Superstições e crendices (SERMO LI)

SUPERSTIÇÕES E CRENDICES

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

Se formos buscar nos dicionários e enciclopédias a definição do verbete superstição, a encontraremos como “crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas”. É mesmo que crendice ou falso-misticismo.

O termo “superstição” tem origem no latim, onde superstitio comporta dois sentidos: o de sobrevivente, superstes, e o de desenvolver uma forma de crendice, superstare. Crendice é uma crença no sentido pejorativo: denota fé considerada absurda ou supersticiosa. Das crenças populares brota a chamada religiosidade, que nada mais é que uma forma primária de desenvolver a religião.

No Brasil emprega-se a expressão “religiosidade” quase em níveis de depreciação. Quando alguém quer dizer que determinada manifestação da fé popular não se enquadra naquilo que é considerado uma ortodoxia, diz-se que se trata de uma religiosidade, que nada mais é que uma dimensão popular, rica, dinâmica e complexa, tendente ao subjetivismo, e que pode expressar-se ou não em forma de uma religião convencional.

Religiosidade, deste modo, é um conjunto de crenças, oriundas das tradições, e às vezes do imaginário popular. Tais manifestações podem ser sentidas, pelo menos do ponto de vista antropológico, como um fenômeno social oriundo do povo. É a concretização do evangelho, em mediações históricas, sem a capa do oficial ou do erudito. O catolicismo, no Brasil, pode ser visto sob três enfoques: o popular, o oficial e o erudito. Enquanto o primeiro é um conjunto de ritos, devoções e crenças sem a mediação da hierarquia, o oficial é aquele levado a efeito sob a coordenação das autoridades religiosas. O terceiro, o erudito, é o chamado “saber oficial”, oriundo da hierarquia (magistério) ou dos teólogos independentes (magistério paralelo).

O catolicismo popular tem origens medievais pré-tridentinas. Seus arquétipos germânicos refletem-se na pompa, na liturgia, grandes devoções a santos, relíquias e santuários. O latino-americano tem também influências célticas e ibéricas. Na primeira, se ressaltam os ritos penitenciais, às vezes geradores de complexos de culpa. Na segunda, os arroubos da defesa da fé: cruzadas, ordens religiosas com missões específicas, etc. É o catolicismo guerreiro. O cristianismo da América Latina é popular. Mais leigo e social, familiar e libertário. Mistura influências tridentinas, como Igreja oficial, clerical, sacramental e doutrinária com a religiosidade ameríndia e negra, resultante da inculturação.

O Concílio Vaticano II e o Encontro de Medellín, mostraram certa reserva com a religiosidade popular. O Encontro de Puebla veio resgatar essa força de ser Igreja, mas Santo Domingo silenciou. A religiosidade popular na América Latina, presente em muitas CEBs, apresenta algumas características, como certa resistência à igreja hierárquica, grande poder de mobilização, sacramentalidade circunstancial, ênfase à vida comunitária e atividades sociopolíticas. Práticas condenadas no passado, como o “passe” e as “benzedeiras”, hoje fazem parte do repertório da religiosidade popular, desde que, é óbvio, sejam feitas em nome do Deus Trinitário, e não de outras entidades. É pena que muitos teólogos não desçam de seus pedestais, para viver de perto as crenças simples do povo.

Na religiosidade popular podemos encontrar traços de uma espiritualidade cristã primitiva, como também das superstições que não têm nenhum vínculo com o cristianismo. Mais além do fulcro religioso, vemos as manifestações de formas supersticiosas que não mantêm nenhuma ligação com as religiões tradicionais, mas perfiladas à bruxaria e a crenças idolátricas, sem nenhum compromisso com o espiritual. Por exemplo, vários hotéis e prédios nos Estados Unidos não possuem o 13° andar; é pura superstição atéia e irracional.

Existem crenças em presságios e sinais, originados por acontecimentos ou coincidências fortuitas, sem qualquer relação comprovável com os fatos dos quais se acredita sejam prenúncio. Isto vai além da religião primitiva, em que se cultuam basicamente espíritos que se crê estarem presentes nas coisas e nas forças da natureza; paganismo, magia, feitiçaria. Neste caso, as superstições nos surgem, por derivação em um sentido de crença cega, arraigada e exagerada em alguma coisa, regra ou intuição.

