Jurandir Paraibano
Oito de junho de 2009. A comunidade upenina está reunida em caráter extraordinário para comemorar o octogésimo aniversário de seu decano, o upenino Jurandir Paraibano.
A Comunidade Upenina, atualmente presidida pelo Prof. João de Sousa, é formada pelo grupo que integra a UPE – União Poxorense de Escritores, uma entidade cultural, com sede na cidade de Poxoréu, MT, idealizada pelo Prof. Izaias Resplandes de Sousa, torixorino mato-grossense, nascido em 25 de maio de 1958.
Poxoréu não foi uma cidade planejada. Nasceu do acaso, em conseqüência das primeiras descobertas de diamante na região, pela Entrada de João Ayrenas Teixeira, em junho de 1924. De forma que, se fosse honrada com um fundador, esse certamente teria que ser esse intrépido e audaz garimpeiro, o qual, apesar de já ter sido o patrono das Escolas Municipais Reunidas, com a desativação das mesmas, hoje não é homenageado nesta cidade, salvo por um dos versos “resplandescentes” introduzido na seguinte estrofe de “Exaltação a Poxoréu”: “Um grito alto, bem alto, eleva-se hoje ao céu, pois na terra dos bororos, já existe Poxoréo. Foi Antônio de Carvalho, seu grande descobridor e João Ayrenas Teixeira, o seu nobre fundador”.
O poema “Exaltação a Poxoréo”, foi escrito em 02 de novembro de 1987. Foi usado como tema de abertura do I Festival da Canção de Poxoréo (I FESCAMPOX), onde o poxorense mato-grossense upenino Amorésio Sousa Silva, cantando em defesa de “José, menino levado, que passava o dia a brincar, que tinha mede de assombração” e coisas do gênero.
O poema “Exaltação a Poxoréo” foi republicado no livro “Linhas Históricas de Poxoréo”, escrito pelo upenino Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, no ano de 2001 e que traz “um olhar sobre o nascimento dos Distritos numa contribuição às escolas e à sociedade” poxoreana. Gaudêncio é um poxorense mato-grossense nascido no dia 19 de junho de 1966. Seu primeiro trabalho publicado foi o livro “Saudades e Melancolias”, no qual contou com a parceria do upenino paraisense poxorense mato-grossense Kautuzum Araújo Coutinho, nascido em 8 de fevereiro de 1959.
O I FESCAMPOX teve 137 músicas inéditas, foi apresentado pelo locutor e bioquímico Nicolau El Tauil, acompanhado pela exuberante Sônia Vasconcelos. Na sua primeira noite contou com o brilhantismo costumeiro do violeiro pantaneiro Aurélio Miranda, cantador, dentre tantos sucessos, de “Minha Doce Poxoréo”, um hino para esta cidade, o qual todos nós gostamos de cantar e cujo refrão diz assim: “Quando me perguntam como foi fundada, a minha amada e doce Poxoréo. Esta pergunta prezo em respondê-la, que ela é uma estrela caída do céu”.
A UPE é composta por um grupo de escritores e artistas das letras, das artes e das ciências, tendo sido fundada em 31 de março de 1988, dia em que teve início o golpe de Estado que interrompeu o governo do Presidente João Belchior Marques Goulart, o Jango, vice-presidente eleito democraticamente pelo PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, ao qual também já pertenceu a upenina soteropolitana baiana Josélia Neves da Silva, nascida em 18 de outubro de 1940.
Jango chegou ao topo do governo brasileiro na mesma eleição que conduziu Jânio da Silva Quadros ao poder, no ano de 1961, o mesmo ano em também renunciou ao cargo, subtraindo a força a UDN, partido pelo qual se elegera e ao qual também pertencia o upenino Joaquim Nunes Rocha, falecido em 20 de outubro de 2001, em Cuiabá, Capital de Mato Grosso.
