IGNORÂNCIA E INTELIGÊNCIA: Ponderações

Las mismas tecnologías que hoy articulan nuestro mundo y permiten acumular saber, nos están convirtiendo en individuos cada vez más ignorantes.

Todas as pessoas são resultado de um conjunto de elementos, situações e fatores que juntos formam o que podemos considerar uma individualidade, personalidade ou ainda a representação da nossa (de uma) singularidade. Sobre a representação de um indivíduo constrói-se a validação social (poder) que é outro conjunto de elementos que tem uma relação com o que temos (perspectiva capitalista), com o que sabemos (cultura), com o que podemos aprender (inteligência) e com o que não sabemos (ignorância). A relação ‘saber-poder’ realiza-se no cotidiano e é a base sobre a qual construímos nossa existência humana, nossa profissionalidade e nossa perspectiva do presente em direção ao futuro. Nesse processo, em permanente devir, conhecemos e desconhecemos. Somos inteligentes e ignorantes. Sabemos e não sabemos. O que sabemos adquirimos por meio das leituras, das experiências (viagens e intercâmbios mentais e culturais) e de percepções sobre realidades/fenômenos acessados. Nesse sentido, o que não lemos, não experimentamos e não percebemos, decerto, ignoramos. Ou, na melhor das justificativas, sabemos mal.

Para avançar com a ponderação sugerida acredito ser importante acessar o significado e conceito de ignorância e inteligência.

Ignorância (1;2). Consultando os léxicos temos para ignorância a condição de uma pessoa que não tem conhecimento sobre algo; desconhecimento da realidade do momento. Refere-se ainda a alguém que não tem cultura, estudo e sem noção das situações que o circundam. E, pode referir-se a comportamentos grosseiros, estupidez.

Ainda que nos situamos somente no significado que os dicionários apresentam sempre estamos em relação com a ignorância, pois ao mesmo tempo em que podemos saber e inteligir sobre muitas realidades não sabemos sobre outras tantas. Mas existem outras interpretações sobre a ignorância.

Popper (1982) (3) interpretando o ‘mundo das ideias’ de Platão sugere que o nascimento é a origem da ignorância humana uma vez que a alma que estava em estado de graça com a onisciência antes do nascimento perde essa graça com o nascimento. Por outro lado, o mundo da experiência humana em relação ao conhecimento situa-se apenas em sombras com o real. A metáfora da caverna mostra a impossibilidade de acesso ao conhecimento pleno ainda que o homem se liberte das sombras. A realidade, e as sombras, são as conjeturas que criamos para definir e significar o que percebemos e o que experimentamos. São os nomes com seus significados que atribuímos a tudo que acessamos na expressão da realidade, mas que não sabemos exatamente como é: o real.

Ainda em relação à ignorância identificam-se indivíduos que se negam ao aprimoramento do espírito, não desejam aprender. Parece que é universal que todos desejam a felicidade, porém, enquanto muitos se esforçam para alcançar mais conhecimento outros encontram motivação para permanecer e até enaltecer a ignorância. Isso parece paradoxal, pois na sociedade da informação (erroneamente chamada de ‘sociedade do conhecimento’) em toda parte é possível alcançar informações suficientes para sair do estado de ignorância. Entre os dois extremos, a busca do saber e da felicidade e a ‘paixão’ pela ignorância encontramos contradições nos comportamentos dos indivíduos de uma sociedade da informação. De um e de outro modo são produzidas diversos tipos de ignorâncias nas relações que se estabelecem entre os atores sociais (ver: LIMA) (4).

Inteligência. É a faculdade de conhecer, de compreender algo; compreensão e conhecimento; conjunto de todas as habilidades intelectuais como memória, imaginação e outras que permitem inteligir – pensar especificamente sobre algo, ou sobre determinados aspectos da realidade. (5; 6).

De um modo geral a inteligência está relacionada com a capacidade de resolver problemas. Essa capacidade todas as pessoas têm em maior ou menor grau, exceto as que apresentam comprometimento mental que impede o cérebro de realizar suas ações. Portanto, todos são inteligentes e têm inteligência. O uso que se faz dessa ‘habilidade’ pode variar de acordo com as motivações e esforços empreendidos.