Tem muita gente que se torna dependente dessas deturpações do sentimento religioso que determinam comportamentos irracionais, de caráter normativo e preconceituoso. Consistem, essencialmente, na atribuição de causas sobrenaturais a fatos ou fenômenos de ordem natural. Têm um conteúdo defensivo que nasce do medo, cujas raízes se fundem nos arquétipos da história do homem.

Na América Latina sofremos a influência das crenças dos índios e dos escravos negros, daí possuirmos um ponderável acervo de crendices religiosas derivadas dessas culturas. Entre as superstições mais difundidas no Brasil, predominam também as de origem européia, introduzidas pela colonização portuguesa. A maioria estabelece normas de conduta relacionadas com a vida cotidiana: levantar da cama com o pé direito, não passar debaixo de uma escada, não se sentarem treze pessoas à mesa, não tirar as teias de aranha da casa ou que uma noiva deve usar alguma coisa emprestada no dia do casamento.

Algumas superstições são expressas apenas por gestos: bater na madeira com os nós dos dedos, fazer o sinal da cruz, ou cruzar o dedo médio sobre o polegar, com o propósito de “afastar o mal” ou “atrair o bem”. Os amuletos como pés de coelho, galhos de arruda, ferraduras, santinhos, medalhas e fitas de devoção. Alguns, atletas e juízes de futebol, artistas e outros, têm no “sinal da cruz” uma espécie de fetiche, pois o usam em várias oportunidades, conforme nos mostra a televisão.

Algumas pessoas elegem um amuleto particular, geralmente uma peça de roupa, uma mecha de cabelo de um filho ou qualquer outro objeto de referência pessoal. Os gestos e os amuletos gozam de muito prestígio no meio teatral e folclórico. Segundo a tradição popular, o dia 13 pode ser fatídico quando cai em uma sexta-feira do mês de agosto. No contraponto dessas falsas idéias, os capuchinhos da igreja Santo Antônio, no bairro Partenon, criaram a divisa “Dia 13 é dia de Santo Antônio”, para descaracterizar o 13. A superstição atinge também certas pessoas consideradas portadoras de falta de sorte e, por isto, denominadas de “pé frio”.

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

Considerando nossa fidelidade à cultura lusitana que nos precedeu, é de indagar: quem é que nunca entrou em uma casa nova com o pé direito ou não bateu na madeira para isolar o azar? Algumas superstições já fazem parte do cotidiano das pessoas. Alguns o fazem mais por costume do que por crença efetiva. É assim que nascem as superstições...

É comum ouvir que nós, brasileiros, somos um povo muito supersticioso. Vocês sabem o que isso significa? Uma pessoa supersticiosa possui apego infundado a qualquer coisa que lhe dizem, crê em fatos sem fundamentos reais, segue conselhos que nascem da crendice popular. É algo que passa de avós para netos, entre amigos, de geração a geração; é a chamada narrativa da história oral. Só para orientação e conhecimento – enfatizando que tais crenças não tem o menor fundamento lógico ou religioso – relaciono abaixo algumas superstições bastante cultivadas entre nós.

Aranhas

Aranhas, grilos e lagartixas representam boa sorte para o lar. Matar uma aranha pode causar infelicidade no amor ou nos negócios. Alguns enxergar em certos casos, a presença da “aranha da boa notícia”;

Bolsa no chão

Não podemos deixar a bolsa apoiada no chão se não quisermos perder dinheiro.

Bons desejos

Na hora de acordar, abra os dois olhos ao mesmo tempo para ver tudo com clareza e não ser enganado por ninguém. Ao levantar, procure dar o primeiro passo com o pé direito para atrair boa sorte e felicidade. Faça um desejo ao cortar a primeira fatia de seu bolo de aniversário. Ponha um caroço de melancia na testa e, antes que ele caia, faça um desejo. Jogue uma moeda numa fonte. Só faça um desejo quando a água parar de se movimentar e você enxergar o seu reflexo. Os gregos atiravam moedas em seus poços para que estes nunca secassem. Alguns mentalizam um desejo ao usar um sapato pela primeira vez. Enquanto você estiver cruzando uma pequena ponte, prenda a respiração e faça um pedido;