Rochinha veio de Goiás, da terra das preciosas esmeraldas do Anhangüera, para ser em Mato Grosso um dos construtores da cidade de Poxoréo, nossa eterna Capital dos Diamantes. Herdou a tenacidade e a firmeza das pedras preciosas, conservando a lucidez e sendo sempre um homem brilhante e ativo em todos os seus 85 anos de vida, advogando as causas dos mais pobres e menos favorecidos da fortuna, mediando, assim, os litígios sociais de sua gente.
A Presidência da República foi declarada vaga pelo Congresso Nacional no dia 01 de abril de 1964. Jango foi afastado do poder no dia da mentira e, em onze de abril, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assumiu o comando da ditadura militar que até 1985 subjugou a democracia brasileira.
E conversa vai, conversa vem. São tantos os pensamentos. Seria preciso muito espaço e muito tempo, o qual parece que hoje não temos mais, pois todos correm de um lado para outro como se o mundo estivesse acabando. Aliás, os ficcionistas americanos de Holiwood já estão planejando o fim do mundo para o ano de 2012. Vai lá que isso seja verdade, então é preciso ganhar tempo.
Muito bem. A reunião extraordinária upenina está sendo realizada na Chácara Linda Flor, à sombra aconchegante de seu bacurizal, às margens do Rio Areia, na cidade de Poxoréu, MT, pertencente ao upenino itabaianense paraibano Jurandir da Cruz Xavier, nascido em 06 de novembro de 1929, decano da União Poxorense de Escritores.
O Rio Areia é na verdade um ribeirão. Já foi cantado e decantado em versos e em prosa. Expressando sua verve poética sobre essa interessante corrente de águas, o upenino torixorino Resplandes de Sousa, disse: (Areia), “eu, um dia, te vi lindo, lindo rio de águas cristalinas, as doces imagens refletindo, das poxorenses moças meninas. Vi senhoras de baianos, nossos garimpeiros pais, encher pipas, lavar roupas e panos, em suas águas tão cristais. Vi o multicor da vida, cantado por bicudos e pardais, que viviam na guarida de teus capões marginais”.
A Chácara Linda Flor é a área remancescente da antiga Granja Linda Flor, adquirida pelo ex-vereador por Poxoréu Joaquim da Cruz Xavier, localizada no polígono da zona urbana da cidade de Poxoréu.
Joaquim da Cruz Xavier é um Paraibano. A capital da Paraíba é João Pessoa. Fica na Ponta do Seixas. É o extremo oriental do Brasil, tendo como longitude 34º37’30” W e latitude 07º09’28” S. Mas o Joaquim Paraibano não é da capital. Ele nasceu em Itabaiana, a rainha do Vale do Paraíba, longitude 35º19’58” e latitude 07º19’44”.
Itabaiana tem um excelente carnaval de rua, sendo que o Bloco do “Nó Cego” é o mais antigo e o mais animado da cidade. É terra de muitos brasileiros ilustres, como o sanfoneiro Severino de Oliveira Sivuca, músico de projeção internacional que nasceu ali em 26 de maio de 1930, falecido em 14 de dezembro de 2006. Ali também nasceu o poeta popular cordelista brasileiro Severino de Andrade Silva, o Zé da Luz, em 12 de fevereiro de 1965.
Zé da Luz escreveu o poema “Ai Se Sesse”, no qual diz assim: “Se um dia nós se gosta-se Se um dia nós se quere-se Se nós dois se emparea-se Se jutim nós dois vive-se Se jutim nós dois mora-se Se jutim nós dois drumi-se Se jutim nós dois morre-se Se pro céu nós assubi-se Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice E se eu me arrimina-se E tu com eu insinti-se Prá que eu me arresouve-se E a minha faca puxa-se E o bucho do céu fura-se Távez que nós dois fica-se Távez que nós dois cai-se E o céu furado arria-se E as virgem todas fugir-se”.
