A Idealização do Amor na Sociedade Banal.

PARA FREUD, a repressão sexual faz parte dos trincos no palco social que trilham no sentido de um mal estar social repleto de neuroses. Não é de se espantar que a nossa sociedade é sexualizada, mas tem um grave problema de ser erotizada. Somos uma sociedade em que precisamos de uma tarja preta para levantar o libido. Isso pode nos remeter a pensar em Nietzsche, onde diz que precisamos criar metafísicas para tornar a vida desejável.

A homossexualidade, na Grécia antiga, era algo voltado à Educação e aos costumes do ethos. Em nosso mundo moderno, a homossexualidade virou uma anomalia transcrita na efeminação. A prática de uma religião faz parte dessa repressão? Claro! Afinal de contas o próprio Nelson Rodrigues disse que deixou de ser Católico porque todo mundo, em algum momento, precisava trocar de cristo.

O homem precisa de viagra para poder participar da vida sexual, a mulher não. Não há razão para tomar pílula rosa quando a mulher sabe ter um orgasmo fake. Nós modernos construímos nossos arquétipos ao longo da vida achando que eles fazem parte de nosso mundo sensível, onde "Deus está morto". Normalmente, podemos ver a idealização que há em nossa sociedade sobre a Ideia da alma gêmea e ou do parceiro ideal.

Tudo começa pela grande procura pelo Outro que está sendo idealizado. Há a necessidade exponencial pela procura do Outro de que forma? A garota de seus 14 anos começa a idealizar o seu par perfeito: "Um homem loiro, com olhos azuis, rico e com muitos bens". Depois de adulta, essa menina começa a montar o Ser Ideal levando esse desejo psíquico por muito tempo - dificilmente alguém consegue projetar o seu ideal em uma pessoa feia, não é?

Quando projeta, vai à busca! Vai ao boteco, aos restaurantes passando o dia inteiro olhando para todo mundo, de preferência para alguém que tem as mesmas características que idealizou. Mas quando encontra a sua "cara metade", passando a namorá-lo, começa então o estranhamento do parceiro idealizado que, então, passa a se perguntar: "mas essa pessoa que me idealizou não corresponde às minhas expectativas". Daí, o relacionamento vai ao fundo do poço.

"Será que eu sou tudo que o outro sempre sonhou?" deveria ser a pergunta chave antes de qualquer plano de relacionamento afetivo. Eu diria que é quase uma loteria pior do que a Mega Sena. O mais problemático é que, a maioria das pessoas, além de idealizar muito, quer que o sujeito idealizado já venha de vale brinde: como se fosse alguém que já estivesse bem resolvido profissionalmente, principalmente financeiramente, porque o medo que o idealista tem de ser materialmente pobre é o pior de todos.

Há uma grande diferença entre amor e paixão. Amor é algo mais transcendente da consciência, enquanto que paixão vem do grego "phatos" que tem muito a ver com passagem, conflito, sofrimento, angustia, ciume. Em meios mais freudianos, tem muito a ver com patologia. Normalmente, não amamos alguém em especial. Apaixonamo-nos por alguém! E como a nossa realidade é estoica ou algo dentro de altos e baixos, esse paixão é momentânea.

Nos escritos de Platão, Sócrates conversa com Lísias sobre o amor e a paixão. Para Lísias, no discurso de Fedro, "entre o envolvimento apaixonado e o envolvimento sem amor, isto é, o envolvimento sem que se esteja eroticamente ligado, a segunda opção é a assumida como correta". Mas Sócrates diz que isso não é uma postura ligada ao amor, mas à paixão que é o amor movido pela intemperança. Chegando, assim, a loucura que é o de estar apaixonado.

Então aceitemos uma postura mais sensata. Passamos então a usar mais o bom senso e ver no outro o que gostaríamos que o outro visse em nós mesmos. Aceitando essa postura, podemos dar paços largos em linha reta para poder caminhar com a eudaimonia.

Archidy de Noronha
Enviado por Archidy de Noronha em 07/09/2015
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