Firmeza de convicção
Uma das idéias genéricas predominantes em nossos dias é a do não-envolvimento, do alheamento e distanciamento daquilo que ocorre à nossa volta, sem qualquer comprometimento de nossa parte, acreditando que procedendo dessa forma nós estaremos garantidos contra qualquer influência maléfica. Através dessa reflexão pretendemos mostrar que não existe realmente uma segurança em termos de resultados, para a pessoa que adota uma postura de neutralidade. Ao revés, o que existe são prejuízos irreparáveis, conforme demonstraremos em nossa argumentação, fundamentada no ensinamento de renomadas autoridades bíblicas, as quais atestam que o não envolvimento torna a parte desmerecedora de respeito, consideração e confiança. Mostraremos também que essa atitude passiva é conseqüência da falta de conhecimento e que, por conseguinte é desprovida de fundamentação.
Comecemos por Tiago, o qual fulmina a dubiedade ao declarar de forma enfática que não devemos ficar jurando por isso ou aquilo para sustentar as nossas declarações. Pelo contrário, “seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo” (Tg 5:12). Em seguida temos duas declarações magisteriais de nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele declara que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro” em Mateus 6:24 e, em Apocalipse 3:15-16, onde ele demonstra o seu desprezo pelo indefinido e sem posição, dizendo: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”.
Eu gosto do Tiago porque ele é incisivo: ou você tem palavra ou você não tem. Aquele que ora é uma coisa, ora é outra não merece confiança. Como saber se nesse momento ele ainda mantém a sua palavra ou se já mudou de idéia. É decepcionante vermos uma pessoa que estava crescendo no conhecimento sob nossa orientação, que já começava a ensinar os outros o que tinha aprendido, enfim, que caminhava tão bem e que de repente abandona tudo e não quer mais saber de nada, sem dar qualquer explicação convincente. Simplesmente não quer porque não quer. Dá vontade de chorar e às vezes nós choramos mesmo diante de tal situação, como dá para sentir nos registros de Paulo em Gálatas 5:1-10, quando ele aduz o seu pensamento crítico sobre tal comportamento.
Também digno de nota é a atitude de Sócrates, aquele que foi considerado como o homem mais sábio da Grécia clássica (sec. V a.C.). Ele foi contemporâneo dos chamados “sofistas”, vendedores ambulantes do conhecimento, os quais ensinavam como se ganhar um debate, fosse defendendo a posição A, fosse defendendo a posição B. Para eles não importava o que se defendia, o que importava era ganhar a questão. Sócrates acreditava na virtude, na justiça e não ensinava por dinheiro. Ele condenava os sofistas. Também condenava a sociedade de seu tempo, para a qual apenas os chamados “cidadãos” tinham o direito de aprender e de conhecer. Ele desafiava essa cultura indo às praças públicas, onde ensinava todo o que ali se encontrava. Por causa de sua atitude ele foi condenado à morte por ingestão de cicuta, um veneno fatal.
A lição a ser aprendida com esses mestres que deram a sua vida para nos mostrar o caminho da verdade é a do discípulo que põe em prática aquilo que aprendeu. Se ensinar por ensinar fosse o ofício deles e aprender por aprender o nosso dever, então eles seriam meros profissionais do ensino e nós não passaríamos de simples alunos. Mas esse foco, com certeza nunca foi o xis da questão em seus ministérios. Paulo lamentava a falta de resultados na vida de seus discípulos, quando dizia em 1 Coríntios 3:1 “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo”. A mesma idéia se registra em Hebreus 5:12: “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido”.
A mudança de posicionamento pode se dar por dois motivos fundamentais. O primeiro, por falta de conhecimento. Esse é costume daquele que acredita em tudo o que ouve, de forma cega, sem fazer qualquer análise. Sobre essa mudança encontramos o alerta do apóstolo Paulo a dizer-nos “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef. 4:14). A segunda mudança decorre exatamente do contrário, ou seja, do conhecimento. Mudamos nossa vida porque conhecemos algo melhor e com mais substância. Quando conhecemos as Escrituras, conhecemos a Jesus, porque elas testificam a seu respeito (Jo 5:39). E ao conhecê-lo, conhecemos a verdade, porque Ele é a verdade (Jo 14:6) e por essa verdade nós somos libertados (Jo 8:32). Essa é a mudança que interessa, ou seja, a que decorre do conhecimento.
Grande parte das pessoas inconstantes não tem um conhecimento profundo daquilo que sustenta a sua fé. Seu conhecimento é superficial. Elas não lêem a Bíblia, não participam das reuniões de oração e de estudo. Vivem apenas com aquilo que ouviu e que as encantou no dia em que decidiram aceitar a Jesus. Mas isso é muito pouco para sustentar a fé de uma pessoa. Uma vez que a casa é limpa das coisas ruins, dos maus costumes e de tudo o que não é recomendável é preciso remobiliá-la, colocando algo no lugar. Se não fizermos isso, tudo o que saiu volta outra vez e ainda traz alguns acompanhamentos (Mt 12:44-45).
Assim sendo, devemos fortalecer as nossas convicções e crenças, colocando em prática aquilo que aprendemos. A fé sem obras é morta (Tg 2:26). É preciso avançar. Não podemos ficar estagnados (Fp 3:13-14). Jesus criticava os saduceus por suas crenças baseadas no senso comum, dizendo que eles erravam porque não conheciam as Escrituras (Mt 22:29). Hoje talvez seja o dia de começar a sua mudança de vida. Você já ouviu o bastante acerca dos fundamentos, mas agora entende que precisa progredir, que é preciso deixar de ser um mero ouvinte para ser um praticante, deixar de ser um simples aluno para ser um verdadeiro discípulo que segue os ensinamentos de seu mestre. Agora você entende que não dá para continuar indeciso, indefinido, sem posição e você quer mudar porque agora você conhece as razões que justificam a mudança.
Portanto, ao concluir, rogo a todos para que não deixemos que os ensinamentos da Palavra de Deus passem por nossos ouvidos de um lado para outro sem produzir resultados. Demonstremos o nosso amadurecimento, retendo o que é bom daquilo que temos ouvido e colocando em prática como fundamentação para as nossas vidas (T Ts 5:21; 1 Pe 3:11, 17; 3 Jo 1:11). Que Deus nos abençoe!.
Izaias Resplandes de Sousa é membro da Igreja Neotestamentária de Poxoréo, MT