Os recursos semânticos na palavra "poética" de José Aras: Construção de Significados e Contextos.
A recursividade semântica na obra “No Sertão do Conselheiro”, de José Aras.
TÍTULO: Os recursos semânticos na palavra "poética" de José Aras: Construção de Significados e Contextos.
Na linguagem, especificamente na regional, é significativo e freqüente o uso de neologismos e metáforas que expressam criatividade da língua, dando significado e estilo a palavra. Através desses recursos lingüísticos, a linguagem regional tem uma característica própria e revela uma marca cultural que faz com que a mesma incorpore variações do vocabulário local.
O tema deste artigo tem como proposta destacar as palavras dentro da obra de José Aras, para melhor percebê-las fora e dentro do seu contexto social, enfatizando a recursividade semântica da linguagem regional. Trata-se de perceber as características regionais, no que se refere a palavra e seu uso.Neste artigo procuramos mostrar a importância da obra de José Aras, no sentido de descobrir até que ponto o autor consegue, através do ritmo cordelista de seus textos poéticos, expressar a autenticidade do homem sertanejo.
Esse estudo tem um valor histórico regional, visto que o autor José Aras, utiliza na sua obra palavras verbalizadas. São muito comuns palavras diversificadas dentro e fora do contexto da obra, no sentido metafórico. Observa-se que na obra de José Aras, no sertão do Conselheiro, o autor consegue revelar ao leitor atento algumas peculiaridades lingüísticas, pois usa recursos semânticos para valorizar a palavra política.
Percebe-se que ao utilizar os recursos semânticos o autor expressar com sutileza uma face da literatura regional e valoriza o homem sertanejo no tempo em que destaca a palavra e sua forma semântica. Sendo assim, possibilita a seus leitores uma compreensão do sentido da palavra, poética que pode ser enriquecida ainda mais quando se lança mão de alguns elementos lingüísticos.
Por conseguinte, observa-se que o autor deixa transparecer suas reminiscências através da obra em estudo, bem como sua capacidade criativa de trabalhar com a linguagem enfatizando, assim a importância literária da sua composição artística para o município euclidense.
Com o uso de elementos da literatura de cordel, o autor evoca a natureza, o ritmo e o universo do sertanejo.
O ritmo cordelista é importante por conta da valorização cultural do homem sertanejo que encerra em si, pois o mesmo é capaz de fazer sobreviver a literatura popular.
O ritmo contribui para construção dos sentidos da temática sertaneja e para fixá-los na memória. É construído, também a partir de palavras e expressões regionais que se combinam através da sonoridade, gerando com isso, significados que dizem respeito e contemplam a temática sertaneja.
Talvez o ritmo seja importante para composição da poesia e principalmente na literatura de cordel, por possuir um riquíssimo conjuntos de sons harmonizados representados pelas rimas, característica do ritmo dessa forma o texto vem suscitar uma reflexão analítica e uma compreensão do sentido da palavra com seus recursos lingüísticos. Busca-se observar os recursos metafóricos rítmicos que a palavra expressa por meio de sua peculiaridade e especificidade bem como através dos neologismos. Para tanto, será preciso recorrer ao pensamento de alguns teóricos que tratam da linguagem como: Frances Vanoye, Francisco Borba, Saussure, Fiorin, Platão.
O sentido conotativo é marcante nas poesias, pois a palavra perde seu valor denotativo e adquire outros significados, uma vez que no discurso literário, sobrepõem-se ao significado denotativo de um termo significados paralelos. São impressões, valores que constituem o sentido conotativo. Sabe-se que a linguagem permite muitas alterações de significados e violações semânticas. Na obra No Sertão do Conselheiro, de José Aras, pode-se perceber a presença do signo conotado, que é o acréscimo de um significado a outro, quando existe entre eles uma relação de semelhança. Conforme observa-se na estrofe do poema “Meu Sertão de José Aras”:
“Neste lugar que nasci
Em que brinquei e que sorri.
Por estes campos desertos
Em saltos de meninice
O Meu peito é livro aberto
Que agora tenho por cento
Chegando a minha velhice.
(José Aras, 1941, p. 58)”
Percebe-se também no texto de José Aras palavras que fora, do contexto, adquirem vários sentidos o que justifica a diversidade da linguagem. Sentido estes que recebem o nome de polissemia, o que fica melhor expandido nas palavras de Platão e Fiorin.
“Numa língua qualquer é muito comum ocorrer que um plano de expressão (um significante) seja suporte para mais de um plano de conteúdo (um significante) seja suporte para mais de um plano de conteúdo (significado) mesmo termo tenha vários significados. Uma vez, a palavra perde seu caráter polissêmico, isto é, deixa de admitir vários significados específicos no contexto (2003, p. 112 e 113)”.
Desta forma a linguagem é um sistema de signos, empregada para definir a língua como um conjunto de elementos que determinam suas inter-relações, segundo VANOYE:
“As línguas são casos particulares de um fenômeno geral, a linguagem, que é estuda pela lingüística geral. Ainda que não exista a linguagem verbal universal a linguagem geral esforça-se no sentido de isolar e estudar as características comuns constitutivas das diferentes línguas (2003, p. 21)”.
