A História no Presente e uma Análise da Historiografia Tradicional.

HISTÓRIA

“A verdade só é verdade enquanto não aparece uma outra verdade para contestá-la” (Teodoro, Miguel A.)

A história vem passando por inúmeras transformações e vem mudando o eixo de discussão, o objeto, o enfoque, as relações, as abordagens, e ao mesmo tempo em que se constrói a sua expansão, constrói também a sua fragmentação e conseqüentemente, a sua perda de identidade. Surge então a necessidade crescente de orientação, e para tanto torna-se imperativo confrontar os problemas e situá-los no contexto de mudanças de longo prazo na escrita da história.

Nesse sentido, no século XX, nos deparamos com uma nova história ou nova forma de se escrever história, ou seja, escrita como uma reação deliberada contra o paradigma tradicional. Este contraste pode ser resumido em seis pontos:

• A nova história começou a se interessar por toda a atividade humana (tudo tem história), ou seja, tudo tem um passado que pode em princípio ser reconstituído e relacionado ao restante do passado. O que era previamente considerado imutável é agora encarado como uma construção cultural, sujeita a variações, tanto no tempo quanto no espaço. Sua base filosófica é a ideia de que a realidade é social ou culturalmente constituída.

• Enquanto os historiadores tradicionais pensam na história como narrativa dos acontecimentos, a nova história está mais preocupada com a análise das estruturas. Segundo Braudel, o que importa são as mudanças econômicas e sociais de longo prazo e as mudanças geo-históricas de muito longo prazo. Embora tenha surgido, recentemente, alguma reação contra este ponto de vista, e os acontecimentos não sejam mais tão facilmente rejeitados como costumavam ser, a história de estruturas de vários tipos continuam a ser considerada muito seriamente.

• A história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que tem sempre se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens. Ao resto da história foi destinado um papel secundário ao drama da história. Os novos historiadores estão preocupados com a história vista de baixo; com a opinião das pessoas comuns e com sua experiência da mudança social. Tem deslocado sua atenção dos grandes livros ou das grandes idéias, para a história das mentalidades coletivas ou para a história dos discursos ou linguagens.

• A história tradicional deveria ser baseada em documentos. O preço desta prática foi a negligência de outros tipos de evidência, sem contar que os registros oficiais em geral expressam o ponto de vista oficial. Além disso, em determinados casos, tais registros necessitam ser suplementados por outros tipos de fonte.

• A história tradicional prima pela objetividade e deve ficar a cargo dos profissionais para apresentar os fatos tais como eles aconteceram. Atualmente, este ideal é considerado irrealista. Por mais que evitemos os preconceitos (credo, classe ou sexo), não podemos então olhar o passado de um ponto de vista particular. O relativismo cultural se aplica tanto à própria escrita da história, quanto a seus objetos.

• Só percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra. Nossa percepção de conflitos é mais realçada por apresentação de pontos opostos de que pela tentativa de articular um consenso. Nos deslocamos da história do passado para um conjunto de histórias variadas. A preocupação com a atividade humana, os encoraja a serem interdisciplinares para colaborarem com outros cientistas.

• O modelo de explicação histórica do passado vem sendo criticada por historiadores mais recentes, pois ele falha na avaliação de questionamentos dos historiadores preocupados tanto com os movimentos coletivos quanto com suas ações individuais; tanto com as tendências, quanto com os acontecimentos.

As transformações da prática dos historiadores, durante o último meio-século, tornaram-se possíveis por uma mudança das pesquisas e por um deslocamento concomitante do olhar pousado nas fontes.

Dessa forma, podemos perguntar: O que é a História? E, respondemos: é a ciência que estuda a vida humana através do tempo. Estuda o que homens fizeram, pensaram ou sentiram enquanto seres sociais. Nesse sentido, de acordo com Fernand Braudel, citado por Burke, o conhecimento histórico alarga a compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo. E a reflexão histórica, estudando o que os homens foram e fizeram, nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. Assim, a História é a ciência do passado e do presente, um e outro inseparáveis.

