O QUARTO REI MAGO

“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”(Mt2,1-2).

A história da visita dos magos a Belém é uma história comovente, que inspirou ricamente escritores e tradições populares nos dois mil anos de história do cristianismo. Embora Mateus não fale em três, nem em reis, o imaginário devocional transformou estes magos, sábios astrólogos, em três reis. Na catedral de Colônia, na Alemanha, até existe uma arca que conteria os restos mortais destes santos reis. Tudo bem. Mas lendas que cercam estes “reis” não pararam por aí. Uma história muito antiga fala de um quarto Rei Mago. É uma história comovente, que transmite lances de uma vida exemplar segundo os ensinamentos de Jesus Cristo. E este quarto Rei, no meu entender, seria cada cristão que segue a estrela em busca de Jesus. Nunca o encontra fisicamente, mas vive de forma ideal e esperançosa a mensagem do Reino de Deus. Vejamos alguns momentos da viagem edificante do quarto rei mago, em busca de Jesus.

No interior da antiga Pérsia, sábios astrólogos observavam o céu. Um misterioso sinal, em forma de brilhante estrela, talvez a conjunção dos planetas ou um cometa, lhes chamou a atenção. E a interpretação dos sábios foi de que esta estrela era o sinal apontado pelos profetas sobre o nascimento do futuro rei de Israel. Resolveram ir ao encontro deste novo rei para homenageá-lo. Artaban, Gaspar, Melchior e Baltazar começaram os preparativos para a viagem. Como Artaban morava muito longe, combinaram encontrar-se em cidade próxima para iniciarem a viagem. Aconteceu, no entanto, que Artaban, ao viajar ao encontro dos colegas, se defrontou, no deserto, com um moribundo, e resolveu cuidar dele. Com isto se atrasou por vários dias. E, quando chegou ao local do encontro, os seus colegas já haviam partido. Pôs-se então sozinho a caminho na longa travessia do deserto. Quando chegou a Belém, a notícia que lhe deram foi de que os estranhos que ali haviam chegado já teriam partido há mais de três dias. E a família do recém-nascido, que visitaram , também desaparecera. Artaban visitou ainda uma jovem mãe, pensando talvez que seu filho fosse o rei prometido. Estava na casa dela, quando ouviu os gritos de outras mães, cujos filhos estavam sendo massacrados pelos soldados de Herodes. Artaban escondeu a mãe e seu filho nos fundos da casa, e conseguiu convencer os soldados de que ele morava sozinho nesta casa. Depois se pôs, novamente, a caminho para procurar o rei de Israel. Viajou ao Egito. Lá apenas ouvia rumores que a família de José e Maria estivera... aqui e ali. Mas nada de encontrá-la. Em Alexandria um sábio rabino lhe explicou que, segundo os profetas, este futuro rei dos judeus não deveria ser procurado nos palácios ou nas casas dos ricos, e sim entre os pobres. Artaban, então, resolveu procurar o menino e seus pais nos lugarejos pobres. Ali encontrava doentes, famintos, empestados, presos, mortos sem sepultura. Permanecia nestes lugares até que conseguisse minimizar todas as calamidades da população. Isto consumia tempo. Havia viajado várias vezes a Jerusalém, para saber se surgira alguma notícia do rei. Com tanta dedicação aos necessitados, se passaram 33 anos. Já idoso, resolveu fazer a última viagem a Jerusalém. Quando lá chegou encontrou um grupo de sacerdotes, que se dirigiam, em alvoroço, ao Gólgota. Quis saber o que estava acontecendo. Eles lhe explicaram que dois ladrões seriam crucificados ao lado de Jesus de Nazaré, que Pilatos condenara sob a acusação de se proclamar o Rei dos Judeus. Artaban se animou com a esperança de, finalmente, encontrar o Rei de Israel que, há tanto tempo, estava procurando. Mas, nisto percebeu que um grupo de soldados macedônios estava arrastando uma menina, com roupas rasgadas. A menina, ao ver Artaban, com seus trajes vistosos, conseguiu soltar-se das mãos dos soldados e prostrou-se aos pés do sábio, suplicando por ajuda. Era uma menina, cujo pai havia falecido, e estava sendo escravizada para pagar as dívidas deixadas por seu pai. Artaban se comoveu e ainda possuía uma das três pedras preciosas que selecionara para presentear o novo rei. Resolveu, então, comprar a liberdade da menina com esta pedra. As outras pedras já havia usado para pagar o tratamento do moribundo, que encontrara no início de sua viagem, e no atendimento aos necessitados, que encontrara em sua longa viagem. Lamentou estar agora de mãos vazias, sem um tesouro para presentear o rei de Israel, quando o encontrasse. No entanto, resolveu subir ao monte na esperança de encontrar, finalmente, o Rei de Israel, embora sem presentes. Mas, nisto a terra começou a tremer, o céu se escureceu e as casas e os muros começaram a ruir. Uma telha se desprendeu do telhado de uma casa e atingiu a cabeça de Artaban. Apoiado no ombro da menina que libertara, sangrava abundantemente, e murmurava: “cuidei de doentes, alimentei famintos, visitei presos, vesti nus, enterrei mortos”. E aos seus ouvidos moribundos soou uma voz suave, que lhe dizia: “Toda vez que isto fizeste, foi a mim que o fizeste”. Artaban nunca encontrou fisicamente o “Rei de Israel”, mas realizou as exigências de seu Reino. Por isto, por mais vidas que vivesse, faria novamente o que fez: foi fiel ao sinal que a estrela lhe apontara. O serviço aos homens preencheu a sua fé e a sua esperança. Assim se tornou o protótipo da vida de todo cristão.