REFLEXÕES DE UM NOVEMBRO ONDE AINDA IMPERAM AS DIFERENÇAS E LEMBRANÇAS ENTRE NÓS

REFLEXÕES DE UM NOVEMBRO ONDE AINDA IMPERAM AS DIFERENÇAS E LEMBRANÇAS ENTRE NÓS

Hoje, nos idos de novembro de 2018, sinto-me enojado de ser essa criatura humanamente desumanizada dos princípios que deveriam nortear o reinado da minha espécie, no âmbito dos animais vertebrados e, principalmente mamíferos, pois me vejo perante o Criador do Universo, como um daqueles que não soube vencer com dignidade às demais espécies animais e vegetais que nos cercam, nos mantém e nos fortalecem para continuarmos a existir, quando percebo e sinto até na própria pele e na minha constituição neural de pensar sobre a vida, o asco tremendo de ver antagonismos que abalam a condição existencial do próprio ser humano, se olharmos o deboche para com a exploração de uma criatura por seu próprio semelhante, quando vemos a necessidade de termos um dia dedicado aos mortos, outro dia para a consciência negra, outro para lembrar o legado de Karl Marx, pois isso não seria necessário se tivéssemos o devido respeito aos nossos ancestrais e entes queridos, quando alguns deles falecem ainda enquanto estamos a completar nossa jornada de vida terrena, se respeitássemos a todo ser humano por apenas sê-lo, e não pela melanina que marca nosso maior órgão corpóreo, que é a pele, ou pela cor da íris, dimensões dos membros, medidas de altura, largura, quantidade de pelos ou expressão facial, já que nos acostumamos a cobrir nossa nudez nem sempre sob a desculpa do frio ou calor, dos raios solares ou do sereno das noites, mas para tentar fazer como os faisões e pavões ou outros animais que se enfeitam para a corte do macho à fêmea, em busca de procriação e perpetuação da espécie, que há muito tempo substituímos pela soberbia de unicamente nos querer suplantar ao outro apenas pelo mero prazer de demonstrar poder, o qual não nos é facultado para a eternidade, mas sim com seu caráter efêmero, pois num certo momento seremos diluídos, carburados ou solidificados para a continuidade de outras vidas que nos sucederão.

Ficamos a nos explorar, diferentemente de quando vivíamos do escambo, da vida respeitosa dos clãs, caçávamos por necessidade, plantávamos e colhíamos também por necessidade, praticávamos o nomadismo ou as migrações, quando um solo ou determinada área se tornava incapaz de dar o sustento necessário aos nossos grupos humanos, o que contribuía para que aqueles locais ora recém explorados pudessem ter seu tempo de recomposição e reavivamento.

Mas não, continuamos nossa trajetória em busca do mais fácil, apenas copiando e não buscando uma inovação que se mostre proativa, quando não depreciando os louváveis feitos de nossos antepassados, apenas porque não conseguimos entende-los, pois o que aprendemos mesmo foi a tecer criticas a tudo e a todos, sem primeiro nos assenhorarmos de termos conhecido ou estudado todas as opiniões e idéias postas para a reflexão de cada um, segundo seu modo cultural de enxergar, mas sem menosprezo, pois discordar não quer dizer que tenhamos a razão, ou que mesmo exista a verdade como parâmetro absoluto, como seria se entrássemos em um ambiente de medidas e condições temporais e de conforto totalmente iguais ou semelhantes, mas ficássemos a discutir e querer incutir ao outro que seu lado é melhor, buscando apenas humilhar ao outro, com termos pejorativos, sendo que o fim é igual para todos, pelo menos no que tange ao sopro de vida, já que há mil modos de se morrer, como também de se viver.

De que vale a pena um fóton solar ficar a discutir com outro também fóton do mesmo Sol, se seu destino e obrigação é espalhar a energia pelo cosmo, sem ter preocupação sobre qual direção tomar, mas apenas cumprir com as leis universais que emanaram do Criador, sem terem que se preocupar com a sua atividade finalística, mas apenas gozar do prazer da viagem galáctica ou intergaláctica pelos confins do Universo, senão também por suas dimensões existenciais, formando ou transformando paulatinamente tudo que já lhes fora designado.

Mas, em pleno século XXI, de um calendário meramente humano, que criamos para dar base a nosso modo de pensar o tempo e a vida, ainda encontramos resquícios de pessoas que, mesmo no convívio entre grupos heterogêneos, se permite a ignorar que a liberdade e a fraternidade é algo a ser sempre enaltecido. Ainda achamos pessoas nefastas que não aprenderam a entrar e nem mesmo a sair de um ambiente, de respeitar a diversidade física e cultural que permeia justamente a razão da sobrevivência da espécie humana na face da Terra, propagandeando impropérios, estimulando o ódio entre seus semelhantes, como se fossem deuses da guerra, sentindo prazer no escárnio, no sofrimento e na tormenta dos mais fracos, que padecem de humilhações provocadas por erros seculares ou milenares cometidos por muitos que vieram antes de nós, mas que para alguns é motivo de louvor e glória, quando se sentem regozijados em ver a dor que provoca, sádicos que são para com a realidade humana, que após tanto andar e conquistar todos os espaços sobre o solo da terra, seus mares, rios e até a camada atmosférica que nos protege como um manto quase que invisível, ainda tem instintos bestiais, como se fossemos tiranossauros a viver com o instinto dilacerador, ou o instinto destruidor dos cupins, embora esses o façam como razão pura e simples de sobrevivência, ao contrário dos humanos, que caçam e matam por esporte, digladiam apenas pelo prazer de vencer um oponente, sem nada que justifique tais embates, a não ser por resquícios de características rudimentarmente ancestrais, que remontam ao ser humano bem antes de ser mesmo o atual humano que habita este minúsculo espaço especial de vida no Universo, que em sua grandeza infinita nos impossibilita até realmente sabermos se somos peças únicas ou mais um tipo de peão no tabuleiro imperscrutável do xadrez de Deus.

Apenas tenho certeza de que teremos que discutir eternamente os nossos porquês, buscando luz para nossos devaneios, numa tentativa instigante de sabermos a razão do nosso existir, já que tanto meditamos e oramos que é para o bem, mas praticamos tanto o mal, seja para nós como indivíduos e nossa coletividade, como para tudo que nos cerca.

Talvez o erro esteja em fazermos o que nem sempre desejamos, falarmos o que nem sempre pensamos ou gostaríamos realmente de nos fazermos entender, nos imaginando sempre descontextualizados do todo que nos cerca, seja de pessoas ou condições físicas e temporais, levando a todos só incompreensão, angustia e revolta, quando almejamos muita das vezes é apenas o contrário, o simples, a liberdade das amarras sociais, o viver para contemplar e não para se submeter, louvando a vida e não a morte, mesmo que só ela nos reste como destino final.


Publicado no Facebook em 23/11/2018