O BRILHO OU A OBSCURIDADE

Dos bens que a humanidade produz, as “idéias”, seguramente, são os mais preciosos. Contudo, para que elas frutifiquem, é necessário transportá-las para o plano das realidades, o que é feito por meio das palavras. Por isso, é possível afirmar com êxito que “palavras são o principal e mais eficaz meio de transporte”.

Todavia, sua eficácia, só, não basta: é preciso eficiência no uso, por parte de quem fala e de quem ouve, porque, à semelhança da lavoura, também só a existência de boas sementes e bom semeador não basta: é preciso chão de boa qualidade.

Ora, esse é o princípio responsável pelo progresso intelectual e material de qualquer indivíduo ou grupo; logo, dar ou não a devida importância às palavras depende do objetivo particular de cada um, do indivíduo e da sociedade que o acolhe.

No caso de uma nação, não só essa importância deve ser levada em conta, como também esse raciocínio precisa de ampla consideração, posto que soberania e dignidade devem ser aspirações de primeiro plano; e essas faculdades não se concretizam senão com regular domínio das palavras. Ademais, o retrato da capacidade individual e coletiva e o polimento da educação de um povo e seu valor, são mensurados por meio da qualidade de suas idéias e realizações.

Talvez, e a ser o assunto avaliado desse jeito, tenha partido daí o projeto sobre a padronização mundial da Língua Portuguesa. Dar-lhe características as mesmas em todos os países que a adotam, falando todos a “mesma língua”, certamente, é dar-lhe crescimento, fazê-la forte, imponente; e, com ela, o país. E as conseqüências podem incidir positivamente em milhões de indivíduos. Portanto, a reflexão sobre esses fatos e possibilidades leva o crítico a censurar o modo com o qual o povo brasileiro trata sua língua — aliás, na verdade mesmo, destrata.

Enquanto outros países e povos buscam polir sua intelectualidade, e o fazem, a qualidade da educação brasileira ganha em aspereza, e se coloca “entre as três piores do globo, ao lado da Indonésia e da Tunísia”, segundo um estudo em 2003 entre 41 países, citado pela pesquisa da OEI – Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura. Já antes, em dezembro de 2001, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos divulgara o resultado de sua prova de capacidade de leitura realizada em a Itália. Trinta e dois países se submeteram ao teste: o Brasil chegou em último lugar (Cult, pág. 37).

Brasil e brasileiros andam na contramão: o primeiro não cuida do idioma que o representa nem da instrução de modo geral; os segundos não só fazem chacota de um dos mais belos e ricos idiomas que a humanidade construiu, como também riem daquele que possibilita a expressão clara, matemática, de qualquer juízo a que alguém possa haver, por mais singular que ele seja. Contudo, poucos são os que não temem nem tremem se chamados a expor oralmente seus pensamentos; poucos são os que, de modo claro, conseguem expô-los por escrito. Veja-se bem: “de modo claro”, e não elaborado, erudito. Pedir clareza na exposição das idéias não é pedir muito.

Também no Brasil, as idéias devem e precisam ser os bens de maior valor, de mais intenso brilho. Então, é preciso que se aproveite a oportunidade – que vem rotulada de reforma – e que se dê lustro à língua. Caso não, corre-se o risco de a sua opacidade toldar o reluzir das “idéias brasileiras”, o que, somado à já citada experiência no Pisa, mais ainda embace a Nação aos olhos das comunidades internacionais. E as conseqüências podem incidir negativamente em milhões de indivíduos.

izidro.jim@hotmail.com