Borboleta

Ver uma borboleta voar dá sorte para o dia; outros dizem que enxergar uma borboleta negra é sinal de morte;

Brinde

Se o seu copo contiver algum tipo de bebida alcoólica, no brinde com alguém cujo copo contenha bebida sem álcool, vocês estarão se arriscando, nesse tim-tim, a ter seus desejos invertidos; é perigoso (os antigos diziam “não presta” brinde entre vinho (bebida alcoólica) e refrigerante (bebida sem álcool); se no brinde um copo quebrar, havia alguém desejando o mal para aquele cujo copo quebrou;

Buda

Para garantir dinheiro e prosperidade ele deve ficar em cima da geladeira, sobre um prato cheio de moedas;

Coceira

Sua mão esquerda está coçando? Então, prepare-se para receber um bom dinheiro extra. Se por acaso a mão que estiver coçando for a direita, tome cuidado: é provável que perca uma grande quantia. Coceira na sola do pé significa viagem ao exterior;

Corujas

A coruja é sinal de sabedoria; alguns afirmam, no entanto, que ver uma coruja pousada no telhado de uma casa dá azar;

Cristais que quebram

Segundo algumas correntes, os cristais possuem energia suficiente para atrair e repelir fluídos negativos; se um cristal se quebra em sua mão é sinal que alguém estava lhe desejando algum mal; é costume quebrar voluntariamente cristais e vidros na passagem do ano-novo, para espantar as vibrações negativas;

Deixar o sapato virado

Sapatos virados ou sobrepostos geram malefícios a seus donos, desde dores, enxaquecas, até morte;

Elefante

Quem tiver um elefante de enfeite, sobre um móvel qualquer, sempre deve, segundo os supersticiosos, mantê-lo com o rabo voltado para a porta de entrada: isso evita a falta de dinheiro;

Escada

Nunca se deve passar por debaixo de uma escada. É azar na certa;

Espelho quebrado

Quebrou um espelho? A superstição prega que serão sete anos de má sorte. Ficar se admirando num espelho quebrado é ainda pior: significa quebrar a própria alma. Ninguém deve se olhar também num espelho à luz de velas. Para culminar, não permita que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você;

Estrela

Não se aponta para uma estrela: cria berruga na ponta do dedo;

Estrela Cadente

Viu uma estrela cadente? Faça um pedido, porque, segundo a crença de muita gente, é garantia de que ele vai se realizar;

Galinhas

Iguais aos cristais, as galinhas atuam, segundo quem acredita, como pára-raios contra o mau olhado e pensamentos negativos;

Gato

Se tivermos um gato e formos mudar de casa, é bom passar manteiga em suas patinhas, para que ele não volte para a casa antiga;

Gato Preto

Na Idade Média, acreditava-se que os gatos eram bruxas transformadas em animais. Por isso a tradição diz que cruzar com gato preto é azar na certa; os místicos, no entanto, têm outra versão: quando um gato preto entra em casa é sinal de dinheiro chegando;

Guarda-chuva

Dentro de casa, o guarda-chuva deve ficar sempre fechado. Segundo as tradições esotéricas, abri-lo dentro de casa traz infortúnios e problemas aos familiares;

Meias do avesso

Se você colocar involuntariamente a meia do avesso, não se preocupe: é sinal de que uma boa notícia está para chegar;

O sexo do bebê

Existem algumas crenças para tentar adivinhar. Pedir a futura mamãe que mostre uma das mãos. Se ela estender com a palma para baixo, será menino. Se a palma estiver para cima, nascerá uma menina. Existe também a linguagem do ventre. Se for pontudo e saliente, sinal de que um menino está para chegar. Arredondado e crescendo para os lados, menina à vista.

