Causos da região de acordo com os antigos e modernos

 

Recentemente estou descobrindo alguns mistérios em relação a nossa região. De interesse sendo os livros de dois escritores regionais, de Márcio Augustin, que já escreveu várias obras sobre Campo Alegre e Bateias, e o meu amigo Cléverson Israel Minikovsky, que escreveu uma recente sobre São Bento. Mais do que superstição, certamente revelam a nossa cultura e o modo de ver o mundo de outra época. Talvez não seja o modo de ver o mais correto, mas sempre é agradável não se desperdiçar a experiência, como ensinava filósofo Boaventura de Sousa Santos.

De início, me interessaram as várias histórias de visagens e lobisomem, que Augustin revela após a conversa com os antigos da região de Bateias e Campo Alegre. Pela grande religiosidade do povo, e pela passagem de Jesuítas, restou que há várias lendas e causos relacionados. Há tesouros escondidos no Quiriri, como panelas de outro, sino de ouro e até mesmo potes de ouro. É sério. Vários já procuraram os ditos tesouros. Também existem cemitérios abandonados com visagens e curiosas aparições, como o caso de anjos, estes operando milagres, e sendo segundo relatam, almas de crianças que faleceram lá. Sobre lobisomem a notícia relevante é que se trata sempre do sétimo filho homem. Também sobre a lenha do fogão, não se pode usar uma árvore de natal, nem uma em que caiu raio, e queima-se ramo para afastar raio.

Passando a São Bento, sabemos também da dificuldade que tiveram os primeiros imigrandes, do trabalho na roça, das construções rústicas, da alimentação em latas, e outros costumes de primeiros habitantes de nossa terra. Mas Minikovsky relata um primeiro automóvel que teria passado na época, no Bela Aliança, de modo que ao ficarem valetas na estrada de terra, as pessoas ficaram cheirando a borracha do pneu, que teria deixado a marca na estrada. Claro que na época era comum as carroças e os carroceiros. As aventuras dos carroceiros não caberiam em cem livros, e aqui seria pouco para falar nelas. Filho de um carroceiro, o Sr. Ervino Habowsky, que já me deu relatos ainda mais interessantes da nossa região, como da passagem de um Zeppelin em São Bento, com parada e tudo. Já Cléverson fala em seu livro que teria visto uma visagem aqui em nosso cemitério, de uma moça loura, e isso ano passado, então, em tempo recente.

Há também uma lenda de que aparece o vulto de uma mulher em um clube de São Bento, e teria sido uma moça de Lapa, noiva de um fazendeiro, a qual fora esfaqueada, por ter traído o noivo, e assim ainda presente, segundo alguns. Parece que as damas gostam mais de aparecer em fantasmas. Assim é também em Campo Alegre, onde se fala de uma Dama do Rio, que aparece, lá no Rio Bateias, perto de uma serraria, e que mais antigamente havia um moinho. Claro que de igual modo a religiosidade nos revela milagres e a fé de nosso povo. Um relato de Minikovsky se refere a um canário que ficou paralisado pela visita e energia negativa de uma pessoa, e o pai dele colocou o terço sobre a gaiola, e o bicho antes paralisado voltou a se mover e a bater asas. Falando em asas, existe ainda em Bateias um galo com asas de ouro, o qual é mais um guardião do tesouro dos Jesuítas. Falando nisso, a maior lenda talvez em nosso estado seja a do monge João Maria, a qual é relatada em quase todos os livros de história de nosso estado.

Fato inconteste é que esses causos e lendas, mesmo com um pouco de superstição, revelam a forte fé e intuição dos antigos. Mesmo a sua mística e inteligência ao se lidar com problemas, numa vida muito mais difícil que a nossa. Claro que era uma vida também divertida, com seus bailes e festas de igreja, de corridas de cavalo, caçadas e práticas que revelam o costume da época e nossa beleza regional.