Dos conselhos e das ordens
Conselhos e ordens estão entre as coisas que não gostamos de receber, mas que todos gostam de dar. De forma que sempre nos veremos envolvidos entre uns e outros. Nessa reflexão temos por objetivo caracterizá-los e discutir o nível de aplicação de cada um em nossa vida, tendo a Bíblia como fonte de referência.
1. Da caracterização da ordem. A ordem é uma determinação dada por alguém que exerce poder de mando sobre outrem, como o patrão ao empregado, o pai ao filho, o Criador à criatura. Ordem não se discute, se cumpre ou se sofre as conseqüências. Ou, como diz o ditado popular, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Ordem é lei; é imposição; é imperativo.
No início do mundo vemos Deus dando ordens à matéria e ao homem. Haja luz (Gn 1:3). Haja firmamento no meio das águas (Gn 1:6). Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar (Gn 1:9). Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo sua espécie (Gn 1:12). Haja luzeiros no firmamento dos céus (Gn 1:14). Povoem-se as águas de enxames de seres viventes (Gn 1:20). Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn 1:26). Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes... (Gn 1:28).
É de observar que em todas essas ordens aponta-se apenas o imperativo, o mando, a determinação. Não há menção para a conseqüência. Já em Gn 2:16-17 a norma é completa, apresentando a ordem e a conseqüência de seu descumprimento. Vejamos: E o Senhor lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
A Bíblia está repleta de ordens divinas dadas aos homens. Não porque Deus quer a obediência a qualquer preço, mas porque Ele sabe o que é melhor para nós e se agisse de outra forma estaria contrariando a sua própria natureza de nos oferecer o melhor. Assim, quando nos orienta, Deus não está nos aconselhando. Pelo contrário, está determinando. E a desobediência às suas leis é pecado e acarreta como conseqüência a morte. Cf. 1 Jo 3:4 (transgressão da lei); Ez 18:4, 20 (a alma que pecar); Rm 6:23 (o salário do pecado).
2. Da caracterização do conselho. O conselho é uma orientação dada por alguém de nível igual ou inferior a outrem, como por exemplo, a palavra que se dá entre amigos, irmãos, colegas ou até mesmo entre estranhos. Não tem a prerrogativa do mando. É de se esperar que aquele que aconselha já tenha vivido uma situação semelhante, tenha estudado sobre o assunto. Diz um ditado que “se conselho fosse bom, a gente não dava, vendia” e um outro que diz “conselho a gente não dá, pede”. A verdade é que existem bons e maus conselhos, mas aqui as conseqüências não estão amarradas, como nas ordens. Isso quer dizer que eu não der ouvidos a um conselho, não significa que, obrigatoriamente, eu vá sofrer determinadas conseqüências. Estas podem ou não acontecer.
A Bíblia também está repleta de conselhos. Dentre eles destacam-se os seguintes: O da serpente para Eva (Gn 3:1-6); os de Aitofel e de Hussai para Absalão (2 Sm 16:20-23; 17:1-14); os dos homens idosos e dos jovens a Roboão (1 Rs 12:1-15).
Conclusão. A Bíblia consolida essa orientação sobre os conselhos e ordens no Sl 1:1, quando mostra a diferença entre os dois institutos. O conselho dos ímpios não é bom, porque os ímpios são como a palha que o vento dispersa e cujo caminho perecerá. O caminho do ímpio é o caminho da morte. A lei do Senhor é a fonte da verdadeira felicidade. Aquele que a segue é como a árvore plantada junto às correntes de água e que no devido tempo dá o seu fruto.
Em última instância, vale destacar que apesar da Palavra de Deus ser composta de ordens para o homem, porque visam melhorar a sua condição de vida, há muitas pessoas que dizendo não acreditar em Deus, rejeitam essa sua condição. Mas mesmo assim, mesmo para aquele que se recusa a vê-la como ordem para a sua vida, considerando-a apenas como um livro de conselhos, ainda assim tal pessoa poderá alcançar a felicidade se ouvir esses conselhos, porque a Palavra de Deus é poderosa, viva e eficaz, apta para produzir os efeitos que estabelece. O que não é prudente é a tomada de qualquer decisão isolada, sem ouvir uma outra voz a respeito. Cf. Pv 8:14; 15:22; 20:18; Hb 4:12.