Cracolândia, uma feira muito livre

Cracolândia. Uma vergonha pública. Uma dívida do Estado. Um suicídio coletivo. Um genocídio lento de voluntários. Esta aberração já existe em quase todos os rincões do nosso país, logo não é privilégio só das grandes urbes, está tudo dominado, globalizado, comprometido e quase liquidado, mesmo assim, só persiste apenas em algumas áreas mais vulneráveis das cidades de uma sociedade em conflito, ainda que possa envolver indivíduos dos diversos estamentos sociais, sem desconhecer que também coexiste no meio rural onde então só brotavam flores e saborosos frutos, e, dependendo da população local, as ações delituosas são mais ostensivas, enquanto outras são relativamente discretas, mas ela existe aos montes, como um fogo ascendente e estarrecedor, sob a égide do obediente silêncio imposto. Na verdade se trata de uma grande feira da droga, um grande desrespeito e um silêncio que brada da omissão das autoridades, pois ali se praticam um comércio e uso de droga a céu aberto, com alvará de funcionamento tácito dado o conhecimento universal de todos, inclusive dos diversos chefes da segurança pública e subordinados em cada localidade, sob a censura exclusiva da imprensa e de mais ninguém, apenas singram prantos quentes inaudíveis e expelidos pelos olhos rasos das mães dos narco-dependentes. No cotidiano há registro de dispositivos policiais transitando ao lado das cracolândias, com indiferença aos fatos criminosos reinantes. Se aquela feira fosse de moda fashion logo as prefeituras e o Ministério Público se alinhavam num iminente pacto para expulsar os comerciantes informais ambulantes do espaço público, a despeito do seu indiscutível alcance social de labor, renda e divisas. A Polícia de Choque requisitada logo entraria em cena e a repressão culminaria contra o comércio nômade de sobrevivência. Evidentemente que tudo seria praticado dentro dos parâmetros da legalidade, mas quando a área é a cracolândia, a lei passa ao largo. Será que aquela fumaça inebria mesmo? Aliás, ninguém desconhece esse grave fato delinquente e que muita gente convive compulsoriamente com esta violência e neste ambiente de delito coletivo no seu meio físico e social ou com essa pedra no seu caminho diário, enquanto descaminha a juventude em formação. Só não vê quem não quer enxergar ou quem se inebria. O frenesi dos consumidores e dos traficantes chama atenção da população, mas não colide o poder público, pois parece que as autoridades apostam num milagre de um duvidoso tratamento dos dependentes de alto custo ainda que já irremediáveis, inclusive, esta terapia há muito faz parte da agenda “positiva” de alguns políticos candidatos aos cargos eletivos dos poderes executivo e legislativo, como grande estratégia de ganhar o eleitorado brasileiro, com promessa milagreira e uma retórica superada, contraditoriamente, defendendo a liberação da maconha. Muitos esquecem que melhor do que remediar é prevenir, aliás, reprimir e reprimir ainda se evidencia como o maior remédio preventivo contra o comércio de droga, assim, inviabilizando o consumo também por supressão. Reprimir também ainda se mostra o menor caminho entre os dois pontos críticos, a venda e o consumo de droga, caso contrário não se chegará a conhecer e refrear uma atividade delituosa que se dispersa no submundo e que se multiplica geometricamente por todo o nosso território, ainda que saibamos de sua globalização predominante por todas as fronteiras mundiais, entre as quais o Brasil faz parte desta teia. Ninguém vai minimizar o consumo de droga só com a paliativa informação. Tem que haver ação. Tal como a droga se dispersa, com ela se amplia a violência humana saturando as penitenciárias, enquanto superlotam os hospitais de urgência com toda sorte de traumatismo relacionado com este mortífero vício, impedindo a hospitalização dos pacientes com enfermidades e vítimas das doenças propriamente ditas. Droga é sinônimo de ameaça e ameaça é agressão; agressão se combate e se combate enquanto se pode ganhar a guerra. Droga exige batalha com todos na linha de frente e com todos os meios disponíveis; basta de tanta estatística pra nada. Sabemos que esta tarefa não é nada fácil e nem só de uma pessoa, mas nem por isso podemos deixar a população vulnerável aos efeitos da cracolândia esperando que o Estado encontre uma adequada e morosa solução. Avante, pois o narcotráfico não dá trégua. Somos todos responsáveis, independentemente dos segmentos aos quais pertencemos. Bem que a chamada “Lei Seca” poderia ser idealizada contra o consumo de droga, muito pelo contrário, querem mesmo é liberar o uso da maconha. Sempre há uma saída. Ponham a mão na consciência.