínculos sócio-culturais, limita sua visão de mundo, daí, a Teoria da Modernidade Bloqueada.

2.1 – Modernidade Bloqueada e resiliência político-social

Na visão de Freud, é possível definir um diagnóstico social a partir da socialização dos cidadãos modernos, relacionando-o à maneira como os mesmos são impactados pela situação social do momento, destacando a família como principal fator, conforme ilustra Safatler:

Desta forma, tudo se passa como se Freud procurasse pensar o impacto dessa situação social de época na vida psíquica dos sujeitos modernos. A principal delas diz respeito à maneira com que tais sujeitos serão socializados no interior da família. Eles entram no núcleo familiar como quem procura, principalmente, um modo de defesa contra o sofrimento psíquico advindo do sentimento de desamparo.

(SAFATLER, 2010, p. 20).

Com base nesta concepção o autor associa a autoridade familiar à “autoridade que suporta outros vínculos sociais, como os vínculos religiosos ou políticos” (p. 20). Para ilustrar tal ideia cita a afirmação de Freud acerca do caso:

A exploração psicanalítica dos indivíduos ensina de maneira enfática que o deus de cada homem é formado a partir do pai, que a relação pessoal a Deus depende da sua relação ao pai carnal, que ela oscila e se transforma a partir desta última, e que Deus, no fundo, não é outra coisa que um pai elevado.

(SAFATLER, 2010, p. 21).

Tal princípio permite interpretar o “comportamento social das massas” com base nas relações oriundas do ambiente familiar, mais precisamente na dependência e submissão oriundas do núcleo familiar, no entanto, vale lembrar que “(...) todo vínculo à autoridade é baseado sob alguma forma de demanda de amor e reconhecimento; nunca é simplesmente o resultado de alguma coerção” (Safatler, 2010, p. 23).

Entende-se, assim, que a tolerância do cidadão à coerção social e as imposições de certas instâncias superiores não se justificam pelo sentimento de dependência e desamparo, logo, não seria viável atribuir adjetivo de resiliente ao indivíduo que suporta tais imposições. Conforme cita Safatler (2010):

Há nas massas humanas uma forte necessidade de uma autoridade que se possa admirar (...). A psicologia do indivíduo nos ensinou de onde vem tal necessidade das massas. Trata-se da nostalgia do pai.

(SAFATLER, 2010, p. 21).

Segundo definição de Martineau (1999, p. 103), “resiliência tem diferentes formas entre diferentes indivíduos em diferentes contextos (...)”. Muitos estudos sobre o assunto têm sido voltados para as camadas sociais menos favorecidas; inúmeras pesquisas realizadas sobre a resiliência atribuem-na à pobreza sob o prisma de inquietação por supostas ameaças à classe dominante.

Tal visão merece especial atenção, visando à prevenção da não utilização dessa temática como justificativa utilizada por políticas públicas que objetivam reforçar a desigualdade social no país aproveitando-se da falsa ideia de que as mesmas são oriundas do fracasso das famílias desfavorecidas, ao invés de desenvolver políticas destinadas ao crescimento econômico e à distribuição de renda de forma justa e adequada.

Em muitas situações, observam-se a patologização da pobreza atribuindo às famílias de baixa renda sentimento de conformismo com o caos social em que se encontram, numa análise que coloca a culpa na própria vítima do sistema excludente que a lesa de seus direitos constituídos na legislação vigente, tais como atendimento médico e educação de qualidade; segurança, lazer, dentre outros.

Em outros contextos históricos, percebe-se a legitimação da prática de segregação racial como o fascismo e o nazismo como necessidade do opressor em manifestar autoridade.

3 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE PESSOAS RESILIENTES

Nos dias atuais em que vivemos em constante correria, devido às exigências do mundo moderno e da própria sociedade excludente da qual fazemos parte, o sucesso dos indivíduos, seja em âmbito pessoal ou profissional, está intrinsecamente associado às habilidades da inteligência emocional desenvolvidas a fim de suportar, com eficácia, os momentos difíceis. Tais habilidades incluem o enfrentamento de crises e a resistência a situações complexas do cotidiano.

Uma das principais características desse indivíduo é a tolerância a mudanças, afinal o fenômeno globalizante e a evolução tecnológica passam por sucessivas e rápidas transformações, cujas descobertas nem todas as pessoas conseguem acompanhar em tempo hábil, conforme afirma Demo:

(...) o que fica da experiência da vida é o que se reconstrói com mão própria em contexto social, não o que se acumula de maneira reprodutiva; sobretudo diante da velocidade com que o conhecimento se inova e também envelhece; é improdutivo pretender acumulá-lo, porque isso só o faria envelhecer mais rapidamente; sua energia mais forte está, por isso, no saber pensar para melhor intervir, num processo permanente de renovação.

