NECESSIDADE DE ENTENDER

Devido aos diversos acontecimentos do dia a dia, nos melindramos frequentemente.

Alguém nos diz algo que nos magoa, faz um comentário que nos desaponta, tem uma atitude que nos decepciona ou nos olha de uma maneira que não gostamos. Tais situações nos deixam incomodados, mas não devemos permitir que esses pormenores tornem-se maiores do que são, de fato. Se observarmos, vamos entender que é a nossa maneira de reagir diante de tais situações que faz com que elas tomem proporções maiores do que têm.

Supondo que alguém falou ou nos fez algo que não aprovamos. Será que a intenção foi de ferir? Ele pode ter falado sem querer magoar. Pode ter agido por um impulso nervoso e, assim, acabou por ferir nossos sentimentos. Talvez ele tenha agido de determinada forma porque estava também molestado.

No livro Jesus no Lar, de Neio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, editado pela Federação Espírita Brasileira, há uma mensagem que nos faz refletir sobre tais circunstâncias.

A mensagem é a de número 35 e nos fala que “em uma reunião entre Jesus e seus condiscípulos, um dos companheiros aparentava em seu semblante profundo desânimo e abatimento. Jesus, então, lhe pergunta o que aconteceu e ele conta que fora maltratado por pessoas das quais ele cobrou algo que lhes deviam.

Após ouvi-lo, pacientemente, o prudente Rabi narra que um grande estudioso dos textos de Job, (ou Jó) que era devotado às causas da compreensão e da bondade, organizou uma escola em que ensinava com grande maestria.

Recebendo em seu instituto um aprendiz irrequieto e apressado, que vivia se queixando dos maus tratos que lhe foram dispensados, saiu juntamente com ele pelas ruas de Jerusalém, pedindo esmolas para determinados serviços no templo. A maioria dos abordados dava ou negava com indiferença, mas um deles respondeu-lhes grosseiramente ao ser interpelado. O mestre segurou o aprendiz pela mão e o seguiram até certa distância. Não demorou muito e aquele homem que os ofendeu caiu repentinamente, gemendo de dor, tendo que ser socorrido por aqueles que ali passavam. Perceberam, então, que aquele homem sofria de cólicas terríveis.

Continuaram a pedir auxílio quando se depararam com um cavalheiro que não lhes deram a menor importância. Acompanharam aquele homem até sua residência, e ao chegarem lá e encontrarem um grupo de pessoas chorando, procuraram saber o que estava acontecendo e porque aquele homem que ali chegou chorava tanto. Informaram-lhes que sua filha havia falecido há algumas horas.

Os dois saíram daquele local e continuaram a pedir adjutório para a manutenção da escola e, desta vez, um rapaz dirige-lhes fortes palavrões. Eles se afastam um pouco e daí a algum tempo percebem que aquele jovem tinha distúrbios mentais.

Foram em busca de outras pessoas que pudessem lhes acolitar, e o homem a quem eles se dirigiram, ameaça-os violentamente. Foram notificados em seguida de que era um negociante falido, que havia perdido tudo e se tornado escravo da noite pro dia.

O instrutor se aproxima do jovem e lhe fala:

__Entendeu a lição? Procure compreender as reações do outro, não se queixando do comportamento alheio. O primeiro homem que abordamos era um enfermo sofredor. O segundo guardava a morte em casa, o terceiro era desequilibrado mental e o quarto havia perdido toda sua fortuna. Aquele que nos maltrata, age desta forma porque está passando por momentos difíceis e está trilhando uma estrada mais escura e espinhosa que a nossa. Quando encontrarmos pessoas assim, tenhamos compaixão e auxiliemo-las na recuperação” ...

Não faça de sua dor a dor dos outros.

Suportar nossas aflições, procurando uma forma de superá-las, sem alarmar os companheiros, afligindo-os, é passo seguro rumo ao triunfo pessoal.

Não ignore as lições externas e sua capacidade interna.

Tome iniciativas e aumente suas potencialidades.

Brio ferido é oportunidade de reflexão e indulto, e reflexão e indulto é vida que se renova.

Convide a si mesmo a auxiliar-se e elabore mecanismos de refazimento. Não espere que venha do outro, deixe que venha de você.

Entenda, todavia, que para crescer é preciso perceber que somos muito pequenos.

As intenções de alguém podem ter sido de não nos ferir, mas de nos alertar.

Conversar com alguém sobre nossas angústias, dividindo nossas preocupações e incertezas não é errado. Vamos apenas tentar não fazer o outro sofrer junto.

Se aquelas pessoas tivessem conversado com os dois pedintes em vez de descarregar neles suas frustrações, teriam encontrado um lenitivo para seus tormentos, mas aquela foi a forma que eles intentaram de desabafar e dizerem, disfarçadamente: “Eu estou sofrendo”.

As atitudes daquelas pessoas eram, na verdade, um pedido de socorro que mestre e discípulo entenderam mais tarde. Mas pelo fato dos pedintes não terem revidado e terem compreendido as agressões, a ajuda já foi concedida. O silêncio, em certas é ocasiões, é a melhor resposta e a melhor acolhida.

Neio Lúcio termina a história dizendo que Jesus encerra a lição daquela noite falando aos companheiros assustados que “O touro retém os chifres por não haver ainda atingido o dom das asas. Reclamamos, diariamente, contra a ovelha que nos perturba o repouso, balindo atormentada; todavia, raramente nos lembramos de que o pobre animal vai seguindo, sob laço pesado, a caminho do matadouro”.

Empenhemo-nos para não sermos a ovelha e nem o touro, e entendamos e aceitemos os touros e as ovelhas que surgirem em nossa marcha.

A mensagem de “Jesus no Lar” tem o título de A Necessidade do Entendimento. Temos a necessidade de entender a dor e o sofrimento de nosso próximo e o dever de não atormentá-lo com nosso desespero porque, talvez, imaginamos que os sofredores somos nós, quando, na realidade, aquele a quem levamos nossas frustrações talvez esteja passando por tormentos maiores. Às vezes, Achamos que somos a ovelha ou o touro quando deveríamos ser aqueles que prestam auxílio e compreensão, em vez de exigirmos essas virtudes do outro.

Quando alguém descarregar sobre nós a sua ira, lembremo-nos imediatamente dessas situações e tragamos em nós este lembrete: Ele está ferido, talvez do corpo, das lembranças ou da alma; talvez de múltiplas formas...

Temos todo o direito de conversarmos sobre nossas tribulações com um amigo, uma pessoa de nossa confiança, mas com a certeza de que é o Pai que nos assistirá com o medicamento adequado. Entretanto, se faz mister entendermos que, às vezes, o que imaginamos ser a doença é, na realidade, a cura. Para alguns males tais quais a fuga, a rebeldia e a crueldade não existem remédio. A dor é o próprio medicamento, porém é preciso ingeri-lo e digeri-lo. Esse fármaco, às vezes, é amargo e tem sabor desagradável, no entanto, é dele que precisamos para expelir nossa carcoma, aliviar nossa angústia e cicatrizar nossas chagas para que possamos soerguer e prosseguir.

E quanto às nossas dores, vamos entregá-las a DEUS, na certeza de que Ele nos dará forças para suportá-las e proverá o reparo devido. Aceitação. A aceitação de Deus como Nosso Pai e Senhor supremo do amor deixa-nos passíveis à recepção do elixir da cura proveniente da Farmacopeia Divina a emanar do Criador para todas as criaturas.