Mas o estudo do passado e a compreensão do presente não se relacionam entre si de forma estreita e determinista. O passado não se repete em termos absolutos e, por isso, as soluções de ontem não servem para os problemas de hoje. Sem um processo de recriação, exigido pela mudança das condições sociais, as experiências recolhidas no passado não se aplicam ao presente.

Por isso, no estudo da História não basta repetir conhecimentos acumulados, o que levaria em muitos casos a eternizar estruturas arcaicas ou de dominação, nas quais uma classe oprime a outra. Em vez disso, a História deve servir como instrumento de conscientização dos homens para

a tarefa de construir uma sociedade mais digna, justa, livre e feliz. Neste sentido, François

Bédarida nos chama a atenção ao citar Michel de Certeau, quando afirma que toda pesquisa histórica inscreve-se em algum lugar do passado.

Contudo, acreditou-se que o historiador pudesse ser um tipo de cientista absolutamente imparcial, capaz de recuperar integralmente os fatos do passado. Em seu trabalho, deveria analisar documentos históricos com total isenção de espírito e, depois, escrever um relato preciso e fiel dos acontecimentos, sempre baseado em provas amplamente dignas de credibilidade. Não lhe caberia o direito de escolher ou selecionar fatos do passado, mas examinar todos, com rigor, frieza e isenção. Assim, esse imaginado historiador construiria uma História objetiva, válida para todo o sempre, livre das paixões e pressões de seu tempo. Daí, podemos entender a expressão de Bédarida, quando afirma: “Temos aí, portanto, o modesto pesquisador proclamado expert, com ou sem o seu consentimento”. Como ressalva Georges Duby: “o bom historiador deve estar atento a tudo, a começar pela atenção ao mundo que o cerca, mas para ele o caminho é estreito quando precisa defender um lugar e definir a sua missão relativamente aos mitos, aos preconceitos e às deformações da consciência coletiva e da memória comum”.

Em relação ao tradicionalismo histórico, podemos dizer que hoje em dia, esse ideal é, em geral, considerado irrealista. Permita-me citar Burke: “... Por mais que lutemos arduamente para evitar os preconceitos associados a cor, credo, classe ou sexo, não podemos evitar olhar o passado de um ponto de vista particular. (...) Nossas mentes não refletem diretamente a realidade. Só percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra”. (BURKE, Peter (org). A Escrita da História:)

Como exemplo prático, vejamos a comparação abaixo, em relação aos séculos XII e XIII, em que nesse período ocorre o processo de formação das Monarquias Nacionais segundo Norbert Elias em sua obra o Processo civilizador: Formação do Estado e Civilização.

Para Elias, os séculos XII e XII é um todo e múltiplo que atinge os nossos dias na rica variedade de suas manifestações e na luta pela liberdade. Nesse sentido, ele busca em sua obra fazer com que sejamos imbuídos de um sentimento crítico e dessa forma, possamos fazer análises entre o passado e o presente.

Em relação ao mesmo período, Vicentino, Cotrin, Itaussu e Amad Costa apesar de suas obras serem bem claras e objetivas, colocam o fato dentro de seu próprio tempo sem mencionar sua relação profunda com a atualidade e, ainda, não o contextualiza. Ao falar dos grandes acontecimentos, como o aparecimento da burguesia, a Formação das Monarquias Nacionais, etc., retratam somente o fato de forma separada e não como num todo, conforme faz Elias ao tratar do período no qual aquele fato está inserido. Neste sentido, Elias não deixa transparecer o seu lado crítico em relação à História, passando todo o conteúdo numa visão totalmente objetiva e fornecedora de conhecimentos.

