Pois é, poesia…

O mês de março sinaliza o reinício da fase produtiva na vida das pessoas e das empresas e, também, homenageia a Mulher e uma das Artes mais etéreas: a Poesia

No dia 14 de março, comemora-se o Dia Nacional da Poesia e, no dia 21 do mesmo mês, o Dia Mundial da Poesia.

Nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, grupos de poetas e simpatizantes se congregam numa festividade intensa, ocupando diversos “fronts” usuais e outros nem tanto. Podemos acessar maiores detalhes através deste site: semana da poesia

Mas, como anda a inserção da poesia em nosso cotidiano. Nestes céleres e conturbados tempos?

Não falo da poesia, apenas, finamente impressa a 4 cores, em livros quietamente repousando nas livrarias.

Esta alcança uma pequena parcela do que é atualmente produzido. Uma parte deve-se ao preço considerável da preparação, edição e distribuição de uma obra. Inclua-se nisso tudo, também, a noite de autógrafos, o material promocional, a colocação do livro em Bienais e imagine o custo. Outra, diz respeito à conscientização ecológica que vai se solidificando, paulatinamente, junto à sociedade.

Pois, se possuímos outros suportes para a literatura, por que não se ter uma postura ecológica saudável e pouparmos mais árvores neste planeta já bastante devastado...

Assim, a poesia está presente no cotidiano para quem tem, diríamos, “olhos de ver”. Embora esta seja uma discussão que, ainda, se trava no meio cultural, as letras de música, inúmeras vezes, são exemplos de pura poesia.

O que dizer destes versos de Caetano Veloso: “a força da grana / que ergue e destrói coisas belas/a feia fumaça que sobe/ apagando as estrelas”.

Desta preciosidade de João Bosco:”luz /talismã/ misteriosa kubanacan/ essa noite /o que mais quero é ser/ mil e um pra você" .

Quem sabe, destas inspiradas palavras de Djavan:”e na dor/ eu passo um giz/ arcoirizando a solidão/ na lição que o sol/ me traduz/ viver da própria luz”.

Ou, ainda, do lirismo arrebatador de Lô Borges: “Eu preciso/ dormir em paz/ como o touro e a rosa/ eu preciso levar você/ e dizer que te amo”.

São incontáveis os exemplos e, cada um, terá suas preferências e poderá defendê-las em animadas audições coletivas ou na mesa festiva de um happy hour. Quem sabe, até, cantarolá-la num momento furtivo de exaltação...

Sob outro prisma, a poesia, também, vai marcando presença. Uma outra face da resistência poética, são os grupos organizados em torno dela na INTERNET. Eles são vários e abarcam todos os estilos. Vão desde o poema breve, minimalista, passando pelos sonetos até desaguar na poesia visual e concreta.

Nas ondas do cyberespaço a divulgação é, muitas vezes, gratuita. Vates diversos propagam suas produções, recebem e emitem comentários, interagem.

Um contraponto contemporâneo à poesia dos cadernos culturais, nos jornais da grande imprensa que está, infelizmente, quase finada. Esta obedece à lógica do capitalismo avançado e vive de inversões publicitárias. Como reza a lenda: poesia não vende...

Deste modo, o espaço internético, tornou-se patrimônio precioso.

Nele, navegam poetas amadores e, também , autores consagrados como Ferreira Gullar e Fabrício Carpinejar. Ambos, tem seu site e fazem um uso positivo das ferramentas tecnológicas. Muitos jovens poetas (e alguns nem tanto) buscam, naturalmente, seu espaço. A moderna poesia brasileira produz exemplos significativos como estes:

Homens erguem espadas

Mulheres carregam a cruz

[...]

Cada qual

com sua dor e culpa

girando os

ponteiros da mesma

roda.

Raiça Bomfim In:

http://raibomfim.blogspot.com

(um poema sobre os símbolos do feminino e do masculino)

Ou este:

Dá-me tua mão

tarde de maio

tua chuva fina

teus filtros de memória

tua claridade.

O coração persiste

na lenta construção

das manhãs.

Jorge Adelar Finatto

http://www.ofazedordeauroras.blogspot.com

Ou, ainda, este, finalizando:

doa-se

um domingo

abandonado:

dócil

castrado

vacinado

vermifugado

domingo sem carrapatos

doa-se

um domingo amigo

que não estraga sapatos

tímido domingo

não late

não morde

não faz alarde

domingo de pequeno porte

ideal para passear

no shopping

Valéria Tarelho

In Poemas que latem ao coração, SP, 2009

Fiquemos, pois, com a fruição poética. Mesmo, nestes momentos de pragmatismo e velocidade. A poesia é um bálsamo, um retiro, um oásis para a alma. Nela, o humano imperecível se mostra, sem rodeios ou subterfúgios. Então,vamos dar parabéns à aniversariante. Palmas para ela, Senhora Poesia, que ela merece...

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 15/03/2010
Reeditado em 16/03/2010
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