Personal do blefe

 Possivelmente, em algum momento da vida, já cruzamos e conhecemos alguém que aparentou ser simplesmente sensacional, agradável, envolvente, com um belo discurso de solidariedade irrestrita, além de ser extremamente carismático.

   Mas aí, o tempo vai passando, a convivência aumentando e, do nada,  surge um fato ou incide uma situação inesperada e aquela extraordinária pessoa mostra uma face até então oculta e nada positiva. Dizem que realmente se conhece alguém em duas situações: em momentos de raiva ou quando se está à mesa, com ela.  A mais pura verdade.

   Somente à medida que se convive em sociedade e ,em  especial,  com esse “fenômeno” de pessoa “maravilhosa”, observando-se as suas atitudes, constata-se que, efetivamente, não é bem assim, não é tão legal ou admirável como aparentava ser, não é “aquilo tudo não” que fazia questão de demonstrar em público.  E aquela extraordinária imagem adotada, de eficiência e de perfeição, vai caindo por terra, com o transcorrer do tempo e a dinâmica da vida.

  Em princípio,  por sermos humanos, falíveis, imperfeitos,às vezes, podemos não ter, realmente, a reação esperada ou correspondente à situação crítica vivida. Cada um é cada um e reage de uma forma diferente de outra pessoa.

  Acontece que há pessoas que passam a vida investindo na construção de um “personagem social”, altamente carismático, incrível,“bacana”, frequentemente requisitado e procurado pelas demais pessoas.

  Presenciei casos em que o telefone não parava de tocar. Parecia até ser uma parte do corpo daquelas criaturas! Sem falar que eram pessoas que não conseguiam ficar sozinhas com elas mesmas: estavam sempre buscando eventos coletivos, festas, “noitadas”, etc.  Aliás, davam a entender que a presença delas era desejada por todos, por conta de uma suposta admiração que despertavam nos outros.
 
   Na verdade, tais pessoas, dos casos que citei, se valiam de um aparato espetacular de visibilidade, em que “vendiam” uma imagem de forte magnetismo pessoal, entretanto, diga-se de passagem, aparato aquele sempre voltado para o próprio benefício, visando aos seus intentos interesseiros, de qualquer ordem.

  Tais exemplos servem para ilustrar a apresentação do nosso artista principal:

   Senhoras e senhores,“no ar” deste texto, o notável personal do blefe: trata-se de um “profissional” especializado em aparentar uma estonteante eficiência em tudo, como amigo, parceiro, praticante de esportes geralmente radicais e companheiro.  No trabalho, também agrada com seu suposto vasto conhecimento e ilusória segurança do que se propõe a fazer. É de um carisma que realmente impressiona, à primeira vista. Parece que todos o procuram ou o querem. Mas é tudo para “inglês ver”.

  Agora, caro(a) leitor(a), quando “elege”  e  “contrata” seu alvo,  sempre alguém de boa-fé ou de coração limpo, o especialista da tapeação e/ou da enganação o faz por vários fatores, todos materiais. Vai gostar de se “dar bem assim” noutro planeta!  Não é, necessariamente, um “estelionatário” nos moldes tradicionais, mas tem um  significativo  viés em tal sentido.

  Uma vez “escolhido” o alvo, como personal que é, passa a “treinar” o seu eleito, de forma cada vez mais articulada e dissimulada, manipulando sentimentos e situações, procurando cativar, se tornar imprescindível e não raras vezes, chega a ter um prazer, claro, doentio,  por fazer de “seu aluno” um refém emocional, praticamente dependente dele e de sua opinião, nos mais diversos assuntos.

  Cabe perguntar:  quem não gosta de poder contar com uma outra pessoa para o que der e vier, de bom ou não?  Só que o especialista da enganação, sabendo disso e atento  a momentos  normais de fragilidades alheias, demonstra  estar sempre acessível, solidário, à disposição, desde que possa, frise-se, ter alguma vantagem em relação à pessoa que envolveu ardilosamente. 