Objetos perdidos

Dizem que a maneira mais eficiente de encontrar algo que desapareceu é orar a Santo Antônio, e ao encontrá-lo dar três pulinhos em homenagem a São Longuinho;

Orelha Quente

Se sua orelha esquentar de repente, é porque alguém está falando mal de você. Nesses casos, vá dizendo o nome dos suspeitos até a orelha parar de arder. Para aumentar a eficiência do contra-ataque, morda o dedo mínimo da mão esquerda: o detrator irá morder a própria língua;

Pé direito

Devemos sair de casa e entrar em qualquer lugar, sempre com o pé direito, para evitar o azar;

Sal grosso

Deixar um copo de vidro cheio de sal grosso no canto da sala, traz sorte ou realiza mudanças de vida;

Vassoura

Para dispensar uma visita chata, é só deixar uma vassoura de cabeça para baixo atrás da porta; crianças que montarem em vassouras serão infelizes;

Velas, lâmpadas e cigarros

Três velas ou três lâmpadas acesas em um mesmo quarto podem ser prenúncio de morte. Acender três cigarros com um mesmo palito de fósforo também significa perigo. Trata-se de uma tradição de guerra. O primeiro cigarro aceso mostra o alvo ao inimigo, que mira no segundo e atira no terceiro; Varrer a casa à noite expulsa a tranqüilidade e chama cobras;

Repito: nenhuma dessas práticas vistas acima, e outras menos votadas, tem o mínimo valor para a vida humana. Trata-se realmente de crendices idiotas, formas infundadas de crer em certas coisas, incapazes de resolver um problema ou modificar situações. Você acredita nessas bobagens? Ou crê, como eu, que

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

Quando se enxerga por aí tanta superstição, chega-nos a conclusão que nosso povo é, em geral mal catequizado e precisa urgentemente ser liberto dessas crendices que assolam a sua vida espiritual. A única pessoa que leva vantagem em tudo isto é o inimigo de nossas almas: o diabo, nosso adversário. A Bíblia diz que ele cegou o entendimento dos incrédulos (2Cor 4,4). As catequeses, em geral, são mais programáticas do que querigmáticas; mais currículo do que vivência.

Isto produz uma distorção: no fim do período o catequizando sabe todo o conteúdo do livro ou da apostila, mas não foi evangelizado. Ser evangelizado é conhecer e professar na vida o real senhorio de Jesus, vencedor do mal, do pecado e da morte. Quem é evangelizado de fato despreza todo tipo de superstição ou crendice alienante.

Jesus, veio para nos libertar das crendices e superstições. O diabo prende as pessoas debaixo do medo dessas ameaças, mas a Bíblia nos diz que o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo (1Jo 3,8). O único poder que pode libertar verdadeiramente o ser humano é a verdade através do evangelho de Cristo, pois ele mesmo disse: “...e conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês.” (Jo 8,32).

Ao cristão não é lícito viver dependendo de rezas, encantamentos, amuletos, plantas, rogos ou qualquer espécie de artifício para afugentar o mal. Não precisa ir mais à benzedeira para “fechar o corpo” ou coisa parecida. Quem crê no poder de Jesus deve, tão-somente, deixá-lo entrar em seu coração e verá que nada dessas tolices atinge um verdadeiro servo de Deus, um cristão de verdade. A Bíblia chega mesmo a dizer que

Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca (1Jo 5,8).

Infelizmente, muitas pessoas são escravas das superstições e do ocultismo que, ao invés de ajudar, pioram suas condições de vida física e mental. Essas distorções psico-religiosas são barreiras que impedem as pessoas de conhecerem as Escrituras e o poder de Deus. Por não confiarem exclusivamente em Deus, colocam sua confiança em objetos ou na adoção de determinadas atitudes pessoais, que, acreditam, podem trazer bênção ou afastar maldição.

Conheci pessoas, algumas até cultas e esclarecidas que tinham manias supersticiosas, como, só entrar de pé direito em uma sala, jamais andar em automóvel de cor verde, não passar o ano com roupa preta, ou nessas festividades usar roupa íntima amarela ou da cor preconizada pela televisão. Um homem que trabalhava no 13º. andar, subia de elevador até o 14º. e descia pelas escadas.

