DEPOIS DO CARNAVAL

Não é nenhuma novidade que o carnaval movimenta o Brasil. Não há festa semelhante que seja capaz de transformar tanto dinheiro em lixo alegórico nem trazer a tona tantas barbaridades sexuais e criminosas. Esqueça os discursos de manifestação da cultura e fortalecimento da imagem institucional da nação. Carnaval é a farra mais socialmente inconsequente e ecologicamente incorreta jamais vista. É quando um país pobre gasta o que não tem para exibir uma imagem distorcida da alegria de seu povo. Pois o verdadeiro sentimento de felicidade brasileira, não está na liberação coletiva de instintos sexuais reprimidos nem na capacidade de pagar mico em via pública travestido do que nunca sonhou para si próprio. A verdadeira felicidade brasileira reside na satisfação de um povo trabalhador e honesto que sabe enfrentar as adversidades da vida com coragem e alegria. O verdadeiro jeitinho brasileiro é a capacidade de superação que nosso povo tem pela fé em Deus e coragem para encarar o dia a dia, não a fuga da realidade ou o apetite desordenado por desfrutar do que não conquistou.

Quem disse que o impacto desta festa é benéfico a nação? Só as toneladas de lixo produzidas são problema suficiente para uma consideração mais racional da sua viabilidade, se é que ainda queremos o desenvolvimento sustentável. Pois ao que parece quando se aproxima desta semana o país magicamente esquece de seus desafios. Nunca vi tanta gente endividada contrair empréstimos para literalmente torrar na folia. Como se um pouco de privação com vistas a estabilidade financeira jamais fosse admissível sob pena de se privar da felicidade eterna. Alguém deve estar ganhando com tanta irresponsabilidade administrativa. Aliás, plantaram na cultura nacional a crença de que o ano só começa depois do carnaval. Como se durante você estivesse autorizado a acabar com o seu ano. Sem falar nos já incontroláveis índices de criminalidade que por maior que seja a competência de nossas forças de segurança, nestes dias eles também "magicamente" disparam. E o condenável sexo sem compromisso então? Deste nem se fala. Só é permitido defender a "lei da camisinha". Use camisinha e tá tudo resolvido. Tá resolvido o adultério, a pedofilia, a multiplicidade de parceiros e o sexo a troco de banana. É carnaval, ninguém é de ninguém mesmo. Depois quem vai resolver os casamentos arruinados pela infidelidade conjugal, a gravidez precoce e indesejada de adolescentes e as feridas da alma provocadas por uma noite solitária no tribunal da consciência. Os preservativos arrebentados no calor da festa certamente não resolverão muita coisa.

E o culto a sensualidade que há nesta festa, alguém já se perguntou como pode acontecer? Todo produtor de filme sabe que se sua obra contém cenas eróticas deverá recomendar o limite mínimo de idade (censura). Também sabemos que se algum tarado insano despir-se em praça pública será logo preso por atentado violento ao pudor. Sabemos que a sensualidade é algo sagrado e muito íntimo, aliás é poristo que nos vestimos. Todo dono de banca de jornais sabe que não deve vender revistas pornográficas para crianças. Mas então por quê no carnaval todo esse respeito com o corpo vai pra baixo do tapete? Como pode uma festa ter poder de pisotear os restolhos do ordenamento moral de nossa nação?

As inadmissibilidades não param aí, e o trânsito por exemplo? No último carnaval, era cedo da tarde quando demorei quase meia hora para percorrer cinco quilômetros. E isto que estou numa cidade de cerca de 200.000 habitantes. Se você está numa metrópole com certeza seu engarrafamento foi absurdamente maior. É claro que dirigir é uma necessidade para nós terráqueos do século XXI, mas imagine o mesmo engarrafamento sendo composto de motoristas bêbados, drogados, irritados e desligados da sua responsabilidade cívica. Este é o trânsito "normal" do carnaval. É quando muitas pessoas saem de casa com o propósito: "hoje eu vou beber até derramar, não me privarei de nada!" Muitos não se privarão nem da morte em acidentes de trânsito perfeitamente evitáveis por motoristas sóbrios acostumados as boas práticas de direção defensiva. Pena que muitos inocentes também serão arrastados tragicamente para o mesmo fim pela irresponsabilidade daqueles.

Na verdade o mais grave é quando a festa acaba. Entre mortos e feridos voltaremos a realidade da rotina de cada dia. Muitos com a cabeça cheia de álcool e o coração vazio de paz. Outros com o corpo cheio de sequelas e tantos outros com o sangue infestado de HIV. As histórias de desencontros e frustração permearão os lares e muitos casados já não se sentirão mais casais. A vida trará a tona os desafios do hoje e os problemas do ontem que foram negligenciados em favor de um pouco de folia. Porque paz, quem tem não precisa de subterfúgios. Pergunte a quem tem Jesus Cristo em sua vida, estes sim não fazem coro com a multidão de inconsequentes pois sabem o caminho da fonte de prazer e felicidade.

Será que a tal festa vale mesmo a pena? A vida não começa só depois do canaval.

Heleno Pedroso
Enviado por Heleno Pedroso em 08/07/2012
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