A Estrada e o Poema
Nossa Responsabilidade!
A Necessidade da Metrificação na Literatura de Cordel
Amigo,
Tente, mas tente mesmo, ler em voz alta uma de cada vez, as estrofes abaixo:
Primeiro, esta:
Eu sou
Um homem comum, transparente, natural.
E nunca me surpreendo com o que
Não é normal.
Agora, esta:
Eu sou um homem comum,
Transparente, natural.
E nunca me surpreendo
Com o que não é normal.
Agora, por favor, me diga: qual das duas estrofes foi mais fácil de ler?
Qual das duas você leu mais tranquilamente, sem tropeços, sem “acidentes”?
Qual das duas comunicou mais a idéia pretendida?
Claro que a foi a segunda!
Mas... por que? Se as duas dizem a mesma coisa, no mesmo idioma, por que uma é mais fácil de ler que a outra? E por que uma comunica mais?
A resposta é... Metrificação!
Um poema, uma estrofe, um verso são feitos para serem lidos, declamados e até cantados. São como uma estrada, que é feita para ser utilizada por viajantes, dirigindo seus carros. Quanto mais bem-feita, mais regular for a estrada, mais segurança vai oferecer aos motoristas e menos acidentes vai causar.
Quanto mais regular for o verso, a estrofe, o poema, mais fácil vai ser a leitura e melhor a compreensão da idéia.
A largura da estrada, por exemplo, é fundamental. Imagine uma estrada que, no início, tem vinte metros de largura, e... logo depois da primeira curva essa largura é reduzida para, digamos, dez metros, sem nenhum aviso.
Resultado? Acidentes, claro.
Culpa dos motoristas? Claro que não! Culpa da estrada? Também não, porque estrada não é ser pensante, par levar culpa. Então, quem é o responsável, ou melhor, quem é o culpado?
O engenheiro que projetou e construiu a estrada!
O poeta é o “engenheiro” do poema. Ele o projeta e o executa. Mas quem o vai ler, declamar ou cantar, na maioria das vezes, é outra pessoa. E, se o poema é irregular, cheio de “buracos”, “alargamentos”, “estreitamentos”, e outras surpresas... coitado do declamador ou cantador! Vai quebrar a cara no segundo verso, se chegar lá!...
E sem ter culpa, pois o culpado será o “poeta” ( aspas intencionais), que não observou a regularidade do poema que escreveu.
Para se medir a largura ou o tamanho de uma estrada, usa-se o Sistema Métrico.
Para se medir a “largura” ou o “tamanho” de um verso, usa-se outro sistema: a Metrificação.
Se, no Sistema Métrico Decimal a unidade é o Metro, na Sistema de Metrificação (ou Medição) da Poesia, usa-se a Sílaba Poética.
Uma estrada que começa com vinte metros de largura tem que terminar com vinte metros. Um Folheto de Cordel cujos versos começam com sete sílabas poéticas, por exemplo, tem que terminar com versos de sete sílabas poéticas, claro! E o leitor, declamador ou cantor irá agradecer muito ao engenheiro-poeta!
Todo Poeta, sem exceção, quer ser respeitado, quer ter sua obra elogiada e reconhecida. Mas é muito bom que nós nos lembremos que, se queremos ter o respeito dos outros, temos que, em primeiro lugar, respeitar os outros.
Construir uma estrada insegura é falta de respeito para com o futuro usuário. Em alguns casos, é crime!
Construir um poema de difícil leitura e pior entendimento é, no mínimo, falta de respeito para com o leitor.
Pensemos nisso, no momento de escrever. Nós não escrevemos para nós mesmos. Nós escrevemos para que os outros nos leiam e nos entendam. Portanto, temos a obrigação de ser claros, regulares e obedientes às Normas do Estilo de Poesia que escolhemos.
Não somos obrigados a escrever Literatura de Cordel. Mas, desde que, com absoluta liberdade, optamos por este Gênero Literário, assumimos, automaticamente, o compromisso de respeitar-lhes as Regras, Normas e Exigências.
Àqueles que (ainda) sentem dificuldades , recomendamos o estudo meticuloso da "Teoria do Cordel" e do "Estudo Específico Sobre Metrificação", neste site, pois nele se encontra o resumo de tudo em que consiste a Metrificação.
Bom estudo e... Bons Poemas!!!
Links para os artigos acima referidos:
Teoria do Cordel:
http://www.compadrelemos.com/visualizar.php?idt=1020574
Estudo Específico Sobre Metrificação:
http://www.compadrelemos.com/visualizar.php?idt=1021085
Agradecimento:
Agradeço, com alegria,
Ao Senhor da Onipotência,
Todo Amor e Inteligência,
Criador da Poesia!
Depois, a meu pai, que, um dia,
Vendo em mim um Menestrel,
Deu-me, em vez de um anel,
O livro que eu li primeiro:
De um poeta brasileiro,
Escrito em bom Cordel!
Eu só espero merecer
De Deus, tamanha bondade,
E toda a felicidade
De poeta poder ser!
E a meu pai, quero dizer,
Marejando os olhos meus:
Você já me disse adeus,
Mas ainda lhe agradeço
Por me dizer, não esqueço,
“A Poesia vem de Deus!”
Fraterno abraço,