Quase Ou Presque - Não É De Fernando Veríssimo.


Recebi o texto abaixo da amiga poeta e professora de literatura Terezinha de Lisieux Batista Souza,conhecida mais por Lis ou Lisieux... Como sempre há textos escritos por outras pessoas que são colocadas como se fosse um outro autor. E o mesmo que acontece com Mario Quintana, também acontece com outros grandes escritores como o caso de Fernando Veríssimo...

Ele próprio já escreveu a respeito, dizendo que ficou muito decepcionado quando o homenagearam certa feita com este texto, porque, entre tantos textos dele, escolheram logo um que não era...

Isso é triste, pois volto a dizer que deixamos de prestigiar um bom escritor por falta de autoria,quando não são colocados nomes de famosos escritores são colocados como desconhecidos,ás vezes tem até o nome do autor e não é colocado.

Isso já aconteceu com vários escritos meu... E isso me aborrece profundamente, pois todo o trabalho que tenho em criar conferir por várias vezes o texto, fica como um nada, isso quando não repassam com palavras que não escrevi.

Engano acontece, eu mesma repassei um texto de Mário Quintana pensando que era dele. Quando soube fui pesquisar sobre o autor e suas obras. E de fato não era, e vi que seu estilo de escrita é outro.

Graças a essa poeta e professora de literatura tenho tido boas informações e estou deixando aqui na minha escrivaninha para que todas as pessoas possam se informar e não seguir a risca tudo que lê na Internet ou que nos enviam, principalmente neste caso.

Abaixo, está o texto do Luis Fernando em que ele fala que não escreveu o Quase (Presque em francês), do qual, infelizmente, nem o próprio Veríssimo sabe o autor... 


PS. O autor de Quase" - Sarah Westphal
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Presque
Luís Fernando Veríssimo

A Internet é uma maravilha, a Internet é um horror. Não sei como a Humanidade pôde viver tanto tempo sem o e-mail e o Google, não sei o que será da nossa privacidade e da nossa sanidade quando só soubermos conviver nesse syberuniverso assustador.

O mais admirável da Internet é que tudo posto nos seus circuitos acaba tendo o mesmo valor, seja receita de bolo ou ensaio filosófico, já que o meio e o acesso ao meio são absolutamente iguais. O mais terrível é que tudo acaba tendo a mesma neutralidade moral, seja pregação inspiradora ou pregação racista — ou receita de bomba — já que a linguagem técnica é a mesma e a promiscuidade das mensagens é incontrolável.


Não temos nem escolha entre o admirável e o terrível, pois acima de qualquer outra coisa a Internet, hoje, é inevitável. Uma das incomodações menores da Internet, além das repetidas manifestações que recebo de uma inquietante preocupação, em algum lugar, com o tamanho do meu pênis, é o texto com autor falso, ou o falso texto de autor verdadeiro.

Ainda não entendi o recato ou a estranha lógica de quem inventa um texto e põe na Internet com o nome de outro, mas o fato é que os ares estão cheios de atribuições mentirosas ou duvidosas. Já li vários textos com assinaturas improváveis na Internet, inclusive vários meus que nunca assinei, ou assinaria.

Um, que circulou bastante, comparava duplas sertanejas com drogas e aconselhava o leitor a evitar qualquer cantor saído de Goiânia, o que me valeu muita correspondência indignada. Outro era sobre uma dor de barriga desastrosa, que muitos acharam nojento ou, pior, sensacional.

O incômodo, além dos eventuais xingamentos, é só a obrigação de saber o que responder em casos como o da senhora que declarou que odiava tudo que eu escrevia até ler, na Internet, um texto meu que adorara, e que, claro, não era meu. Agradeci, modestamente. Admiradora nova a gente não rejeita, mesmo quando não merece.

O texto que encantara a senhora se chamava “Quase” e é, mesmo, muito bom. Tenho sido elogiadíssimo pelo “Quase”. Pessoas me agradecem por ter escrito o “Quase”. Algumas dizem que o “Quase” mudou suas vidas.

Uma turma de formandos me convidou para ser seu patrono e na última página do caro catálogo da formatura, como uma homenagem a mim, lá estava, inteiro, o “Quase”. Não tive coragem de desiludir a garotada. 

Na Internet, tudo se torna verdade até prova em contrário e como na Internet a prova em contrário é impossível, fazer o quê? Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor do “Quase” para agradecer a glória emprestada e para lhe dar um recado.

No Salão do Livro de Paris, na semana passada, ganhei da autora um volume de textos e versos brasileiros muito bem traduzidos para o francês, com uma surpresa: eu estava entre Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e outros escolhidos, adivinha com que texto. Em francês ficou Presque .