Em alguns momentos, como as fases do período em questão, o tempo e o espaço dos acontecimentos não coincidem entre Elias e os demais autores. Exemplo disso, é quando tratam de assuntos como a ascensão da Burguesia. Os autores secundaristas não definiram o tempo e o espaço em que se localiza essa classe emergente dentro do período e, sobretudo, na história. Para eles, os membros dessa classe surgem como num passe de mágica: começam a negociar e pronto. Para Elias, eles falam a mesma língua, lêem livros, Têm o mesmo gosto, as mesmas maneiras, viajam, trocam informações, etc. Talvez pelo fato de que os séculos XII e XIII sejam apenas uma das partes de um todo na obra dos autores secundaristas, manifesta-se de maneira resumida dentro dos fatos e do determinismo histórico e dão grande ênfase a nome de reis e intelectuais do período.

Nesse ponto, Elias e os demais são bem opostos, pois Elias não está preocupado em falar detalhadamente da vida de cada um, contudo, apresenta os antecedentes dos fatos, suas causas e conseqüências, como também a descrição pormenorizada do período e, até mesmo, a situação social bastante minudenciada dentro de um todo do período. Podemos afirmar que Elias, ao contrários dos autores mencionados, tem uma relação íntima com a História

Em relação à formação das Monarquias Nacionais, Elias chega até a mencionar a tecnologia utilizada na guerras e a atuação desta em detrimento da nobreza, ao mencionar que a infantaria, composta de soldados desprezados, tornou-se mais importante em batalha do que a cavalaria. Um fato omitido pelos demais autores. Todavia, não queremos dizer que eles não merecem respeito, ao contrário, pois ao mencionarmos seus nomes, indiretamente os colocamos entre os grandes historiadores e suas obras, quer queiramos ou não, se destacam como de grande utilidade para as escolas de Ensino Fundamental e Médio, mas a análise crítica deve estar além dos nossos olhos para que saibamos a maneira mais conveniente em aprimorar os nossos conhecimentos.

Por sua vez, acreditamos que a produção historiográfica deva ser repensada e, dessa reflexão, possa surgir uma nova historiografia e, a partir desta, seja partejada uma nova História e um novo método de se ensiná-la.

A descoberta de novos continentes, a visão antropocêntrica do mundo, a invenção da bússola e da imprensa, a afirmação dos estados nacionais e a difusão de variadas formas artísticas inspiradas no mundo Greco-Latino definiram a configuração do Renascimento, um brilhante período da cultura européia que se seguiu à Idade Média. Como Renascimento designa-se o poderoso movimento artístico e literário que surgiu na Itália dos séculos XIV a XVI, irradiando-se depois para a Europa, promovendo em toda parte um pronunciado florescimento da arquitetura, escultura, pintura e das artes decorativas, da literatura e da música e um novo enfoque da política. Embora hoje também se fale, metaforicamente, em renascenças na história da civilização Egípcia antiga ou da Chinesa, trata-se na verdade de um fenômeno específico da civilização européia moderna que, malgrado o intervalo da Idade Média, nunca esqueceu suas bases na civilização Greco-Romana da antiguidade, da civilização "Clássica".

Nas próximas páginas encontraremos as principais idéias expostas sobre o assunto nas obras de dois grandes historiadores: O Renascimento de Nicolau Sevcenko e História Geral de Cláudio Vicentino. Logo, uma análise de confronto do que foi exposto dentro das suas concordâncias e divergências.

O RENASCIMENTO

O período caracterizado como Baixa Idade Média, entre os séculos XI – XIV foi marcado inicialmente pelas cruzadas e logo, pela fixação de feitorias comerciais permanentes, especiarias e um novo estilo de vida para Europa. Tratava-se de um processo de ressurgimento do comércio, das cidades e dos contatos constantes com o Oriente. Esses fatores, somados ao crescimento demográfico, ao desenvolvimento da tecnologia agrícola, ao aumento da produção nos campos europeus e a outros fatores internos, levaram a dissolver o sistema feudal que prevalecera até então.