Joaquim Paraibano, homenageado como patrono da pracinha que fica na confluências das ruas Tancredo Neves, Brasil e Dom Bosco, no centro da cidade de Poxoréu, MT, casado com dona Maria Florência Xavier, teve doze filhos: sete na Paraíba e cinco em Mato Grosso. Veio para Poxoréu em 1930, mas antes que os garimpos do Morro da Mesa existisse, ele já andava por São Pedro, o povoado que foi incendiado em 1927.
O ilustre historiador que escreveu Poxoréo e o Garças, no ano de 1999, assim se referiu a essa comunidade:
“Privilegiada pela localização quase central dos garimpos descobertos em junho de 1924 por João Ayrenas Teixeira, já agora em 1927, com apenas três anos, a vila de São Pedro contava com mais de três mil habitantes”. E continua...
“E m São Pedro as casas eram feitas, na quase totalidade, de palhas de babaçu ou de buruti. Somente os arcabouços das barracas eram feitos de madeira roliça, bruta...”. E vai indo por ai afora dizendo:
“Apesar dos barracos, casas comerciais, casas de jogos e cabarés terem sido construídos de tetos e paredes de palha, o povoado regurgitava de gente. Os estoques das casas comerciais eram apreciáveis,c ontando com toda sorte de mercadorias, inclusive inflamáveis como o álcool, o querozene, a pinga, a banha etc..”
Nem preciso dizer os detalhes. Aliás, o historiador mais lido em Poxoréo já disse tudo. Estribado nas lembranças do Rochinha que a tudo assistiu e também detalhou, Xavier narra com riqueza de detalhes esse histórico incêndio, o qual, vale dizer, foi vital para o florescimento da futura Capital dos Diamantes, a poética “doce e amada Poxoréo”.
A vinda de Joaquim Paraibano para Mato Grosso foi obra do Coronel Pedro Celestino da Costa, ex-governador deste Estado. Naquele época ele foi até a Paraíba em busca de colonos que desejassem vir para Mato Grosso. Além de oferecer terras de qualidade para a lavoura, prometia pagar todas as despesas da viagem à fronteira oeste do Brasil. Cruz Xavier ficou encantado. Vendeu tudo o que tinha e veio para cá, aportando-se, inicialmente em Corumbá e depois em Cuiabá.
Chegando à Capital foi surpreendido. O governador não lhe deu as terras prometidas. Sequer o reembolçou das despesas de viagem. Todavia, estando preocupado com uns revoltosos que ameaçavam invadir o Palácio do Governo, ofereceu-lhe um emprego na polícia, o que ele recusou, haja vista que seus sonhos e esperanças estavam depositados na terra. Seu desejo era ter uma fazenda, com terras agricultáveis, onde pudesse laborar com a sua família.
O migrante estava sem dinheiro. Deixara todas as malas em Corumbá, incluindo a mala do dinheiro. Assim mesmo, conseguiu alugar um casa na Rua Pedro Quem, no Bairro do Porto, em Cuiabá. Dia seguinte, atravessa o Rio Cuiabá e compra “fiado” uma porca de um dos sitiantes que ali viviam. Com esse animal inicia-se no negócio de venda ambulante de carne de porco, saindo de casa em casa com o seu carumbé de carne na cabeça, oferecendo sua mercadoria. Por conta disso, em pouco tempo conseguiu dinheiro para pagar o aluguel e equilibrar-se de novo. Então levou a mulher de volta à Paraíba, voltando sozinho para Mato Grosso.
No retorno, iniciou suas viagens para São Pedro e Poxoréo. Nesta cidade, construiu uma casa na Rua Bahia e outra na Rua Mato Grosso, em frente à atual farmácia São Pedro, no local onde está a Câmara Municipal de Poxoréu.
Em 1930, entregando suas propriedades aos cuidados do amigo Amarílio Bento de Brito, foi a Itabaiana buscar sua família. Jurandir da Cruz Xavier era o pimpolho dos novos migrantes. Tinha onze meses de idade quando chegaram em Poxoréo, no dia 03 de outubro de 1930. Aqui, a matriarca dos Xavier teve os demais filhos: Genival, Jaci, Judith, Juarez e Juraci.
