Marginais sobre duas rodas

Motocicleta é tudo de bom. Ágil no trânsito, econômica, mais fácil de estacionar, não amolece o corpo com o excesso de conforto, polui menos. Tem algumas desvantagens como maior risco de acidentes, exige do piloto atenção triplicada, exige certa coragem para usá-la, o planejamento do trânsito se torna mais complexo, para conciliar a dinâmica de veiculos tão diferentes entre si quanto carros e motos.

Noves fora, o custo/benefício e risco/benefício dos motociclos são favoráveis, para o indivíduo e para a sociedade. É o futuro inevitável do trânsito urbano, pois teremos cada vez mais motos substituindo carros.

Mas... em todo lugar tem o espírito de porco capaz de estragar a paz e a harmonia. Neste momento, refiro-me a uma raça de imbecis que turam o miolo do escapamento das suas motos para que façam bastante barulho. Não se importam com pessoas que não gostam de baderna, nem com as pessoas mais sensíveis, doentes, idosos. São broncos, mal educados, incivilizados, acham bonito ser mal educado e querem que todos sejam broncos como eles.

Você está conversando com alguém, passa um desses marginais sobre duas rodas e o barulho interrompe a conversa. Você está estressado pela dura luta da sobrevivência, passa um desses coisas ruins e o berreiro da moto te dá um susto. Você está dentro de casa assistindo televisão, lá na rua passa um desses capetas travessos e você fica sem ouvir o que o apresentador falou; em seguida fica ouvindo o barulho irritante do maldito quando ele já vai por uma rua do bairro vizinho. Ninguém é obrigado a aturar, mas você não pode fazer nada.

Carros e motos saem das fábricas com escapamentos silenciosos por uma razão: as cidades não podem sucumbir à poluição sonora, que prejudica a saúde humana de forma insidiosa e muito mais maléfica do que nós pessoas comuns imaginamos.

"Coitados, são motoboys trabalhando honestamente para ganhar a vida!"

E daí? Todo mundo precisa trabalhar honestamente para ganhar a vida, mas ninguém tem o direito de perturbar o sossego alheio: Artigo nº 42 da Lei de Contravenções Penais – perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheio – pena cominada de prisão simples de 15 dias a três (03) meses ou multa.

Se o motoqueiro está trabalhando, está dentro da sociedade. Faz parte dela, contribui e usufrue seus benefícios. Se para trabalhar usa um veículo que fere a sensibilidade dos demais cidadãos, é porque não se importa com os outros, e quem não se importa com os outros está com um pé fora da sociedade, e quem está com um pé dentro e outro fora da sociedade É UM MARGINAL.

Conversei com um motoqueiro desse tipo, perguntei porque ele gosta de fazer barulho infernal com sua moto, ele respondeu com cinismo mal disfarçado que é por segurança: "quando estou pilotando o barulho alerta os motoristas e evita que eles façam alguma manobra que possa me derrubar quando vou ultrapassar". Tenha dó! Motoboy nenhum tem o direito de pilotar acima dos limites de velocidade, de forma a colocar em risco a segurança do trânsito, sem o mínimo de bom senso. E nenhum motorista tem obrigação de abrir caminho para quem vem por trás.

Há os motoristas distraídos, que fazem barbeiragens, especialmente nos cruzamentos, e provocam acidentes. Eu sou motociclista entusiasta, mas quando comprei minha moto sabia que isso existe, que meu corpo estaria mais exposto a ferimentos, e sempre pilotei prevenindo-me o mais possível contra as surpresas desses motoristas. Não vou deixar o escapamento da minha moto barulhento para "abrir caminho" nos corredores de automóveis, porque isso seria estultícia. Em 22 anos de motociclismo sofri um único acidente, e foi sem quebrar nenhum osso, num momento de imprudência: acelerei para cinquenta quilômetros por hora quando não devia ir a mais de quarenta. Estava no lugar errado, no momento errado: um motorista arrogante e destrambelhado, porque o trânsito estava congestionado, desviou-se do seu percurso subitamente e acelerou até sessenta, quando não deveria chegar a quarenta. Imbecil!

VAMOS ÀS SOLUÇÕES:

O primeiro passo é regulamentar, ajustar a legislação para que os agentes do Estado passam punir quem danifica o escapamento de motocicleta para fazê-lo barulhento, ou troca o original por modelo "esportivo" ou de qualquer tipo que não seja silencioso.

O segundo passo é equipar os agentes do Estado - polícias, guardas civis, agentes do trânsito - para que possam abordar motociclistas e medir os decibéis do veículo, para em seguida aplicar as sanções.

A terceira medida necessária é proibir a fabricação e comércio de escapamentos fora das especificações das montadoras de veículos e do Inmetro.

Me perdoem aqueles que não gostam de palavras pesadas. Usei algumas para chamar mais a atenção, e garanto que não usei nenhum "palavrão", mesmo sentindo vontade de qualificar adequadamente os marginais que andam sobre duas rodas.

M A Mondini
Enviado por M A Mondini em 25/04/2024
Reeditado em 08/05/2024
Código do texto: T8049803
Classificação de conteúdo: seguro