O Brasil é um gigante sonolento; tem uma área territorial, como se afirmam os poetas, continental; está entre os 10 maiores do mundo (6º) e faz fronteira com 10 outras nações; dos países sul americanos, os únicos que não possuem fronteiras divisórias com o Brasil são o Chile e o Equador.

 

Mas existem algumas fronteiras muito conhecidas e outras que milhares de alunos brasileiros sequer sabem que existe, caso específico da Guiana, Suriname e Guiana Francesa; estes países estão localizados no extremo norte brasileiro, lá pelas bandas da Floresta Amazônica, que é praticamente a parte menos agredida pelo homem, ou seja, são fronteiras semi-abandonadas pelo dificílimo acesso. Mesmo quem sabe, raramente imagina que aqui no Brasil, fazemos indiretamente, fronteira com a França e Inglaterra e por pouco, não faríamos fronteira também com a Holanda.

 

Logo colado ao Amapá, inclusive com acesso por terra, podemos chegar ao Território Ultramarino da França, ou seja, TERRITÓRIO LEGITIMAMENTE FRANCÊS; quando se chega a Guiana Francesa, na verdade, se está pisando em solo da França; dominado por código local, mas obediente as Leis francesas; polícia, imigração, exército, marinha, força aérea e outros pontos de controle militar recebem ordens diretas de Paris.

 

Quem consegue viver lá, recebe em Euros e possui cidadania francesa, ou seja, é membro permanente da COMUNIDADE EUROPEIA, com direito a Passaporte estrelado na cor azul; um privilégio para pouquíssimas pessoas que habitam o lado de cá do Globo. Um amigo (Mauro Souza), que mora em Belo Horizonte, mas é do Amapá e já esteve várias vezes em Caiena (Capital da Guiana Francesa), afirma que os carros são os melhores da América do Sul e o povo vive em verdadeira fartura. Mauro ainda informa, que a convivência entre eles e nós brasileiros, é a melhor possível, mas quando o tema é IMIGRAÇÃO ILEGAL, a conversa muda de rumo.

 

Muito melhor do que migrar para os Estados Unidos em crise, é migrar para pertinho de casa, receber em euros e sonhar com a cidadania européia; uma vez aprovado a cidadania na Guiana Francesa, o novo cidadão terá trânsito livre em qualquer país da Europa, podendo viver, trabalhar e gozar dos benefícios.

 

A economia desta França americana é baseada na pesca e na extração mineral e é justamente um destes minérios que levam milhares de pessoas a se arriscarem em driblar as Leis do lugar para tentar a vida; o ouro é abundante naquele país e por ser o mineral mais cobiçado do planeta há milênios, há uma fiscalização rígida para controlar a extração e comercialização dele.

 

O turismo na Guiana Francesa é quase inexistente, salvo pelos franceses da Europa que querem estar próximos da Floresta Amazônica. As praias atlânticas da Guiana Francesa sofrem influência direta da bacia amazônica, portanto, são incomuns as “primas” próximas do Caribe. As águas são barrentas na maioria dos meses do ano e a infra-estrutura de hotéis e restaurantes, quase não existe.

 

A Guiana Francesa faz fronteira com o Brasil por quase 500 km de floresta, partindo do Oceano Atlântico, num ponto eqüidistante chamado de Cabo Orange, onde vivem alguns indígenas primitivos, até o limite com o Suriname. O local mais próximo habitado, entre o Brasil e o vizinho francês, é Oiapoque (Brasil) e Saint George de L’Oyapock, do lado de lá. Na linha divisória intrigante, muita floresta e rios; não há quase nada de civilização na linha entre os dois países; comunicação é inexistente, enfim, nos faz lembrar uma espécie de “elo perdido”, quase inimaginável em dias atuais, com tanta devastação.

 

Outro fato muito curioso é que, para você, que pretende uma dia, visitar a Guiana Francesa, ou vai para a Europa e volta num avião que sai de Paris, ou obrigatoriamente terá que ir primeiro a Macapá; segundo informações do próprio Mauro Souza, maior divulgador de seu Estado aqui em Minas Gerais, existem muitos vôos diretos em aeronaves médias e pequenas, que fazem o percurso de 570 km (terrestres) entre a Capital do Amapá e a Capital da Guiana Francesa; não precisa de visto, mas a rigorosidade chega a ser maior do que entrar na França por conta da imigração ilegal e de quebra, você estará ultrapassando a Linha do Equador, que passa em Macapá e que todos conhecem como o meio do mundo.

 

Em Caiena, além de uma arquitetura tipicamente européia em estilo colonial, o visitante poderá ver o Centro Espacial de Kourou, construído pela Agência Espacial Européia na década de 60; toda região possui culinária refinadíssima e os vinhos que se bebe lá, são os melhores do mundo; incrível, mas é verdade!

 

O clima da Guiana Francesa fica entre 25° quando está muito frio e quase 40° quando está muito quente; por estar numa região equatorial de floresta, a umidade é predominante o ano inteiro, e principalmente no verão, chove sempre e muito.

 

Então, agora é só arrumar as malas, caprichar no francês, levar passaporte, “pegar” um vôo até Macapá (Tam e Gol levam mas a GOL está mal das pernas, portanto, cuidado com eles) e de lá, pegar outro avião e tchau! Vamos visitar a França da América do Sul, ou passem lá na Misaki Nissan em Belo Horizonte e bata um papinho com Mauro que ele lhes dirão mais e boas informações.

 

Na próxima crônica sobre turismo, escreverei sobre as outras fronteiras curiosas do Brasil.

 

Abraços a todos,

 

 

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Site do Autor: www.irregular.com.br

Foto: Rua de Caiena - de Adelino (Picasa)