Meu fardo é leve

A vida cristã deve ser caracterizada pelo equilíbrio. Nem tanto céu, nem tanto terra. Devemos observar os limites de tolerância em relação a nós mesmos para que possamos nos manter firmes, satisfeitos e felizes com a nova vida que temos recebido de Cristo. A moderação é a virtude que consiste em evitar qualquer excesso. Rm 12:3; Fp 4:5; 2 Tm 1:7.

É verdade que o cristão tem um fardo para carregar. Jesus disse que o seu fardo era leve, mas não que não haveria um fardo para o crente carregar; disse que seu jugo seria suave, mas não que não houvesse um jugo (uma carga). Ele não disse que não teríamos obrigações ou responsabilidades ao nos tornarmos seus discípulos. Pelo contrário, disse que o cristão deveria empregar esforço para entrar no reino dos céus. Mt 11:29-30, 12; Lc 13:24.

Por outro lado, as exigências devem ser proporcionais à capacidade de cada um, a fim de que não seja motivo para o desânimo e a tristeza. As atividades cristãs devem ser prazerosas e não estressantes. Somente se deve aumentar a carga sobre um irmão se isso não vier dar causa à sua derrocada. Os que lideram, devem fazê-lo com diligência, observando essas peculiaridades da Palavra de Deus, para que tenhamos crentes felizes com sua missão, ao invés de pessoas fatigadas desmaiando ante o peso da cruz. 1 Co 10:13; Hb 12:3.

Se um irmão caminha bem e pode suportar mais, certamente não é vedado exigir dele um pouco mais. Todavia, sempre com a devida moderação. O exército precisa estar animado e pronto para responder aos comandos. Isso não acontecerá se tivermos soldados cansados e sobrecarregados. Aliás, a idéia da sobrecarga é contrária às idéias pregadas pelo Senhor. Afinal, o que Ele defende é o alívio, diferentemente dos líderes tipo Roboão que prometem não apenas açoites sobre o povo, mas também o castigo com escorpiões. II Cr 10:12-14; Mt 11:28.

É de observar que uma das conseqüências decorrentes do ato de receber algo é o ato de dar ou de restituir. Essa é uma lição que já está incorporada em nossa consciência ética. Isso é patente: daquele que mais receber mais se requererá. Lc 12:48, Mt 6:12; Lc 7:41-43; Mt 18:32-33.

Nesse sentido, é de ver se o irmão que vai ser sobrecarregado é capaz de suportar o novo fardo com naturalidade, respondendo à altura pelas responsabilidades decorrentes. Veja-se a crítica que Jesus fazia aos fariseus a respeito desse assunto. Eles não tinham esses cuidados e iam colocando fardos e mais fardos sobre os irmãos, sem levar em conta a capacidade de cada um para carregá-los. E pouco se incomodavam com isso. Mt 23:2-4.

É evidente que todo crente é chamado para trabalhar na obra de Deus. E, para tanto cada um é qualificado pelo próprio Senhor Jesus. Por outro lado, o trabalho do cristão em prol do reino de Deus deve ser resultado de um esforço coletivo. É um mister para quatro mãos, onde cada uma deve dar a sua contribuição. Não é tarefa isolada. O fardo é sempre um fardo, ou seja, é pesado por natureza. O que o torna leve é a parceria, é a divisão de atribuições e responsabilidades. Gl 6:2; Rm 12:4-5.

É de recordar que a vida cristã é liberdade e não constrangimento. Se não houver prazer verdadeiro em nosso agir, em oposição ao prazer hipócrita e fingido, não estaremos atuando no Espírito de Cristo. Esse é um agir carnal, que segue as aparências; não é espiritual, pois contraria a natureza da pregação bíblica, Devemos trabalhar, sim, mas dentro de nossos limites. Não temos que aceitar mais um encargo só porque somos crentes responsáveis. Rm 8:8-9.

O fim não justifica os meios. O crente responsável com a obra é aquele que, antes de tudo, é responsável para consigo mesmo. A medida do amor aos irmãos deve ser a medida do amor a si mesmo. Lc 10:27b. Os outros podem até supor os nossos limites; nós temos o dever de conhecê-los, nos adequando a eles. Devemos trabalhar enquanto é dia, enquanto temos condições. E quando for necessário, devemos nos retirar para um lugar solitário, separado dos irmãos, da labuta e de tudo para descansar e reparar as nossos energias. O descanso é uma criação de Deus para nós. Mc 6:31-32; Mc 2:27.

“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim [...], porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Mt 11:29-30.

_________________

Izaias Resplandes de Sousa é membro da Igreja Evangélica Neotestamentária de Poxoréu, MT.