Paralelamente a essas mudanças, a nova camada dos mercadores enriquecidos e a burguesia que procurava de todas as formas conquistar um poder político e um prestígio social correspondentes a sua opulência material.

Foram beneficiados com essas mudanças as regiões da Itália e da Fladres que polarizaram o comércio europeu. A Itália através do Mar Mediterrâneo ao sul e o flamengo através do tráfico do Mar Báltico e Mar do Norte. A Inglaterra e a França participavam das trocas como grandes fornecedoras de matéria-prima.

A Peste Negra, a Guerra dos 100 Anos e as revoltas populares fizeram com que por volta do século XIV, esse processo de crescimento entrasse em colapso. Essa crise tem sido denominada também de Crise do Feudalismo devido a sua grande repercussão.

Para não diminuir os rendimentos dos senhores feudais, a carga de trabalho e os impostos aos camponeses remanescentes foram aumentados causando aos trabalhadores, grandes revoltas. Como solução foi adotado o trabalho assalariado, o arrendamento.

A escassez de mão-de-obra contribuiu para um endividamento crescente da nobreza feudal junto aos capitalista burgueses. O comércio e a atividade manufatureira saíram da crise do século XIV fortalecidos. Devido a esses fatos, muitos historiadores costumam tratar o século XV como um período de Revolução Comercial.

A monarquia foi outro agente que saiu fortalecido da crise do século XIV. Com a grande expansão do comércio, a Monarquia Nacional definiu o mercado nacional e regularizou a economia internacional. Como solução de determinados problemas, busca apoio em grandes casas comerciais oferecendo alguns privilégios e proporcionando, assim, a seus detentores se tornarem verdadeiros patronos dos Estados aos quais se associavam. Por um lado o Estado passa ter uma imagem de uma vasta empresa dominada por algumas casas financeiras; por outro, era verdadeiro, ao menos para os produtores organizados segundo o modelo das corporações nacionais.

Ao serem desfeitos os antigos laços sociais de dependência social e das regras corporativas, o indivíduo é empurrado para luta da concorrência diante das condições postas pelo Estado e pelo capitalismo.

Para os pensadores renascentistas, os humanistas, a educação seria o fator decisivo. Devido ao fator econômico, a capacidade criativa da personalidade humana era colocada em evidência. Muitas idéias e invenções, como a luneta astronômica por Galilleu, apareceram com o momento e, alguns nomes surgiram. As pesquisas científicas e a matemática vão tomando forma, fazendo com que o desenvolvimento do saber e do comércio se reforcem mutuamente.

Com tantas mudanças, as várias classes passaram por novas adaptações no meio. Aqui, surge uma incógnita sobre o pensamento dos humanistas sobre todo o fato. Esse conjunto de indivíduos em busca de modificações e renovações no padrão de estudos medievais, passam, por definição, a homens empenhados numa reforma educacional, baseada nos estudos humanísticos. Esses novos estudos (studia humanitates – estudos humanos) serviram para reformar o predomínio cultural e inquestionável da Igreja e proporcionar uma nova visão do mundo.

Por determinadas idéias e atitudes os humanistas não eram vistos com bons olhos pela Igreja. Acontece que eles não eram ateus ou pagãos, apenas desejavam reinterpretar a mensagem do Evangelho à luz da experiência e dos valores de Antiguidade. Com a preocupação fundamental, desses pensadores, na especulação em torno do homem, define-se a atitude conhecida como antropocentrismo.

Uma das características mais notáveis do movimento humanista foi a atividade crítica voltada para a percepção da mudança, para a transformação dos costumes, das línguas e das civilizações.

Os teólogos voltavam-se para um mundo transcendente e os humanistas para o mundo concreto dos seres humano. O grupo que, inicialmente, era voltado para a renovação universitária passa, agora, a aplicar a todos aqueles que se dedicam à crítica da cultura tradicional e à elaboração de um novo código de valores e de comportamento. Com isso, o respeito à individualidade e à originalidade de pensamento nunca foi uma conquista assegurada, sofrendo perseguições e riscos iminentes. Muitos deles chegavam a obter experiências terríveis; outros, encontraram a morte. Dante, Maquiavel, Campanella, Galilleu, Thomas Morus, Giordano Bruno, Etiene Dolet, Camões e Michelangelo são alguns desses exemplos.

