Declaração de Guerra à Violência

Indiscutivelmente, existe uma vocação nacional de se deixar negligenciar quanto a prevenção, acumulando conflitos de toda ordem, para justificar uma posterior medida radical autoritária, punitiva e abusiva, na conquista de notoriedade, mostrando-se salvador da pátria, mesmo que seja só durante a falação, a retórica. Diante das negligências para com a segurança do cidadão, quando a situação atinge o caos, os governos, pressionados pela opinião pública representada pela posição da Imprensa brasileira, e num momento de uma infeliz “lucidez pressionada”, demonstrando total despreparo e desconhecimento dos fatos declaram “guerra à violência” pensando que atingirá o alvo certo. Desconhecem que a violência não tem inimigo posicionado do outro lado de uma trincheira capaz de viabilizar uma batalha fácil que se possa vencer pela verbalização da tal “tolerância zero” e nem por balas disparadas. Infelizmente, a violência ainda não tem o seu elemento predador. A violência é um processo reacionário decorrente da negligência acumulada com descasos em todas as áreas da atividade humana e que a inversão da tendência não se alcança com nenhum grito de guerra. Declarar guerra, superdimensiona o adversário que pode estar nas omissões do Estado, gerando resistência e tiroteio do possível lado oposto, podendo torpedear o governo. Declarar guerra à violência é diferente de declarar guerra ao Aedis Egiptys, pois as armas são diferentes. Declarar guerra utilizando a Polícia é fazer uso das armas, é estimular o aparelho policial a disparar contra civis e outros inocentes, é apoiar a arbitrariedade justificando pela morte dos bandidos, é retirar a polícia do seu papel preventivo e desviar para o combate pesado, é embrutecer a pessoa de cada policial e deturpar sua identidade como um agente da lei e da figura humana que representa. Declarar guerra à violência é querer corrigir com tiros, aquilo que poderia equacionar com as armas da prevenção. Em fim, era como se tivesse que matar uma população para exterminar uma bactéria, assemelha-se à máxima que diz: “matar o boi para se livrar do carrapato”. Melhor será identificar as trincheiras que se mostram fortalecidas pelos descasos gerando violência e procurar transpô-las sem ameaças de bombardeios, mas como estratégias políticas maiores.