Sobre mitos, lendas e a infância desvalida

Ainda me lembro com saudade das histórias de Saci, da Cuca, de Lobisomem e muitas outras que povoaram o imaginário infantil de diversas gerações. Quantas vezes, ao me deitar pra dormir, olhei debaixo da cama para me certificar que não tinha nenhum ser fantástico tentando me assombrar.

Falando em assombrar, como era gostoso ouvir as histórias que meu avô e outros familiares contavam a respeito de fantasmas que amedrontavam os transeuntes no escuro das estradas da zona rural. São os famosos causos de assombração, que embora sejam hoje mais cômicos que assustadores, nos tempos antigos causavam muito temor principalmente nas crianças.

Passou aquele tempo bom no qual crescíamos com brincadeiras sadias, sempre exercitando a nossa capacidade de imaginar, de interagir com a natureza, com os animais, com o meio em que vivemos. Belas e fantásticas histórias ouvíamos e contávamos. Tudo acontecia no seu devido tempo e nos era permitido viver num mundo sem malícia, onde o amadurecimento era gradual e efetivo.

Com a massificação da informação, nem sempre crítica e construtiva, todo esse cenário foi mudando drasticamente, de um modo nada benéfico principalmente para as nossas crianças. Não existe mais esse clima de conto de fadas. Os heróis dos pequeninos são em sua maioria americanos ou japoneses, nada se aprende em relação à rica e ambiente cultura brasileira. Pouco ou quase nada em matéria de espírito patriótico é impingido às novas gerações.

Agravante de proporções abismais nesse caso é uma certa “emancipação precoce” das crianças, imposta não só pela mídia, mas pelo comportamento das famílias que há muito tempo já não são as mesmas. Tudo é reflexo de uma sociedade onde os valores estão corrompidos, onde é natural essa “queima” de fases, onde criança faz papel de adulto e todo mundo acha natural. E a erotização de todo o ambiente em que vive a criança desagrega ainda mais a infância dos valores essenciais para um crescimento saudável, seja física ou psicologicamente.

Teremos premissas de um futuro menos sombrio quando os pequeninos saírem da frente do computador e voltarem para os parques. Quando o videogame der lugar ao futebol com os amigos. Quando a erotização da infância der lugar às brincadeiras de boneca. E quando mitos, lendas e uma infância sadia voltarem a fazer parte da sociedade. O caminho para o futuro consiste em atualizar valores do passado, sem no entanto, deixar de viver um presente glorioso.

(*) Léo Guimarães é Jornalista, Servidor Público Municipal e acadêmico do Curso Técnico em Serviços Públicos pelo IFPR.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 10/03/2012
Código do texto: T3545851
Classificação de conteúdo: seguro