Mesmo num clima de insegurança, esses acontecimentos trágicos serviram para estabelecer laços de solidariedade internacional, através de toda Europa, entre os humansitas. Apesar disso, devido a individualidade de cada um na sua forma de pensar, originou diversas tendências dentro do movimento que se distinguiam entre si. Era uma postura comum alguns pensadores explorarem mais de uma dessas tendências.

O grande palco de experiência renascentista foi a cidade italiana de Florença, onde se definiu o platonismo introduzido por Nicolau de Cusa e que ganhou efeito graças a atuação da Academia de Florença. Os rivais mais próximos dos florentinos eram os intelectuais da Escola de Pádua, ligados à tradição aristotélica.

No campo da fé, os humanista lutaram por uma religião renovada onde, o cristianismo deveria centrar-se na leitura do Evangelho. Um outro tipo de preocupação entre os humanista dizia respeito às leis tendo uma maior nitidez sobretudo nas cidades italianas. Mais tarde, seriam os florentinos que fariam avanços nessas posições.

A reflexão histórica e social e a ciência política nasceram juntas no Renascimento. Os caminhos do pensamento renascentistas são múltiplos e, grande parte das trilhas abertas aí, nós a percorremos até hoje. Tanto no humanismo ou em todo movimento renascentista, a diversidade é o que conta.

No campo das artes o Renascimento deu um grande destaque às artes visuais que se refletiram no processo de evolução das relações sociais e mercantis e eram financiadas pelos mecenas, ou seja, protetores das artes. Mais tarde, a produção artística passa a ser um dos focos principais entre confrontos. A arte renascentista é uma arte de pesquisa invenções, inovações e aperfeiçoamentos técnicos e de vivo contraste com a arte medieval que era do estilo romântico e prevaleceu por toda a Alta Idade Média dando lugar ao gótico na última fase do período.

Devido a certos favorecimentos, a região do Norte da Itália pode ser considerada como o berço da arte renascentista. Um variado cruzamento de influências ocorreu para esse fim. A palavra de ordem era “viver mais pelo sentido do que pelo espírito”. Com base nesse jogo de fatores, na primeira metade do século XIV, passaram a receber um toque mais humanizado. O sucesso alcançado foi imediato dando início ao dolce stil nuovo ( doce estilo novo). Essa nova concepção torna-se eixo da nova pintura, praticamente, até fins do século XIX.

Uma arte que impressionava muito mais os sentidos que a imaginação, e a perspectiva que significa que significa “ver através”, segundo o comentário do pintor Albrecht Dürer e que se destacou dentro da arte renascentista. Essas perspectivas receberam algumas denominações como intuitiva, exata, central e linear. Através das perspectivas grandes estudos foram elaborados e novas técnicas foram expostas como, por exemplo, a do “olho fixo”.

O desenvolvimento artístico acompanhava paralelamente o desenvolvimento científico. Não havia mais como separar a arte e a ciência, pois ambos representava um só ideal. O artista torna-se um criador individualizado e se esforçam para conseguir melhor posição social.

A Divina Comédia de Dante Alighieri (1265 – 1321), baseada rigorosamente nas diretrizes da filosofia escolástica, é o marco mais significativo da criação da literatura moderna sendo um tanto quanto ambíguo. Destacaram-se ainda outros brilhantes artista continuadores dos esforços de Dante.

Por dedicarem-se a fundo ao estudo do latim clássico e realizarem e o humanismo italiano do século XIV ocupou um papel de destaque singular no contextos do amplo processo de renovação cultural que agitava o continente.

