A violência na nossa cultura política: O personagem ‘’Bolsomito’’ e o Estado Democrático de Direito no Brasil

Em um momento conturbado da história política do Brasil, no qual a população, por razões tão óbvias quanto legítimas, manifesta descrença nas instituições democráticas e seus representantes, abre-se caminho para discursos eivados de um autoritarismo os quais demonstram a fragilidade da democracia brasileira. A considerável aceitação popular do discurso radical do deputado federal Jair Bolsonaro, apresentado como pré-candidato à Presidência da República pelo PEN exemplifica bem isso.

Tratado por parte de seus apoiadores como‘’Bolsomito’’, o deputado, capitão da reserva do exército, construiu uma imagem de paladino da honestidade e por isso, em torno dele, construiu-se de fato um mito. Bolsonaro é uma figura mítica, pois apresenta uma saída quase que ‘’mágica’’, e por isso mesmo irreal, ao ambiente espúrio e antirrepublicano que se tornou a política. O deputado vende os "anos de chumbo" como "anos dourados" e, com isso, consegue que seu discurso tenha significativa ressonância social, em especial na parcela da população ‘’saudosa’’ dos militares, que vê nele uma forma de ‘’matar a saudade’’ dos generais-presidentes.

Ao taxar seus opositores de comunistas e/ou ladrões, Bolsonaro, ao declarar-se um não-corrupto por excelência, estabelece um binarismo no qual opor-se a ele é estar a favor de tudo aquilo que ele afirma combater. Logo, o deputado trabalha com o mesmo binarismo de setores da esquerda, que insistem na retórica de que quem está contra Lula, também está, necessariamente, contra o Brasil.

Bolsonaro tem um discurso fácil, de que na ditadura o cidadão de bem tinha paz e era o ‘’banditismo’’ que não tinha vez, e que o atual sistema só defende ‘’bandido’’. Em outras palavras, parece afirmar que o fim do Estado democrático de direito é a tábua de salvação do país. Essa ‘’solução’’, com milhões de apoiadores pelo Brasil, demonstra o caráter violento da nossa cultura política. Tal proposição também é tão antidemocrática quanto desumana, pois tenta desqualificar a honra de milhares de torturados e macular a memória de milhares de mortos, taxados como ‘’bandidos’’.

O discurso de Bolsonaro é semelhante ao de uma grande parcela dos brasileiros, que o ambiente lupanar hoje instaurado no país não existia no Brasil dos ‘’revolucionários de 64’’ e que a resistência aos militares advém de uma doutrinação produzida pela mídia, nas escolas e grupos políticos de esquerda. Isso é um ultraje à dignidade e à memória de torturados, mortos e ‘’desaparecidos’’.

As ‘’pérolas’’ esbravejadas por Bolsonaro não são apenas um discurso de revolta contra a corrupção, os erros da política econômica, a criminalidade, são também antidemocráticas e justificam a violência pela manutenção da ‘’moral e dos bons costumes’’. Em um país essencialmente preconceituoso, que tem a violência entranhada em sua cultura política, um discurso catalisador dessa truculência encontra um vasto eleitorado. E é aí que “mora o perigo”!

José Benevides
Enviado por José Benevides em 14/08/2017
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