Encontramos também o desenvolvimento do conceito de inteligência como o uso de todos os recursos mentais em direção à adequação da vida aos diversos e diferentes contextos. Quando avaliamos somente o uso adequado e inadequado dos recursos mentais frente às dificuldades contextuais podemos ‘medir’ as capacidades das pessoas frente à resolução de seus problemas. Encontramos facilmente quem concorda que algumas pessoas têm mais facilidade que outras e, mesmo sem o perceber, atribuímos essa diferença à inteligência de umas e ignorância de outras. Não deveríamos perder de vista que pessoas são diferentes no seu desenvolvimento, na inteligência e na ignorância. Atribuir ‘medidas’ é então rotular e estigmatizar os sujeitos por meio de suas características mais fundamentais que são suas diferenças. Precisa-se considerar que o desenvolvimento humano em direção à inteligência e superação da ignorância depende das diferenças de cada um durante o processo e também de muitos outros fatores entre eles o acesso aos recursos que permitem potencializar a inteligência e qualificar a ignorância.

Há poucos dias reproduziu-se uma pesquisa que tenta medir a ignorância em diferentes países. O Brasil situa-se como um dos países mais ignorantes para essa pesquisa (acesse aqui a PESQUISA (7). Os dados e as informações podem provocar diferentes interpretações e reflexões. Para mim, a pesquisa mostra o que já se sabe, o Brasil é um país em que as pessoas, uma boa parcela, vivem alheias à realidade, outras a compreendem mal e há as que não a compreendem. Isso se traduz em ignorância do tipo apontado na pesquisa. É consequência da pouca leitura ou de uma leitura precária e, portanto pouco produtiva. Entre os fatores que configuram essa situação de ignorância um deles é a educação escolar que apresenta déficits em relação à leitura e interpretação (da realidade) em todos os níveis.

Ignorar é não saber. Não só isso, ignorar também é saber mal, de forma precária, de forma fragmentada, de maneira inadequada. A ignorância ‘social’ significa não apreender a realidade como ela se apresenta, fortalecendo assim a reprodução das situações do cotidiano. A ignorância das massas populares é favorável a uma classe social dominante que fomenta processos midiáticos e culturais para produzir e massificar a ignorância. Pessoas que não leem de forma crítica, ou que não leem de forma alguma, facilmente se convertem em reprodutoras de clichês midiáticos ou repetidoras de enunciados comuns. É um tipo de ignorância muito presente e defendida por muitas pessoas e profissionais, inclusive da educação, como critério de inteligência.

A inteligência, que pode ser compreendida e analisada a partir de diferentes conceitos e significados (perspectivas), apresenta uma dimensão que se diferencia das demais que são possíveis de se atribuir à mesma, que é a ação de inteligir. Esta se distancia do pensar e aproxima-se da reflexão. Pensar é ação comum a todos. Pensamos o tempo todo no que fazer, como e por onde fazer. Inteligir é focar, analisar, reter atenção em uma situação específica. É compreender o que argumentamos além da explicação. É discutir com fundamentação própria, sem reproduzir o que todos sabem expressar, mas não sabem por que expressam.

Inteligência e ignorância andam lado a lado e estão em todas em todas as relações individuais e coletivas com as experiências e fenômenos cognitivos. Não somos capazes de saber tudo sobre todos os assuntos, o que nos identifica ao mesmo tempo como sabedores de conteúdos e ignorantes em relação a outros. Não há como isentar-se da ignorância. Porém, é possível e desejável que inteligimos sobre assuntos que estão presentes no dia a dia e sobre os quais é importante saber argumentar e apropriar-se de seus conteúdos. Essa ignorância deve ser superada. Em relação ao domínio de todos os conteúdos é recomendável que tenhamos humildade epistemológica em admitir diante dos confrontos informacionais que sempre ignoramos algo.

Consultas e sugestões:

1(https://www.dicio.com.br/ignorancia/);

2(goo.gl/kyxLhT);

3 (goo.gl/lsFgbl);

4 (goo.gl/nCHhjc);

5 (https://www.dicio.com.br/inteligencia/);

6 (https://www.priberam.pt/dlpo/inteligência);

7 (goo.gl/huW3R0)

8 (INTELIGIR (http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/intver.htm)

9 TEORIAS DA INTELIGÊNCIA

a) - (goo.gl/WmVHT0);

b) - (goo.gl/cOfXto);

c) - (goo.gl/bDOPft))

10 - IGNORANCIA

a) (goo.gl/yB28BT);

b) (goo.gl/8L5bWU)

11 - CONCEITOS DE INTELIGÊNCIA (goo.gl/Ug3U2x)