No Brasil, como de resto em boa parte da América Latina há uma ponderável predileção popular pelos “horóscopos” e especulações em torno do Zodíaco como fonte de adivinhações e normas de vida. É uma superstição grosseira, do tipo “destino”, como se tudo estivesse anteriormente programado sem a possibilidade da intervenção da providência divina. Nesse sistema, os signos caracterizam a personalidade de cada pessoa. Pura asneira! Uma colega estava no aeroporto esperando para embarcar, quando sua mãe telefonou aflita, dizendo-lhe que o horóscopo lhe havia revelado não ser aquele um dia propício para viagens. A moça viajou assim mesmo e nada lhe aconteceu. Há ainda as crendices de fim-de-ano, onde se vê cristãos “pulando sete ondas do mar” ou presenteando Iemanjá com perfumes, flores e sabonetes. Dizem os tolos que no reveillon não se come peru nem pratos feitos com milho, pois atrasa a vida.

Outros, seguem a risca as superstições orientais, onde cruzar com um mendigo na rua, ou enxergar um enterro dá azar. Se fosse assim, os donos de funerárias não estariam ricos. Há também o caso de celebridades, especialmente dois cantores famosos, um brasileiro e outro espanhol que são extremamente supersticiosos. Enquanto um, em dias de espetáculo só usa azul, não dobra esquinas à esquerda e não admite passar na frente de cemitérios, o outro usa o mesmo sapato em todas as apresentações, e exige dezenas de toalhas brancas no camarim, as quais não usa nem a metade. Quando alguém nos propuser a prática de algum tipo de “simpatia” ou superstição, é salutar lermos o que diz a Bíblia:

Não dêem ouvidos aos profetas (falsos) de vocês, aos seus adivinhos, aos seus sonhos, aos seus agoureiros e aos seus encantadores (Jr 27,9).

Quando disserem a vocês: consultem os médiuns e os feiticeiros que chilreiam e murmuram entre dentes, respondam: “Acaso não consultará um povo a seu Deus? Acaso a favor dos vivos se consultarão os mortos?” (Is 8,19).

Mas, quanto aos medrosos, incrédulos, abomináveis, homicidas, adúlteros, feiticeiros, idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte (Ap 21,8).

Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará (Jo 8,32)

Se o Filho libertar vocês, verdadeiramente vocês serão livres (Jo 8,36)

Não há encantamento contra Jacó, nem adivinhação contra Israel (Nm 23,23)

Os dicionários, referindo-se aos amuletos, classificam-nos como um “pequeno objeto (figura, medalha, figa, etc.) que, desde a mais alta Antiguidade, os povos trazem consigo por acreditar em seu poder mágico de afastar desgraças ou malefícios”. Nas mesmas trilhas, fetiche é um “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”. Nesse contexto, a superstição revela-se como um “sentimento, em geral religioso, baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes”.

Dentre os diversos tipos de amuletos (olho de boto ou do peixe-boi, ferradura, meia-lua, Estrela-de-Davi, galho de arruda ou o patuá) a figa é o que alcançou maior popularidade. Usada (por quem acredita) para combater a esterilidade e o mau-olhado, é representada por uma mão humana fechada com o polegar entre os dedos indicador e médio. Enfim, amuleto é uma figura ou objeto portátil, qualquer coisa a que supersticiosamente se atribui virtudes sobrenaturais para livrar seu portador de males materiais e espirituais, e para propiciar benefícios nessas áreas.

Ao aceitarmos o senhorio de Jesus, recebemos o Espírito Santo (1Cor 6,19 Ef 1,13); nossos pecados são perdoados (At 10,43; Rm 4,6ss); somos recebidos como filhos de Deus (Jo 1,12); se somos filhos, logo somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm 8,17); passamos da morte espiritual para a vida espiritual (1Jo 3,14); somos novas criaturas (2 Cor 5,17); o diabo se afasta e não nos toca (Tg 4,7; 1Jo 5,18); não estamos mais sujeitos às maldições (Jo 8,32-36); podemos usar o nome de Jesus para curar enfermos e expulsar

Em razão disso, somente o retorno voluntário ao pecado (e a superstição consciente configura uma situação de pecado) poderá alterar a nossa situação diante de Deus. O uso de qualquer objeto, seja no corpo, seja em nossa casa, não melhora em nada a nossa condição de filho, de herdeiro, de abençoado, de isento das investidas do diabo. Objetos não expulsam demônios, não quebram maldições, não substituem o poderoso nome de Jesus.