(Demo, 1997, p. 73).

As pessoas podem optar por ser resilientes ou automáticas, sendo que as consequências dessa decisão implicarão em sua qualidade de vida e no alcance ou não das metas traçadas, dos objetivos e dos próprios sonhos, afinal, o resultado de nossas ações depende da inteligência das atitudes desenvolvidas.

O sistema capitalista não considera o caráter humanista e sua característica emancipadora, assim, propaga a ideia de que o mundo é imutável e as relações humanas se resumem numa repetição do que já existe, oprimindo o cidadão, de modo camuflado, através da negação do que lhe é possível.

Por outro lado, requer dos indivíduos novos posicionamentos mediante situações adversas e práticas inovadoras que favoreçam a produtividade, daí a necessidade constante dos mesmos em analisar e rever as habilidades e competências fundamentais, a fim de encontrar seu espaço no meio social, conscientes de seus direitos humanos e da importância de se colocar como parte integrante do mundo.

O alarmante índice do exército de reserva, em virtude da concorrência e da exigência de qualidade e dinamismo neste mundo globalizado, faz com que a marginalidade torne-se cada vez maior. Assim, o cidadão necessita integrar-se às tradições sócio-culturais locais e ao mesmo tempo, ampliar seus horizontes em conivência com o desenvolvimento tecnológico. Na opinião de Zabala:

As razões que justificam a resposta à pergunta de quais serão as necessidades de todo tipo que terão nossos alunos quando forem adultos, ou seja, em pleno século XXI, e a avaliação das capacidades que se terá de potencializar para que possam superar os problemas e os empecilhos que surgirão em todos os campos (pessoal, social e profissional) não apenas estão sujeitos a uma análise prospectiva, como principalmente à consideração do papel que deverão ter na sociedade como membros ativos e co-partícipes em sua configuração.

(Zabala, 1998, p. 29).

As tendências da sociedade da informação denotam a preferência das empresas por mão-de-obra qualificada e funcionários com maior nível de escolaridade, no entanto, não se pode negar que o mercado de trabalho prefere mão-de-obra barata e menos qualificada, dessa forma, as pessoas que não tiveram oportunidade de se especializar acabam sendo exploradas.

Algumas delas por acreditarem em sua incapacidade para conquistar algo melhor, se deixam explorar. Outras se revoltam com a situação e insatisfeitas, aderem ao mundo do crime, passando a viver às margens da sociedade.

Vale ressaltar que existem outros fatores geradores da exclusão e que nem todos os casos de marginalidade são justificados por essas razões, contudo, é notório que a iniciativa e a força de vontade do indivíduo contribuem, de forma significativa, para legitimar a desigualdade social ou transformá-la.

Evidentemente, as habilidades cognitivas se desenvolvem de acordo com as peculiaridades de cada pessoa. Desse modo, alguns assimilam as informações com maior precisão e rapidez, enquanto outros apresentam maiores dificuldades para reter e acomodar as mesmas informações, demandando maior espaço de tempo.

Outro equívoco cometido até mesmo em ambiente escolar é o fato de associar a falta de êxito nos estudos ao baixo QI (quociente de inteligência), à falta de poder aquisitivo e a condição social, contudo, diversas pesquisas revelam que um ser humano só pode ser considerado incapaz de construir seu conhecimento por deficiências orgânicas.

Sendo assim, o aluno mal sucedido nos estudos não será, necessariamente, aquele de origem humilde, pois não há relação de inteligência com condições sócio-econômicas. Tal concepção pode funcionar como elemento castrador das habilidades cognitivas e sociais.

O indivíduo resiliente terá condições de superar esse rótulo, ao passo em que o não-resiliente aceitará a condição de impotência que lhe foi imposta. Segundo Silva:

O sucesso de um indivíduo (...) cada dia mais estará relacionado com sua capacidade de visualizar as tendências tecnológicas, em um horizonte de tempo mais profundo, para que, em tempo hábil, possa melhor se planejar, minimizando os espaços e aproveitando melhor as oportunidades emergentes.

(SILVA, 1995, p. 5).

Elevado número de brasileiros é lesado em seus direitos, vivendo sem o mínimo de condições adequadas para uma vida digna, saudável e com equalização de oportunidades que lhe permitam conquistar o que já é seu por direito.

Não se pode conceber que sua fala seja podada, afinal, a oratória tem grande representatividade no cenário mundial, pois globalização sugere contextualização, integração, dinamismo. O que se vê, no entanto, é a falta de contextualização, sendo que, este termo está em voga neste século em que o principal não é apenas o foco, mas a visão global de mundo e de vida para que se possa entender as coisas e as pessoas. Vale ressaltar que as condições atuais apontam para o reconhecimento dos valores do espírito, pois consideram as inteligências múltiplas e priorizam a inteligência emocional.