Por determinadas razões, o movimento renascentista europeu segue num ritmo próprio em cada nação. As pesquisas linguísticas e filológicas dos humanistas permitiram a constituição dos vários idiomas nacionais, próprios de cada país europeu.

Os humanistas apesar de preocupados em recuperar o latim clássico, criaram fundamentos para definir os idiomas vulgares modernos porque desprezavam o latim degradado, usado pela Igreja e pelas administrações regionais em fins da Idade Média. Logo o latim medieval vai à ruína e à extinção.

Os intelectuais e letrados do Renascimento procuravam através de suas obras influenciar a vida cotidiana das cidades e dos Estados para suas idéias de mudanças. Assim, Antonio de Nebriza (1444 – 1532) um humanista espanhol, escrevia o primeiro dicionário latino-castelhano e uma gramática castelhana que forneciam bases para formação do idioma espanhol moderno.

A variedade da produção literária renascentista é muito grande. A constituição dos idiomas nacionais faz com que quando um dialeto é eleito como predominante as demais línguas e falas regionais sejam marginalizadas e iletradas e, às vezes, proibidas.

Na literatura, o gênero mais freqüente explorado é a poesia lírica. Outro gênero de grande sucesso é a poesia pastoral. As epopeias aparecem notáveis devido ao seu significado histórico. A epopeia clássica segue o padrão italiano.

O teatro nas suas duas vertentes antigas, a tragédia e a comédia, encontra uma enorme aceitação nesse período e vários teatro atingiram níveis notáveis. Quanto a evolução da cultura renascentista na Itália, os séculos XIII e XIV, marcam por uma convulsão em vários níveis, internos e externos às cidades, por detrás das quais a prosperidade comercial prossegue continuamente, aumentando o vigor dos conflitos. Esses conflitos levaria as cidades a nomear um chefe militar, o pedestà, encarregado de controlar tropas mercenárias para as lutas, e que obteriam esses serviços junto aos condottieri (mistos de empresários militares e chefes de tropas) Em algumas cidades, o próprio condottieri controlava o poder, em outras, são os podestà. Surgem muitas revoltas e as poucas famílias que dominavam economicamente as cidades se revezavam no cargo de doge, controlando o poder.

O Renascimento é dividido em três fases: o Trecento (século XIV), o Quatrocento (século XV) e o Cinquento (século XVI).

O primeiro desses períodos é chamado de pré-renascimento e representa a fase inicial de elaboração da cultura renascentista. Alguns críticos consideram esse período como o dos primitivos italianos. Percebe-se nele duas seqüências criativas distintas, embora tendentes a se entrecruzarem . Na pintura, a paisagem surge e segue até o início do século XX. Esse período pode ser visto como um período de aprendizagem da arte renascentista.

O Quatrocento é a época de grandes realizações do Renascimento. É também um período de fastígio econômico e político da cidade. No campo filosófico e literário é consagrada a vitória do humanismo, com a instalação da cadeira de língua grega na Universidade de Florença. A arquitetura tem seu primeiro momento de apogeu com Ghibert (também escultor) e primeiro dos grandes escultores renascentista Donatello, manifesta-se. Na pintura, Mosaccio teve grande importância entre outros que surgiram. A arte dessa geração revela entre muitos fatos, um tom extremamente refinado, cortesão e altivo. Novos métodos vão surgindo, entre eles: o cavalete, a tela, a técnica do óleo, o tondo e o desenvolvimento a moda profana das cenas domésticas e de família.

No Ciquecento as obras artísticas atingiram seu mais elevado grau de elaboração. Nesse período as terríveis crises econômicas e conflitos sociais agudos, surgem nas cidades italianas em virtude das navegações portuguesa e espanhola. Longos tempos depois, a sofisticação cultural, o luxo e a requinte são criados em torno do trono papal. Nesse período são iniciadas as obras para edificação da nova Basílica do Vaticano. A arte italiana nesse período atinge o auge com Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael. O século XVI ainda se consagra através da literatura desenvolvendo-se vários gêneros e fazendo com que a ciência política e a história cheguem ao auge. Esse período foi chamado de a Idade de Ouro do Renascimento.

