violência simbólica em tempos de pandemia

O sociólogo Pierre Bourdieu, acreditava que os seres humanos possuem quatro tipos de capitais, que são eles: 1) o capital econômico, no caso, a renda financeira; 2) o capital social, ou seja, suas redes de amizade e convívio; 3) o cultural, aquele que é constituído pela educação, diplomas e envolvimento com a arte; 4) capital simbólico, este está ligado à honra, o prestígio e o reconhecimento. É por meio desse último capital que determinadas diferenças de poder são definidas socialmente.

O campo social “é um espaço social constituído por uma ortodoxia que inclui valores, princípios e regras próprias”. A realidade é orientada por convenções, distinções sociais em relação aos outros. Assim sendo, o campo é sempre um campo de forças, em que os agentes sociais estão dispostos em diferentes posições, cada qual com suas estratégias para tentar dominar o campo ou conseguir seus troféus específicos. O campo jurídico, por exemplo, é um lugar de disputa pelo poder de ter o direito de dizer o direito. Neste campo se defrontam agentes com competência para interpretar normas, de forma mais ou menos livre ou autorizada. Para se investigar um campo é relevante dar importância e prezar sobretudo pela empiria, pela pesquisa de campo, pela coleta de dados.

Outro elemento é o poder simbólico, este como sendo o poder de transformar o mundo por meio de palavras, de constituir o dado (uma realidade) pela enunciação. O Poder Judiciário, exemplificando, no exercício do poder simbólico resolve os conflitos surgidos entre pessoas e entre coisas declarando o que elas são. Todavia, para que este seja efetivo, é preciso que seus destinatários reconheçam seu detentor como uma autoridade nas declarações que emite. De forma geral, o resultado é alcançado quando o enunciador é convincente ao mostrar que age em prol do bem coletivo. Faz-se pertinente dizer que o poder simbólico é um poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que estão sujeitos a ele ou mesmo daqueles que o exercem.

A violência simbólica acontece justamente pela falta de equivalência do capital simbólico entre as pessoas ou instituições. Às vezes, a violência simbólica é cometida com a cumplicidade entre quem sofre e quem a pratica, e nem sempre, os envolvidos têm consciência do que estão sofrendo ou exercendo. Bem apontou Rodrigo Chaves ao afirmar que “o detentor de poder simbólico que o exerce com arbitrariedade, sem assumi-la, pratica a violência simbólica”. Dessa forma, não necessariamente, a violência simbólica se exerce com exclusividade por determinado ator.

Infelizmente, parece-me, que a sociedade brasileira entende quando se fala de campo de futebol, quando se tem onze “agentes” na busca de um objetivo que não traz nenhum benefício concreto para todos. Quando, na verdade, faz-se relevante, ao menos neste momento de guerra contra um inimigo invisível, que é o corona vírus, estar atento a um campo social que interessa a todos: que é o campo da política. A violência que tanto nos acompanha, agora revelada de forma simbólica na política, quando o que mais precisamos é de paz para passarmos por este momento difícil.