Diante disso, pode-se concluir que em nossos dias não há mais espaço para os “mandonismos” políticos do presente. O cidadão precisa se impor como sujeito de sua história e construí-la de modo que seja um ator social ao invés de apenas coadjuvante.

Enquanto não houver mudanças neste sentido, o cidadão brasileiro menos favorecido continuará vivendo à margem da sociedade, sobrevivendo do subemprego, excluído da sociedade que exige formação e qualificação profissional, mas em contrapartida, explora os indivíduos não contemplados com um diploma, prevalecendo-se dessa situação para se utilizar de sua força de trabalho mal remunerada e alegando a importância da resiliência na vida dessas pessoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A resiliência é um termo muito comentado no momento, sendo utilizada há mais tempo pela Física, área que a conceitua como capacidade máxima do material para suportar a deformação sem sofrer alteração permanente. A resiliência de tais materiais pode ser medida com precisão através de fórmula matemática, em laboratórios, observando-se que materiais diferentes apresentam diferentes reações nesse sentido.

Em Psicologia, não há a mesma precisão, pois a complexidade humana não a permite. Alguns estudiosos dessa área a concebem como sinônimo de invencibilidade ou invulnerabilidade.

Outros, no entanto, discordam dessa concepção, pois alegam que a mesma sugere que a criança seja completamente isenta a qualquer forma de desajuste emocional e/ou social, fato discutível para alguns pesquisadores do caso, pois o termo invulnerabilidade quer dizer resistência total, supondo que a capacidade humana para suportar o sofrimento seja ilimitada, no entanto, na prática, não é o que ocorre, afinal, essa resistência é relativa e varia de acordo com as circunstâncias por envolver circunstâncias constitucionais e ambientais.

Além disso, segundo Zimmerman e Arunkumar (1994, p. 04), ser resiliente é possuir “habilidade de superar adversidades, o que não significa que o indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade”.

É válido lembrar que essa capacidade pode ser mais acentuada em algumas pessoas do que em outras, pois associa-se às peculiaridades dos indivíduos.

Assim, relacionando o referido assunto à teoria da Modernidade Bloqueada observa-se a possibilidade da resiliência social manter íntima relação com a mesma, já que na visão de Freud, a autoridade predominante nas relações sociais vincula-se a três importantes aspectos do desenvolvimento humano que nortearão sua visão de mundo, a saber, visão animista, religiosa e científica.

Entende-se, assim, que a visão de mundo parte, inicialmente, da referência que o indivíduo tem de dele próprio. Em seguida, essa experiência se mescla ao foco religioso, que por sua vez, gera conflitos quanto à estabilidade originada da relação homem/natureza, ocasionando o sentimento de desamparo. Considerando que o ser humano ao sentir-se desprotegido tende a buscar apoio na figura que lhe transmite segurança, subentende-se que em âmbito social a imagem do pai enquanto figura protetora e, por isso, dominador da situação, é substituída pelo líder religioso e/ou político que apresente tais características.

Assim, se explicaria a submissão e a dificuldade em alcançar a emancipação. Tais fatos, porém, são confundidos com tolerância exacerbada e aproveitados por políticas descomprometidas com a qualidade de vida da população e os direitos humanos assegurados na legislação do país.

Embora seja possível ocorrer mudanças em qualquer sociedade, ao analisar o cenário sociopolítico e econômico do presente, associando-o à teoria freudiana da modernidade bloqueada, subentende-se que, as mudanças ocorridas na estrutura familiar, nas diferentes posturas adotadas pela figura de pai, fato que interfere na aquisição dos valores incorporados pelos indivíduos, principalmente, no que tange a autoridade e o sentimento de desamparo, certamente, influenciam as questões políticas, econômicas e sociais, contudo, há também que se considerar o aspecto da individualidade, o que nos remete à ideia de que o bloqueio passa pela personalidade de cada indivíduo, pela forma como cada um escolhe manifestar sua existência.

Isso implica a exposição ou omissão de opiniões e atitudes de aceitação ou questionamento frente às situações de adversidades e desrespeito aos direitos humanos nesta excludente e concorrida sociedade da informação e do conhecimento.

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http://www.rhportal.com.br/artigos/wmprint.php?idc_cad=53d45uben

Acessado em 11/11/2010

Bete Ribeiro
Enviado por Bete Ribeiro em 23/11/2010
Reeditado em 18/08/2012
Código do texto: T2633077
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