Feminismo, Boemia e autonomia

Ontem a noite estive com uma amiga em um bar que gosto bastante aqui em Carapicuiba e frequento semanalmente. Como de costume sentei com ela numa das mesas e conversamos durante horas sobre nossas vidas: casos, relacionamentos amorosos, perspectivas de vida, trabalhos, além de muitas risadas sobre as bobagens que fazemos sobre nós mesmas. Tudo isso assistido e ouvido por alguns seres humanos do sexo masculino, que chegavam a ficar olhando sobre nossos ombros para conferir nossos celulares e a conversa sobre nudes que nos faziam rir.

Obviamente bebemos algumas cervejas tranquilamente, mas tanto eu como ela tínhamos compromissos no dia seguinte, paramos na segunda e começamos a nos preparar para ir embora. Nesse meio tempo fomos interrompidas por um homem (que devia ter a idade do meu pai) da mesa ao lado que insistiu para nos pagar uma cerveja. É claro que recusei bebida de alguém com quem não tenho amizade e não me interessava, entretanto a conversa estava boa e acabamos bebendo mais algumas cervejas e continuamos o papo e não foi com a cerveja do cara na mesa ao lado.

Saí da mesa por alguns minutos e quando voltei percebi que o cara que tinha nos oferecido cerveja tinha puxado assunto com a minha amiga e se sentiu no direito de se intrometer em nossos assuntos, coisa muito comum no bar, mas que me incomodou por alguns fatores:

1. "Você não aceitou minha cerveja porque é feminista".

Não cara, eu não aceitei sua cerveja porque eu não sou obrigada, eu não quero manter nenhum tipo de contato contigo. Eu posso muito bem estar em um bar com uma amiga ou mesmo sozinha e isso não quer dizer que eu esteja procurando por companhia masculina e isso não tem propriamente a ver com Feminismo.

2. "Deixa eu pagar sua conta"

Acho que não preciso reafirmar que NENHUMA MULHER precisa de um machistazinho de merda pra ficar pagando contas. Gentileza é algo recíproco e que acontece entre todos os seres humanos. Agora se você acha que porque sou uma mulher no bar estou esperando que alguém pague uma conta por mim é com toda certeza que eu realmente não quero tua amizade.

3. "Deixa eu te pagar mais uma cerveja"

Se eu estou no bar acompanhada ou sozinha, um lugar público, não significa que eu esteja disponível de nenhuma forma para qualquer pessoa e se eu digo NÃO é porque não quero. Não interessa quantas cervejas tomei antes ou depois, quantas pessoas eu falei ou quantas bocas eu beijei, não INVADA MEU ESPAÇO, ele não te pertence e eu não compartilho dele com quem não quero.

Uma coisa que nós feministas valorizamos muito na nossa militância é essa liberdade para se dizer sim para várias situações, como madrugar num bar com uma amiga e isso não ter conexão alguma com a satisfação masculina, ou mesmo nos relacionar com quantas pessoas quisermos sem moralismos, mas o NÃO ainda é uma questão pouco respeitada.

Muito se fala sobre essa autonomia que nos fornece momentos e possibilidades variados, mas infelizmente ser uma FEMINISTA num bar ainda nos coloca em situações extremamente desagradáveis como essa que eu passei, porque embora eu saiba que tudo isso faz parte do meu empoderamento nada disso vai ter significado igual para um homem.

Não é porque eu bebi mais cervejas que eu devo aceitar a sua.

Não é porque eu transei com um amigo seu que eu vou transar contigo.

Não é porque eu mandei nudes para alguém que isso vai acontecer pra você.

Não é porque eu transei quando nos conhecemos que sou seu objeto de satisfação sexual.

Não é porque te dei demasiada atenção que você tem direito de achar que sempre estarei disponível.

RESPEITE O MEU NÃO!

E é por isso que homem TEM SIM que entender o que significa Feminismo.

E tenho dito...

Ruana Castro
Enviado por Ruana Castro em 01/02/2017
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