HPV - Como encarar a contaminação

Eu devo iniciar o artigo de outra forma: “Como encarar qualquer doença sexualmente transmissível (DST)?”.

Normalmente tudo que tem relação com sexo é visto de uma forma muito constrangedora em nossa sociedade na maior parte das vezes, e isso, em qualquer lugar do mundo, em qualquer nível social e intelectual.
 
Na verdade, não só as doenças, mas qualquer assunto que tenha como tema o relacionamento sexual ou ato sexual é visto das seguintes formas: medo, tabu, vergonha, constrangimento, ironia, deboche, sentimento de culpa, humor. Menos como deve ser encarado: com normalidade e sem preconceitos.
 
É muito estranho que tenhamos uma postura séria e preocupada quando se fala em câncer e outras patologias, mas falar em doenças “que se pega dos outros” é muito feio ou deselegante.
 
É comum associar doenças transmissíveis pelo ato sexual com promiscuidade, falta de higiene, descuido. Até é, mas nem sempre e, talvez na maior parte das vezes, não o seja. O sistema imunológico é tudo, e se não fosse ele, pegaríamos muito mais doenças do que já adquirimos na vida.
 
O sexo não marca tanto quanto as sequelas negativas que ele possa deixar: gravidez não desejada e doenças. Acredito que o sexo entre duas pessoas esteja tão banalizado, tão impessoal, que qualquer doença adquirida neste ato seja vista como uma punição, um castigo. Senão, vejamos:
 
Sexo ou ato sexual:
 
Quantas vezes é feito com amor e por amor? Quantas vezes é apenas uma situação momentânea de prazer, apenas físico, uma necessidade fisiológica? É errado? Cada um sabe o que é importante, certo ou errado, a seu momento.
 
Relacionamento sexual:
 
Isso é outra coisa: pacto, parceria, carinho e empatia. Mesmo sem amor, o relacionamento sexual exige interação intelectual; exige diálogo além do ato, porém, havendo amor o relacionamento se completa.
 
Atração sexual:

Pode ser um momento ou pode ser um exercício (muitas vezes difícil) entre um casal que vive junto há muito tempo.  De qualquer forma, atração estimula o sexo; é o que realmente faz a diferença entre o que é prazeroso e gratificante e o que é um ato mecânico.

Imaginem, então, quantas situações podem surgir quando há conflitos em um destes setores?

Considerando que o sexo instantâneo, casual e eventual, seja o menos complicado, as pessoas o banalizam, mesmo se sabendo que o ser humano necessita de envolvimento interpessoal para se completar emocionalmente e socialmente - mas nem sempre isso é possível; nem sempre isso é conquistado.
 
Ficariam apavorados se alguém descobrisse que estão com escabiose (sarna)? Tão comum como o piolho na cabeça das crianças e adultos... Alguém diz publicamente que tem piolho ou sarna? Não... Mas são capazes de dizer que têm qualquer outra doença, por pior que seja.
 
A tuberculose foi o “mal do século” XIX. Até hoje as pessoas escondem que a tiveram ou estão em tratamento. Hanseníase (lepra) é um horror, não é? Muitas pessoas a pegam e se tratam sem ninguém saber... AIDS ainda é tabu e podem ter certeza que muitas pessoas estão por aí à nossa volta e possuem o vírus, sem desconfiarmos de nada. Todas elas são doenças contagiosas e estamos passíveis de as adquirir, mesmo nos cuidando direitinho.
 
Quando tenho que  conversar com alguma paciente acometida por alguma doença contagiosa, procuro explicar tudo sobre a mesma, esclarecer suas dúvidas e traçar a conduta terapêutica, inclusive conjugal. Não é incomum perceber que após a primeira reação, que é de susto, logo demonstram preocupação quanto a avisar ao parceiro. Até hoje a maioria não se preocupa com a doença em si.
 
Por que - eu pergunto veementemente - uma mulher tem vergonha de dizer ao seu parceiro que está com herpes ou com micose genital tipo candidíase, tão comum até em crianças? Será que esse relacionamento sexual é tão pequeno assim que uma simples doença pode afetá-lo? Será que somente os perfeitos são merecedores de respeito? Será que uma mulher tem receio de dizer que está com alguma doença pelo risco de ser encarada como uma pessoa suja ou vulgar? Ou será que é o medo de perder o companheiro pelo que ele vai pensar? Se for assim, essa relação é realmente muito banal.
 
“De quem pegou?”, “Com quem andou por aí?”: essas são as perguntas mais frequentes dos parceiros. O mais impressionante é que mesmo que a suspeita da contaminação seja dele, a mulher teme pelo que este vai pensar sobre sua vida sexual pregressa. O homem, por outro lado, não procura informações sobre a infecção e toma uma primeira atitude de achar que é imune a doenças e que provavelmente a sua mulher as “trouxe” de outro relacionamento - anterior ou atual.
 
Por isso, qualquer DST não se restringe a ela ou à sua gravidade, mas afeta o envolvimento pessoal dali pra frente. Já abordei em artigos anteriores sobre o HPV. Lançarei um novo artigo, que vai se direcionar a como lidar com esta virose.

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Leila Marinho Lage
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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 23/05/2008
Reeditado em 23/05/2008
Código do texto: T1001448
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