Idiomas na educação infantil

Já estamos nos aproximando de mais uma volta às aulas. As matrículas das crianças já foram feitas. Muitos pais aproveitam para colocar os filhos em cursos de idiomas, intensivos ou de longa duração. Sem dúvida, o conhecimento de uma segunda, terceira língua é cada vez mais exigido das pessoas. Mas, qual a idade certa para começar a aprender outra língua? Até que ponto vale a pena sacrificar o tempo livre da criança? Como conciliar as atividades de modo a não prejudicar o desenvolvimento e a saúde?

As escolas particulares e as especializadas em línguas oferecem a opção do ensino de inglês, espanhol, alemão etc. já nos primeiros anos do ensino básico, a partir dos três ou quatro anos de idade. A introdução precoce às línguas estrangeiras também vem acontecendo em diversas escolas públicas do país. Além disso, as crianças têm acesso a outras línguas cada vez mais cedo, por meio de televisão, jogos eletrônicos, músicas, filmes, internet e até pelas embalagens de alimentos.

A opção de matricular (ou não) o filho em um curso, tanto no ano letivo como durante as férias, cabe aos pais e responsáveis. Mas será que uma aula de idiomas para crianças deve seguir a mesma abordagem convencional de um curso para adultos? Um estudo da Universidade Estadual de Londrina (UEL) confirma que não. As autoras fizeram um levantamento das publicações e cursos de inglês disponíveis para crianças, bem como dos cursos de formação de professores de inglês. A pesquisa, publicada no final de 2009 em uma revista especializada em lingüística, constatou que os cursos de Letras preparam para o estudo da literatura estrangeira e a prática didática, mas dão maior ênfase aos últimos anos do ensino fundamental; já os cursos de Pedagogia estão mais voltados para a teoria e psicologia da educação para as séries iniciais. Ou seja, segundo o estudo, a falta de formação específica pode produzir docentes inseguros e crianças desmotivadas.

As autoras defendem que o ensino de idiomas na educação infantil deveria privilegiar os jogos, as brincadeiras, e a vivência de experiências. Essas atividades lúdicas constroem valores para o desenvolvimento do indivíduo. Em condições favoráveis, a aprendizagem de idiomas na infância pode sim levar a criança a ampliar seus horizontes e romper barreiras culturais. Como exemplo, o artigo cita uma atividade onde os pequenos alunos aprendem a fazer pipoca, a partir de uma música que apresenta as instruções em inglês. O objetivo final não foi aprender a canção, mas sim comer a pipoca; mas as crianças nunca mais se esquecerão da experiência.

E a formação de professores, segundo as autoras, deve possibilitar à criança o desenvolvimento de várias habilidades, como: auto-confiança, percepção dos próprios limites, auto-expressão, interação social, respeito ao próximo e ao ambiente, contato com manifestações culturais, entre outras. As crianças de hoje vivem constantemente inquietas, por influência das novas tecnologias da informação (computador, celular, Internet). Também essa decisão (de usá-las ou não) cabe aos pais e responsáveis; mas de qualquer forma, o professor deve se empenhar na formação integral da criança, incluindo seu desenvolvimento motor, social, emocional, afetivo, etc. E motivá-las à descoberta, interação, desafio e convivência com as tecnologias dessa nova geração.

Autor: Rodolfo Schleier

Com informações de:

Vera Lucia Lopes Cristovão, Raquel Gamero. Brincar aprendendo ou aprender brincando? O inglês na infância. Trabalhos em Lingüística Aplicada, volume 48, número 2, Jul/Dez 2009.