ONDE A VIDA VALE MENOS... (I)

A julgar pela impunidade, pela confusa aplicabilidade da Lei, pelo tempo em que o “criminoso” permanece preso ou pela lentidão com a qual os casos são resolvidos o Brasil seria o país onde a vida vale menos, mas, a verdade é que a história não é bem assim. Ora, antes de polemizar onde a vida vale menos, se faz necessário questionar e tentar elucidar acerca desse valor, ou seja, quanto vale uma vida? Pois bem, em termos bíblicos, uma vida vale mais que todo o ouro da terra, porém, dada a histórica banalização da vida, seu valor, ou em termos mais facundos, sua variação ou ainda sua falta de valor nos permitem a ir longe com essa indagação.

Curioso é que durante a Segunda Guerra Mundial, um rico empresário alemão acreditava que quem conseguisse salvar uma vida também salvaria o mundo inteiro e, por isso, usou sua fortuna para salvar centenas de judeus do holocausto. Nesse caso, uma vida valia a sua fortuna. Notícia lamentável, embora corriqueira, é que recentemente, em Anápolis, Goiás, um adolescente de treze anos ceifou, a facadas, a vida de um rapaz de trinta e dois anos, motivada por uma dívida de dez reais, supostamente contraída através da aquisição de drogas ilícitas. Fato concreto é que, enquanto para uns, uma vida vale muito mais do que habitualmente se dispõem a pagar, para outros, a vida do semelhante, ou a sua própria vida, possui pouquíssimo ou nenhum valor.

Talvez, certas indagações não consigam preencher respostas arrematadas antes do surgimento de muitas outras interrogações, postas a complexidade dos fatos e a intensidade filosófica da natureza dos agentes, mas, nem por isso, deixa de ficar aclaradas ao ponto de uma percepção de que neste mundo, para uns e outros, cada vez mais a vida vale menos, vale muito pouco ou não possua valor algum. Diante disso tudo seria mais óbvio perguntar: Quanto vale uma vida para você? Bom seria se a vida não tivesse preço, nem valor quantitativo, invés disso, tivesse valor igual, porém, em todos os lugares e momentos há vidas sendo etiquetadas com cifras oscilantes por amantes da dominação obsessiva e sedentos de riquezas imensuráveis.

Talvez, não se possa chegar a um denominador comum de onde a vida vale menos, ou quanto vale uma vida, mas a ganância pela capacidade de ter, pelo poder de ser, pela superioridade de um equiparado ao outro, pelo dinheiro e pelos prazeres sem se preocupar com a essência, colocados acima do valor da vida imprima a ideia do quão vale ou deixa de valer a vida.

Se a ideia do real valor ou da desvalorização de uma vida é simbolizada mediante a violência que faz parte da rotina da sociedade, afunila-se: é na sociedade que a vida vale menos?! Ou amplia-se: Quanto vale uma vida na sociedade? Qual vida? Qual sociedade?...

Dadas as questões, parece aflorar uma estrela empoeirada no céu do deserto, ou quiçá, uma miragem. Na dúvida, consideremos, pois, uma ponta do aicebergue convidativa para o garimpo na insistência de lapidar onde a vida vale menos.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 24/05/2017
Código do texto: T6008437
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