As conseqüências de uma decisão
Tudo o que nós lemos, vemos e ouvimos causa um determinado impacto em nossa vida. A maior parte destes é bastante superficial, sendo provocados por banalidades e, portanto, duram apenas poucos instantes. Alguns, no entanto, são responsáveis por grandes modificações em nossas vidas. São impactos profundos, resultantes de estímulos muito fortes e que não podem ser desconsiderados por qualquer vento que sopre em contrário. A presente reflexão tem o objetivo de avaliar as conseqüências da decisão que leva uma pessoa a entregar o controle de sua vida ao Senhor Jesus (Ef 4:14).
O escritor Júlio César de Melo e Souza, conhecido como Malba Tahan, nos conta uma história bastante elucidativa sobre os efeitos dos estímulos externos em nossa vida. Diz ele que os amigos Salim e Fahid viajavam numa caravana para a Pérsia. Ao cruzarem um rio, Salim foi pego na correnteza, e teria morrido se o amigo não o ajudasse. Agradecido, pediu que seus empregados gravassem numa rocha que ficava na margem do rio: “Aqui, Fahid salvou a vida de seu amigo”. Quando voltavam da Pérsia, depois de atravessarem o mesmo rio, uma discussão tola fez com que os dois brigassem. Fahid puxou uma espada, e quase mata o amigo a quem havia salvado meses antes. Depois que os ânimos serenaram, Salim chamou de novo seus empregados e pediu que escrevessem na areia: “Aqui, Fahid tentou matar seu amigo”. Vendo isso, Fahid perguntou-lhe: "Quando o salvei, você gravou meu gesto numa rocha. Agora, que quase o matei, você escreve na areia. Não vê que o vento logo apagará?”. Então respondeu Salim: “Esta é a sabedoria. Escrever as boas coisas na rocha, e as coisas negativas na areia”. Salim desejava que aquele ato fosse apagado de sua mente na mesma rapidez em que fosse apagado da areia e que o ato bom jamais fosse esquecido.
O sacrifício de Jesus em favor de homens pecadores como eu, deveria causar de imediato, um impacto profundo em nossas vidas. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15:13). Deveria ser gravado na rocha para nunca mais ser esquecido. No entanto, nem sempre é assim. É o que se verifica, por exemplo, na parábola do semeador, narrada pelo próprio Senhor Jesus (Mt 13:1-23).
É de destacar que a vida de todo crente é marcada de forma especial pelo dia em que ocorreu o seu novo nascimento (Jo 3:3; 1:12). É certo que muitos crentes aceitaram a Jesus no dia em que ouviram a pregação do evangelho pela primeira vez. Todavia, é bem comum que a mensagem seja anunciada muitas e muitas vezes para uma pessoa, sem que esta lhe dê qualquer importância. É isso que destaca o profeta Isaías, ao registrar: “Senhor, quem deu crédito em nossa pregação?” (Is 53:1).
Pessoalmente, não tive o prazer de ser tocado pela mensagem na primeira vez que a ouvi. Gostaria que isso tivesse acontecido, mas não foi assim. Racionalista, fiquei muitos anos estudando e aprendendo a Palavra de Deus para então começar a incorporá-la na minha vida. E somente fiz isso quanto reconheci que não havia outro meio para que eu pudesse obter a minha salvação, tanto material, quanto espiritual. Eu lutara muitas e muitas vezes para encaminhar a minha vida com minhas próprias forças. E somente depois de fracassar muitas vezes fui capaz de reconhecer que somente Deus poderia me dar a vitória. E então, conversei com minha família e decidimos entregar o nosso destino em suas mãos. Desde então, as vitórias têm se multiplicado em nossas vidas, principalmente quando vamos incorporando em nosso quotidiano aquilo que nós temos aprendido na Palavra de Deus. Todavia, isso que ocorreu conosco é muito difícil de acontecer.
Na verdade, quanto mais a pessoa ouve a mesma mensagem, menos é influenciada por ela. É por isso que Isaías diz: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55:6). É mesmo um milagre que o rebelde venha encontrar a salvação e o perdão de Deus, pois a rejeição é considerada um atentado contra a sua misericórdia, graça e amor por nós. É isso que se registra em Hb 10:26-31, texto que li no dia de minha conversão ao Senhor. Por outro lado, é de destacar que essas decisões pensadas costumam ser duradouras. Não são conseqüências de “fogo de palha”. Nada melhor do que a avaliação fria do dia seguinte para se reconhecer qual a real necessidade de se tomar uma decisão.
Não tenho dúvidas de que as histórias de vida daqueles que aceitam a Jesus na primeira vez em que ouvem a pregação do evangelho, poderão ser consideradas como grandes exemplos de fé. É o que aconteceu com o caldeu Abrão. Deus falou com ele e ele não titubeou. Juntou sua família e foi cumprir o mandado de Deus (Gn 12:1-5). A Bíblia está cheia de exemplos nesse sentido, sendo que o escritor da Epístola aos Hebreus nos faz um bom resumo deles, para mostrar que o caminho da fé é mesmo a melhor solução para possamos nos livrar de nossos pecados e obtermos a desejada salvação (Hb 11; 12:1).
Quão tremendo é o poder de Deus e quão profundo foi o impacto que sua palavra teve na vida de muitos homens de fé! Por outro lado, vejo muita sabedoria naquele que toma sua decisão com os pés no chão, sabendo o que fizeram e porque fizeram.
O exemplo do sacerdote e escriba Esdras é didático em relação àqueles que tomam suas decisões de caso pensado. Como sacerdote ele deveria ensinar a Palavra de Deus. No entanto, ao contrário de muitos que preferem ensinar os seus “achismos”, ele procurou, antes de tudo conhecê-la e praticá-la para somente depois ensiná-la aos demais (Ed 7:10).
O ensino pelo exemplo vale mais do que todos os discursos e todas as palavras que ouvimos. As pessoas estão cansadas de ouvir promessas e mais promessas sem que nada aconteça. Então elas preferem ver para crer, como aconteceu com Tomé. Com certeza, a decisão tomada com base em fatos, naquilo que se vê, não é uma decisão de fé, mas é uma decisão prudente e que seguramente trará bons resultados.
É de se ver que a Palavra de Deus sempre causará impactos na nossa vida. Isaías diz que ela jamais voltará vazia. Nosso desejo é que tais efeitos possam ser verdadeiros frutos de arrependimento que possam conduzir à salvação de nossas almas, como é o desejo de Deus (Is 55:10-11; 2 Pe 3:9-13).