   Interessante é que ele nunca solicita ostensiva ou claramente um benefício para ele. Faz insinuações e até chega a se mostrar, simuladamente, “sem graça” ou “constrangido” quando quer algo para seu exclusivo bel-prazer. O discurso de amizade desinteressada, ressalte-se, além de ser o mais corriqueiro do personal em questão, é, sem sombra de dúvidas, de impressionar .

   Abro um parêntesis para esclarecer que considero a figura do personal em si, de qualquer área de atuação, quando sério e responsável no cumprimento de seu mister, um profissional merecedor do mais profundo respeito e consideração.  A denominação de personal do blefe é apenas para destacar o personagem em análise, que é um especialista na arte do engodo. Apenas isso.

   Feitas as pertinentes considerações, retorno às colocações anteriores.

  O bom da vida é que nada é eterno e a máscara de “ bom samaritano”, seja o personal do blefe homem ou mulher, mais cedo ou mais tarde, acaba por desabar, rola, desordenadamente,  por precipício abaixo, causando alívio para quem se liberta de tipos assim.  Equivale a retirar um peso absurdo das costas; na verdade, é um refrigério alijar pessoas desse naipe de uma convivência diária. É como deixar de ficar à mercê de um (a) oportunista emocional, que se vale de situações e de pessoas, sem nenhuma consideração ou sentimento nobre.

    No início, claro, é um pouco decepcionante e impactante descobrir que se foi maliciosamente “treinado”, ou seja, enganado, emocionalmente, por alguém com valores tão distorcidos e repugnantes, cujo único intuito era o de angariar e usufruir de benesses por conta das condições sociais, profissionais e/ou financeiras de quem acreditou em sua estima e atenção.

     O personal do blefe só se acopla quando vale a pena. Dar “ponto sem nó “não é a “praia dele”. Quando sente que “daquele mato não sai coelho”, vira “fumaça”. Chega a ser risível a sua velocidade e rapidez na desacoplagem.

     A vida é assim. Nem tudo são flores. No presente caso, o que importa é superar tais experiências, nada salutares, com dignidade e a certeza de que tudo e todos passam.  Até porque, há pessoas efetivamente maravilhosas no mundo. São as especialistas da gentileza, da bondade, do amor ao próximo, da solidariedade e por aí, vai.

    É preciso, apenas, fazer a distinção correta, de pessoas que passam a integrar o nosso círculo de amizade ou de convivência, por alguma circunstância da vida.  Entretanto, mesmo que você tenha sido “seduzido”  ou envolvido, por um descuido qualquer, inerente ao ser humano,  pelo  personal do blefe, não se preocupe com revides. Mais cedo ou mais tarde, a máscara despencará de sua “cara de pau”. Ninguém consegue ludibriar e representar por muito tempo e a vida toda. Colhe-se o que se plantou. E aí, revelada a índole de tal infeliz especialista, seu telefone vai parar de tocar, os convites para sucessivos eventos sociais ficarão à mingua e a sua figura, falsamente carismática e outrora tão requisitada, vai cair no esquecimento relativo a quem sempre se conduziu com base em intentos escusos.

   Finalizando, torço para que em nossas vidas, doravante e sempre, possam surgir pessoas com emoções e sentimentos saudáveis, de bom caráter, com atitudes honestas e que tenham responsabilidade emocional com o próximo.

       Fumo periit qui fumum vendidit”
    “Quem vende fumaça perece pela fumaça”

       É da vida
: quem usa enganar, acaba igualmente sendo enganado.

   Aos que, eventualmente, acreditam que este texto é um recado ou um desabafo, atualmente, não é isso. É apenas um singelo e despretensioso alerta no sentido de sempre existir tempo de mudar e de se conduzir com honradez, responsabilidade e honestidade de atitudes, quando se lida com os sentimentos e as emoções de outras pessoas. Não se deve “brincar” com os sentimentos alheios. O preço poderá ser alto. Melhor seria rever e modificar comportamentos nocivos socialmente.  
                    Ana Maria Martins Pompílio da Hora
 
 
 
 
Ana Pompílio da Hora
Enviado por Ana Pompílio da Hora em 11/01/2016
Reeditado em 22/02/2016
Código do texto: T5507702
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