Segundo Borba grande parte da interação social se faz pela linguagem que por isso, aparece como fonte geradora de sentido e por conseguinte de signo. Nesse conjunto de significação do mundo com a realidade, a literatura desempenha um papel importante no tocante a área de significação, pois a literatura é geradora de sentidos e de signos. Signos estes que só geram sentidos se estiverem inseridos em um contexto. Conforme Borba:
“Se se entender, de um modo bem amplo, a significação ou sentido como possibilidade de interpretação, facilmente se perceberá que toda atividade social é produtora de significações uma vez que a todo momento estamos sendo chamados a interpretar (entender, avaliar, reagir) às mais diversas situações comunitária (2003, p. 225).”
A linguagem com o seu dinamismo tem o poder de manipular os diferentes sentidos disponíveis, sendo assim verifica-se as variedades de processos que enriquecem semanticamente o sistema lingüístico. Para Marques:
“A linguagem não pode ser vista como fenômeno independente dos condicionamentos históricos, culturais, sociais e dos traços psicológicos dos indivíduos que a falam. O estudo do significado é o estudo da própria linguagem, uma vez que a língua serve para exprimir idéias e vincular uma dada representação e uma determinada interpretação da realidade. Assim, a linguagem é os fenômenos simbólicos, inseparáveis da filosofia, da psicologia e da cultura. Os elementos do plano formal, as palavras e seqüências de constituintes através das quais a linguagem se manifesta, só seriam interpretáveis tendo em conta o contexto - situação, circunstâncias, características dos falantes - em que a língua é utilizada.” (2003, p. 42).
A significação é veiculada por signos e faz parte da nossa vida social, mas esses signos só tem significados, porque são conjuntos organizados, sendo assim atividade social produz sistema de signos para transmitir significações que produz. Em toda unidade encontra-se um ou mais significados disponíveis para o falante. Conforme Borba:
“A distinção ente unidades lexicais e gramaticais tem servido de guia para se agruparem os significados em dois conjuntos: uma unidade tem significado lexical, quando se refere a alguma coisa no mundo exterior, quer dizer, é uma representação lingüística da realidade. Ex: nomes como Rosa, Marta, adjetivos como verde, escuro e verbos como cortar, socorrer, tem basicamente um valor lexical e objetivo. Uma unidade tem significado gramatical quando seu valor esta ligado ao sistema lingüístico de que faz parte, como um conjunto de categorias da língua. (2003, p. 230).”
É desta forma que a palavra só gera significados e sentidos, se a mesma estiver inserida em um contexto cultural (hábitos, crenças e atividades da região). Sendo assim é perceptível na obra No Sertão do Conselheiro que o autor faz o uso de palavras e expressões na qual redimensiona semanticamente um estilo próprio. De acordo com a observação vista no livro de José Aras estas palavras ficam melhor exemplificada na citação abaixo:
“Assim toda mudança de sentido é uma inovação semântica, que deve ser interpretada como um acontecimento histórico particular, que tem causas lingüísticas próprias, ocorre num momento histórico e num dado meio social, condicionada por um conjunto de circunstância que não só lhe dão origem, mas propiciam a sua difusão e generalização no uso da comunidade. (2003. p.35)”.
Além do sentido conotativo das palavras, há também a metáfora a qual é muito freqüente na obra No Sertão do Conselheiro de José Aras, onde pode-se observar claramente através de seus poemas.
Os procedimentos a serem utilizados no desenvolvimento deste artigo d poderão ser úteis na investigação do caráter significativo da palavra, compreendendo os recursos expressivos que a mesma transmite, na obra de José Aras, No Sertão do Conselheiro.
A obra suscitada à leitura traz um embasamento histórico e literário; histórico no sentido de que o autor utiliza as reminiscências peculiares dos municípios que foram “palcos” centrais da guerra de Canudos, Euclides da Cunha, Monte Santo, sendo que o autor aborda com mais ênfase o município de Euclides da Cunha. Fala dos primeiros moradores, mostra uma árvore geneológica deste município como também trata sobre sua colonização, religião, artesanato, política. A obra é literária por evidenciar traços da literatura de cordel, como também a cultura do homem sertanejo a identidade e as questões regionais, os recursos lingüísticos que este homem é capaz de produzir. Por tanto a caracterização da área de estudo deste projeto de pesquisa será a obra de José Aras, No Sertão do Conselheiro, no que se refere as questões literárias.
O escritor José Aras, nasceu em 28 de julho de 1893, no sítio Lagoa da Ilha, município de Cumbe (atual Euclides da Cunha) freguesia da S.S Trindade de Massacará, e faleceu em Euclides da Cunha em 18 de outubro de 1979.
Foi autodidata, poeta, repentista, critico dos costumes, prosador. Fundou o povoado de Bendegó e neste mesmo instalou o museu histórico Guerra de Canudos, sendo visitado por personagens ilustres e estudiosos do Brasil e exterior.
Teve uma produção literária vasta, escrevendo poemas e provas. Foi destaque no jornal “O Globo”, “O Estado de São Paulo”, “A Tarde”, “O Farol”, revistas: “Veja”, “Iris”, “Revista Brasiliense”. Recebeu títulos de cidadania, diploma e medalhas de órgãos públicos.
A escolha desta obra deu-se primeiramente pelo fato de José Aras, seu escritor do município de Euclides da Cunha, como também pelo valor histórico, regional e literário desta obra. Depois, a escolha se pautou na importância literária e poética que o autor conseguiu transmitir em sua obra com o jogo de palavras e seus recursos rítmicos, metafóricos, os neologismo evidenciando os vários sentidos que a palavra transmitir dentro do contexto em que esta evidencia puramente busca-se compreender com estudo o jogo de sutilezas que marca o livro de Aras, pelo uso expressivo da palavra.