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

O nome de Jesus não pode ser substituído por um objeto ou um produto industrializado. O uso de amuletos evidencia não uma atitude de fé, mas de falta de fé. Deus não opera por esse meio, sejam cordões, pulseiras, pirâmides, cristais, velas ou qualquer outro produto. A Bíblia não apoia tal prática. A atitude de fé é o ato de esperarmos no Senhor e nele confiarmos.

Alegremo-nos no Senhor e ele nos concederá os desejos do nosso coração (Sl 23,1; 37,4-7).

Fugindo das tentações das magias e dos feitiços, nossa confiança deve ser depositada no Deus Uno e Trino. Trata-se de uma busca de libertação. do pecado e das práticas que nos levam ao distanciamento de Deus.

Bem-aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança (Sl 40,.4).

Se dividirmos a nossa fé entre Deus e os amuletos, estaremos coxeando entre dois pensamentos. Como disse Elias ao povo hebreu: “Vocês devem se decidir entre Javé e Baal” (cf. 1Rs 18,21). Não é esta uma manifestação de fé, mas de incredulidade, de dúvida nas promessas de Deus. E a dúvida é inimiga da fé (Mt 21,21). Quem recorre aos amuletos e às demais superstições que andam por aí, está declarando que não tem confiança total no poder de Deus, e recorre àquelas crendices como um “reforço”.

Abraão não duvidou da promessa de Deus, nem se deixou levar pela incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para cumprir (Rm 4,20s).

O patriarca Abraão creu, mesmo diante das evidências, na promessa de que seria pai de muitas nações. Aguardou confiantemente. Não apelou para objetos, amuletos, cordões, pé-de-coelho, pulseiras, vassouras atrás da porta, etc. Apenas creu e foi agraciado pelos dons de Deus.

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

Os profetas abriram processo contra o povo de Israel justamente pela idolatria e pela utilização de objetos de pecado, como culto aos lugares altos, às árvores frondosas e aos terafim (ídolos de madeira usados pelas mulheres israelitas nas suas residências). Tais práticas de pecado foram como que importadas do Egito, da Babilônia e dos povos vizinhos. Quando Israel sucumbiu ao poder das nações invasoras, foram atribuídas a essas superstições, as causas de todos os males. Como afirma o salmista,

O Espírito que em nós opera não nos permite colocar coisas impuras diante de nossos olhos (Sl 101,3).

Os objetos, ou qualquer tipo de material não servem para aumentar a fé dos cristãos. O que transmite fé, o que proporciona fé, o que dá origem à fé, é a palavra de Deus (cf. Rm 10,17). Jesus não distribuiu qualquer tipo de objeto para melhorar a fé de seus ouvintes. Nos primeiros passos da Igreja, vemos Pedro e demais apóstolos anunciando insistentemente o Cristo vivo, e falando com paciência dos mistérios de Deus e das palavras de Jesus. E todos se enchiam de alegria, e milhares aceitavam o Evangelho. Disse-lhes Pedro:

Arrependam-se, e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados.

Os amuletos e outros objetos correlatos, longe de serem veículos de bênçãos ou de ajuda, podem trazer maldições, porque esse tipo de crença (que nem é fé) não está centralizado exclusivamente no Deus vivo. Pelo contrário, visa buscar ajuda e amparo em um sistema fora da providência de Deus, No livro do profeta Isaías há um texto interessante:

Ai dos que confiam no poder místico dos amuletos, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor (13,1).

O uso de amuletos pelo povo de Deus equivale a tomar o caminho de volta para o Egito, renunciando às delícias da terra de Canaã e à salvação prometida. As nossas superstições devem ser deixadas no esquecimento, de lado, como algo pernicioso ao crescimento da nossa fé. Nós, pela ação do Espírito em nossas vidas, já morremos para essas coisas, para o sistema mundano, para o pecado. Jesus morreu para nos libertar dessas falsas crenças, para vivermos pela observância do evangelho, a vida da graça e da justiça.

A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.

O autor é Doutor em Teologia Moral.

Conferência proferida num encontro de Famílias Cristãs, realizada na cidade de Florianópolis (SC) em outubro de 2008. Antônio é autor, entre outros, dos livros “História das Religiões” (Palotti) e “Os equívocos da reencarnação” (Recado).