Violência no Brasil mata mais que ataques terroristas

Número de mortes em 3 semanas no Brasil supera a de todos os ataques terroristas de 2017

Segundo o Atlas da Violência deste ano, homicídios no País em 21 dias de 2015 foram superiores aos ataques registrados em cinco meses deste ano no mundo

Publicado em 05/06/2017, às 14h15 Jornal do Comércio

By Lucas Moraes

Em 1º de janeiro de 2017, ao redor do mundo, 51 pessoas foram mortas em ataques terroristas na Turquia, no Afeganistão, no Burundi, no Paquistão, na Argélia e na Jordânia. No mesmo dia, no Brasil, somente no estado de Manaus, 56 detentos foram vitimados fatalmente em um massacre que viria a se tornar um dos maiores já ocorridos em uma penitenciária do País, ficando atrás apenas do Carandiru, com um saldo de 111 mortos, em 1992.

Esses números, que já são suficientes para dimensionar a guerra diária enfrentada no Brasil, tornam-se ainda mais impressionantes quando levantados os dados de um ano inteiro.

Segundo o Atlas da Violência deste ano, divulgado nesta segunda-feira (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, três semanas de 2015 no País foram suficientes para ultrapassar o número de mortes no mundo inteiro, entre janeiro e maio deste ano, por conta de ataques terroristas.

Segundo os dados baseados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, ao longo de 2015, 59.080 casos de homicídios foram registrados em todo o País, consolidando uma "naturalização do fenômeno" e revelando "um descompromisso por parte das autoridades nos níveis federal, estadual e municipal" responsáveis pela segurança pública, conforme afirma o Atlas.

Até maio de 2017, houve o registro de 3.314 vítimas fatais por ataques terroristas em mais de 40 países, de acordo com o Atlas da Violência e o site Terrorist Attacks. O mesmo levantamento também aponta que esse número de mortos foi menor do que o registrado no Brasil em somente 3 semanas do ano de 2015.

Nesse mesmo ano, desse total de mortes, 47,8% correspondem ao homicídio de jovens do sexo masculino, entre 15 e 29 anos. Se levado em conta apenas os homens entre 15 a 19 anos, esse indicador atinge a incrível marca dos 53,8%.

Por regiões do País, o rastro de sangue da violência também foi mapeado. Entre os anos de 2005 e 2015, recorte feito pelo próprio Ministério da Saúde, a região Sudeste, que concentrava até a década de 90 os estados com o maior número de homicídios, conseguiu uma redução; já os estados do Norte e Nordeste aumentaram consideravelmente esses índices.

Apesar da pesquisa mostrar que Pernambuco teve progressos entre 2007 e 2013, quando o Pacto pela Vida apresentou 36% de redução nas mortes, o Atlas aponta o péssimo desempenho de dois municípios da Região Metropolitana do Recife. O Cabo de Santo Agostinho está na décima posição entre os municípios com maior número de homicídios, com uma taxa de 73,3 mortes violentas por grupo de 100 mil habitantes.

Já Igarassu fica na 28ª posição, com um taxa de 53,4 homicídios. Todos os estados com crescimento superior a 100% nas taxas de homicídios, entre 2005 e 2015, pertenciam ao Norte e Nordeste. Só no Rio Grande do Norte a taxa variou 232,0%, ao mesmo passo que em São Paulo o número foi reduzido em 44,3%. Em números totais, a Bahia registrou em 2015 o maior número de assassinatos, com 6.012. O número é mais que o dobro do de 2005, que era de 2.881.

Em 2015, apenas 111 municípios (que corresponde a 2,0% do total de municípios, ou 19,2% da população brasileira) responderam por metade dos homicídios no Brasil, ao passo que 10% dos municípios (557)concentraram 76,5% do total de mortes no País.

As mulheres também são parte deste cenário desolador ao País. 4.621 foram assassinadas em 2015, o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres.

São Paulo obteve uma diminuição de 34,1% em 11 anos, ao passo que no outro extremo da tabela, se observou um incremento de 124,4% no mesmo indicador do Maranhão.

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