Pode-se dizer que o Renascimento flamengo esteve ligado basicamente ao desenvolvimento das artes plásticas, onde a sociedade exprimiria a consciência do pertencer a uma nova era de muito trabalho, disciplina e de uma abundância material nem sempre bem distribuída. Suas maiores preocupações eram com as pesquisas dos materiais de pintura e o aprimoramento técnico e o esforço de representação o mais natural possível dos objetos.

Devido ao grande desenvolvimento do comércio e da manifatura na Flandres, uma das regiões mais ricas da Europa (séculos XIV e XV), a corte de Paris mudou-se para Bruges em 1419 e grandes pintores se consagraram com suas técnicas.

O movimento renascentista francês teve como base a corte de Paris. Era bem mais restrito que o italiano e o flamengo e alcançou um elevado grau de elaboração em várias áreas das artes e da cultura onde os artistas, humanista e literatos eram estimulados e se mantinham através dos mecenas. Com a fundação do colégio de França, Francisco I e Margarida de Navarra pretendiam estabelecer as condições definitivas para o pleno florescimento dos estudos humanistas.

O renascimento inglês só se tornou marcante com a ascensão dos Tudor, a partir de 1485, assinalando a etapa da formação do Estado Nacional Inglês. As idéias calvinistas tiveram peso decisivo para definição do movimento nesse país. As artes plásticas não tiveram desenvolvimento significativo, concentrou-se a produção cultural praticamente na música, na literatura e no teatro. Em compensação, produziu humanistas notáveis. A questão religiosa dividiu seus intelectuais em polêmicas teológicas causando grandes acontecimentos.

A penetração do Renascimento na Alemanha, fins do século XV e inícios do século XVI, logo recebeu impacto do movimento reformista. A nova cultura surge através das bases deixadas pela vida burguesa das cidade que passam por um processo de intenso enriquecimento. Sem estar presa a um núcleo cortesão, a cultura alemã tomaria a forma bastante diversificada de inúmeras escolas e tendências artísticas. Ligadas cada qual a sua cidade de origem. Apesar disso, suas influências mais marcantes foi o gótico e a arte flamenga. Nesse período, a manifestação mais marcante foi a rápida difusão dos estudos humanistas nos meios burgueses e universitários. No campo da arte, a forma mais peculiar era a gravura sobre metal ou madeira que foi bastante transformada e dinamizada com a invenção da imprensa

As principais circunstâncias que condicionaram a manifestação do movi mento renascentista na Espanha foram: lutas entre grupos militares cristãos e elemento islâmico na Península Ibérica, casamento entre Isabel de Castela e Fernando de Aragão em 1468 e a descoberta da América pelo navegante Cristóvão Colombo. Outros grandes fatos faz com que se compreenda por que a penetração da idéias renascentistas na Espanha só nos fins do século XV e inícios do século XVI. O movimento durou pouco no país sendo sufocado pela maré da intolerância contra-reformistas que teria na Espanha o principal foco irradiador. A penetração do estilo renascentista se daria paulatinamente a partir da incorporação de artistas flamengos ou italianos, ou do trabalho de jovens artesãos espanhóis enviados para estudar naqueles centros da nova cultura. O movimento teve seu início marcado pela fundação da Universidade de Alcalà de Henares. Tanto na literatura como na pintura o místico se fez presente. A arquitetura foi marcada pela presença do estilo mudéjar.

Em Portugal o estilo manuelino, de 1490 a 1520, teve como base o estilo mourisco que correspondia ao mudéjar castelhano, era perfeitamente compatível com a situação histórica vivida então por Portugal. A figura-chave do humanismo português foi Francisco Sá de Miranda (1495 – 1558) relembrando o desenvolvimento dos poetas, literatos e dramaturgos do Renascimento italiano. Mas o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores escritores de todos os tempos foi Luís Vaz de Camões (1524 – 1580). No campo teatral nunca ouve uma libertação completa de suas raízes medievais nem de sua origem comum com o teatro espanhol. Nesse campo merece destaque Gil Vicente (1470? – 1536?), o criador do teatro nacional português e autor de uma vasta obra.