Joaquim Paraibano ganhou muito dinheiro em Poxoréo. Foi pioneiro em diversas áreas. Comprou a Fazenda Nova Olinda, onde hoje estão as águas termais, no atual Distrito Poxorense de Alto Coité. Montou Olaria. Foi o proprietário da primeira máquina de arroz, da primeira beneficiadora de café, do primeiro posto de gasolina, entre outros empreendimentos. O primeiro posto ficava em frente ao Centro Juvenil, onde hoje está a casa do Juarez da Cruz Xavier. Segundo o historiador da família, seu Joaquim fez uma série de proezas nos começos dessa cidade.
Joaquim da Crux Xavier foi Vereador e Juiz de Paz eleito em Poxoréo. Além da Fazenda Olinda, comprou a Fazenda Cariacá, na região de Rondonópolis e a Granja Linda Flor. Destas propriedades, apenas a Chácara Linda Flor (remanescente da antiga Granja) ainda permanece com a família. As demais foram vendidas.
Depois de tantas peripécias, proezas e empreendimentos, Joaquim Paraibano faleceu em Cuiabá, vítima de uma infecção intestinal, originária de uma costelada que comera. Já meio cego, sem ver direito, engoliu um osso pontudo de costela, o qual lhe perfurou o intestino. Quando buscou tratamento, já era tarde demais e veio a óbito.
Aqui em Poxoréu, os seus filhos cresceram e se envolveram com a história da cidade, participando de seu desenvolvimento com tanto entusiasmo quanto ele próprio, nenhum dos quais macularia a sua trajetória de vida. As filhas Judith e Juracy se tornaram professoras. Esta é a patronesse da mais antiga e tradicional escola de Poxoréu. A velha “7 de Setembro” veio se tornar “Escola Profª Juracy Macêdo” em homenagem póstuma a essa mestra. A profª Judith Xavier, hoje aposentada, ainda é ativa no campo das artes, principalmente da música, da pintura e dos trabalhos manuais. Foi professora de quase todas as lideranças de Poxoréu. Dos homens, para esse momento, destaco o Jurandir.
Jurandir da Cruz Xavier, nasceu em seis de novembro de 1929. É um octogenário. Lúcido, conserva na memória os momentos históricos de maior relevância para essa cidade. Acumula várias publicações literárias, dentre as quais se destaca a obra “Poxoréo e o Garças”. É o proprietário da Chácar Linda Flor, onde a Assembléia Upenina está reunida.
É diplomado como sócio efetivo da União Poxorense de Escritores. Do alto de seus oitenta anos de vida ainda conserva os sonhos que sempre motivam os Xavier na rota do empreendedorismo. Vislumbrando as potencialidades turísticas de sua chácara, pretende transformá-la em um “Pesque e Pague”. O tanque para os peixes já foi aberto. Agora planeja construir no entorno do lago, quatro ou conco ranchinhos tipo guarda-chuva e montar ali uma lanchonete no salão que também já está construído. Não é um empreendimento para ficar rico, diz ele, mas apenas uma atividade que lhe seja prazerosa.
Finalizando essa reflexão, posso dizer que não tenho dúvidas de que a história da família Xavier é longa e digna de constar nos memoriais da história local. Nesas linhas falamos dos primeiros passos o velho paraibano Joaquim da Crux Xavier, o qual nos deixou como legado uma família de homens e mulheres combatentes, empreendedores e que, a exemplo do Jurandir Xavier, tem ajudado a construir o progresso e o desenvolvimento de Poxoréu.
Nessa oportunidade, deixo ao meu otogenário confrade upenino, o Notável Jurandir da Crux Xavier, o meu abraço fraterno, ao tempo em que registro a minha satisfação de poder contar com a sua valiosa presença e parceria nos quadros da União Poxorense de Escritores.
Feliz Aniversário!