Dependência ou Morte!
Neste ano de 2008, o Brasil está completando 186 anos de país politicamente independente. Esse é um grande orgulho para o povo brasileiro. As escolas vão para as ruas expressar a sua civilidade; os militares vão também para mostrar os seus arsenais armamentísticos; e o povo, apesar de não ter nada para mostrar além de necessidades, privações, dificuldades, desemprego, miséria e coisas semelhantes, também vai para a rua, porque se todos vão, então porque ele também não vai, não é mesmo? Esse é um tema que merece a nossa reflexão.
Querer alguma coisa é a base para que esse algo se torne uma realidade. Mas toda situação nova, traz também consigo uma nova série de implicações. Junto com a conquista vem a responsabilidade. E não há como ter uma sem que se tenha a outra. De forma que antes de desejarmos alguma coisa, devemos parar e refletir se queremos as coisas que virão junto com a materialização dela. Isso é planejamento, algo imprescindível e que a Bíblia nos ensina a fazer, para que não caiamos em situações indesejadas.
O texto sagrado nos relata em Lc 14:25-33 todas as condições requeridas para que os nossos desejos, quando materializados, possam ser bem recebidos por nós. É um texto que merece a nossa reflexão mais profunda.
O povo brasileiro fala de independência, clama por independência e comemora sua independência sem reflexão, sem medir as conseqüências de suas falas e reivindicações. Por exemplo. Na nossa história nós tivemos o episódio da escravidão negra, e, posteriormente, o da proclamação de sua abolição. E o que aconteceu com a grande maioria dos escravos libertados? Inúmeros relatos mostram que os escravos não sabiam o que fazer de sua recém-adquirida liberdade e muitos deles passaram a ter uma segunda condição muito pior do que a primeira, enquanto que outros preferiram continuar servindo aos seus senhores tal qual faziam antes da Lei Áurea que os libertara. A verdade é que a libertação da escravidão não fora planejada e acabou resultando em uma falsa libertação, porque os escravos continuaram escravos. A escravidão apenas assumiu uma nova feição, o que lhe garantiu, inclusive, a ampliação de seus domínios. Hoje, não é somente o negro o escravo. A maioria de nós também é escrava do sistema capitalista dominante em nosso país. O escravo é aquele que oferece a força de seu corpo em troca de comida, de um lugar para descansar e de alguma coisa para cobrir a sua nudez. Ele não tem mais nada para dar em troca disso que ele precisa. Essa é a situação da grande maioria do povo brasileiro, que precisa de comida, de casa, de terra, de tudo e não tem nada para oferecer em troca a não ser os seus braços, o seu cérebro, o seu corpo.
Os assalariados de hoje, não são muito diferentes dos escravos de outrora. Podemos até ser um país independente, com soberania sobre o nosso território e tudo o mais que um Estado precisa ter, mas enquanto povo, nós ainda temos muito que lutar para poder dizer que somos independentes, o que, aliás, não passa de uma utopia, pois o homem não foi criado para ser independente. Se observarmos bem a natureza, veremos que, dentre todos os animais, o homem é o que possui maior grau de dependência de seus semelhantes. Se um bebê humano for abandonado ao nascer é quase certo que ele morrerá. Nós dependemos uns dos outros desde o nosso nascimento até a nossa morte. Diz a filosofia que o “homem é um animal político e que não consegue viver fora da polis”, longe da companhia de outros de sua espécie. Dessa forma, não conseguindo nos tornar independentes, nós devemos planejar a nossa dependência, buscando agregar-nos com alguém que nos ofereça as melhores condições de sobrevivência e nos livre da morte certa que teríamos se estivéssemos abandonados à nossa própria sorte.
Não há como fugir da servidão e continuar vivo. A independência é morte certa. Sempre precisaremos de alguém. O que devemos fazer é escolher com sabedoria aquele a quem serviremos, isto é, aquele do qual dependeremos. Não dá para ficar em cima do muro. É preciso definir. “Ninguém pode servir a dois senhores” (MT 6:24). Nesse sentido, gostaria de falar um pouco sobre o Senhor ideal: Jesus Cristo (Lc 2:11, 2 Co 4:5). Gostaria de falar, principalmente, sobre as vantagens que teremos se decidirmos escolher ele para ser o nosso Senhor.
A primeira vantagem é que ele não nos trata como servos, mas como amigos (Jo 15:15). Em segundo lugar, ele é um Senhor que não apenas espera que o sirvamos, mas ele próprio dedica a sua vida para nos servir (Mc 10:45; Lc 22:27). Todavia, a melhor das promessas, com certeza é a da adoção de filhos. O Pai de Jesus, Deus, diz que nos tornará filhos dele se nós recebermos ao Seu Filho Unigênito como Nosso Senhor (Jo 3:16, 1:12). E como garantia de que tudo isso realmente se dará da forma como foi prometida, Jesus nos concede o Consolador (Jo 16:7), o Espírito Santo, o qual nos guiará pela vida afora ensinando-nos a maneira de viver que mais o agradará.
Podemos afirmar que se escolhermos ser dependentes de Jesus, nós somente teremos a ganhar. Poderemos até dizer que seremos, de fato, livres, gozando de tantos privilégios. Aliás, liberdade é a marca maior do serviço a Jesus. Só servem a Ele os voluntários, aqueles que desejarem servi-lo livremente. E, com certeza, é principalmente por causa dessa boa disposição de coração e de mente que nos preenche, que Jesus promete atender ao nosso maior desejo: conceder-nos a liberdade, a independência, a alforria. Tudo o que temos a fazer é perseverar com ele até o fim dessa jornada (Jo 8:36). Então teremos um lugar ao seu lado (Jo 14:1-3) e seremos co-herdeiros com ele de toda a sua herança (Rm 8:14-17). Então seremos efetivamente livres.
A conclusão é óbvia. Só seremos um povo livre e independente, se escolhermos o Senhor certo ao qual serviremos. Hoje todos nós temos essa opção de escolher. Assim, encerro falando juntamente com Josué: “Escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. (Js 2415).
Izaias Resplandes de Sousa é membro da Neo-Testamentária de Poxoréo, MT.