CONCLUSÕES

Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração que circunscrito por determinações próprias. O tempo e o espaço tornam-se os fatores primordiais para que o autor faça com que o leitor viaje em suas idéias. E o que encontramos nas obras dos autores então pesquisados?

Para Nicolau Sevcenko o Renascimento é um todo e múltiplo que atinge os nossos dias na rica variedade de suas manifestações e na luta pela liberdade. Assim, existem os sucessos e os fracassos. A técnica, sensualidade, o misticismo, a angústia da fé, a autodisciplina, o controle nacional, o civismo, o poder, a observação e a análise profunda, o furor, a ironia, o delírio condenatório e a visão apocalíptica sempre existirão. Cabe as gerações posteriores fazer a seleção do que seja mais representativo do movimento. Contribuindo com a experiência da cultura humana suas complexidades devem ser vistas como uma raiz da consciência moderna. Deve haver um espaço para todos os sentimentos e busca de um ideal e, acima de tudo, ousar.

Nicolau busca em sua obra fazer com que, imbuídos de um sentimento crítico, possamos fazer análises entre o passado e o presente. E nessa busca analisar aquilo que for de mais proveitoso.

Cláudio Vicentino, apesar da sua obra ser bem clara e objetiva, coloca os fatos dentro de seu próprio tempo sem mencionar sua relação profunda com a atualidade. Ao falar dos grandes acontecimentos, seja ele científico, religioso, artístico, etc., retrata o artista num ato minucioso. Relata cada fato separadamente (Renascimento científico, Renascimento e a música, etc.) e não num todo como faz Nicolau Sevcenko. Não deixa transparecer o seu lado crítico em relação à História, passa todo o conteúdo numa visão totalmente objetiva e fornecedora de conhecimentos.

Em alguns momentos, como as fazes do Renascimento, por exemplo, o tempo e o espaço dos acontecimentos não coincidem entre os dois autores. Um exemplo muito claro disso, é quando se trata dos assuntos da divisão das fases do Renascimento. Um deles não soube bem em que tempo e espaço se localizou Leonardo da Vinci dentro do movimento e, sobretudo, na história. Para Cláudio Vicentino Leonardo da Vinci fazia parte do Quatrocento se estendendo pelo Cinquecento. Na obra de Nicolau, apenas o Cinquecento foi mencionado atribuindo a Leonardo da Vinci como um grande acontecimento desse período. Em se tratando do Trecento, Nicolau apresenta o surgimento da paisagem. Vicentino, demonstra o fato através da informação como fonte de dedução ao leitor do tipo de pintura (São Francisco pregando aos pássaros – Giotto). Ambas as obras apresentam pontos importantes do movimento renascentista. Alguns citam fatos que o outro, talvez, não tenha achado que seria importante ser mencionado ou, ainda, por falta de espaço.

Talvez pelo fato de que o Renascimento seja apenas uma das partes de um todo na obra de Vicentino, manifesta-se de maneira resumida dentro dos fatos históricos e dá grande ênfase a vida e as obras dos pensadores, artistas e intelectuais do movimento.

Nesse ponto, ambos também são bem opostos, pois Nicolau não fala detalhadamente da vida de cada um, mas apresenta seus principais feitos e procura mostrar mais as causas, os fatos e as conseqüências dos acontecimentos históricos dentro de todo o Renascimento.

Ambos autores merecem respeito ao mencionarmos seus nomes então como grandes historiadores e suas obras são de grande utilidade para nossa cultura, mas a análise crítica deve estar além dos nossos olhos para que saibamos a maneira mais conveniente em aprimorar os nossos conhecimentos.

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